As mbl Radialstrahler (que significa emissor radial) são as únicas colunas de som verdadeiramente omnidireccionais, porque as unidades activas de agudos, médios e médio-graves funcionam segundo o princípio de ‘esfera pulsante’.
O motor do altifalante está montado na horizontal e, em vez de fazer vibrar um cone, exerce pressão sobre um ‘bolbo’ circular composto por ‘folhas’ ou lamelas verticais (de fibra de carbono no tweeter e médio, e alumínio no médio grave – ver foto), cujo movimento emite som com uma dispersão de 360 graus, em espaço aberto, sem caixa de ressonância.
Este conjunto de 3 altifalantes alienígenas está apenas protegido por uma espécie de ‘tenda’ transparente, tipo pagode, suportada por uma estrutura metálica, que assenta sobre uma caixa, com dois pórticos reflex frontais, que alberga um altifalante dinâmico convencional de subgraves (abaixo dos 100Hz).
O carácter sonoro de cada uma das unidades pode ser ‘afinado’ mediante o posicionamento de ‘shunts’ dispostos num painel posterior da caixa de graves. Assim, pode optar por ‘Smooth’ ou ‘Attack’ no grave; ‘Natural’ ou ‘Rich’, nos médios; e ‘Smooth’, ‘Natural’ ou ‘Fast’, nos agudos.
A diferença é imediatamente óbvia, talvez até demasiado ‘óbvia’, sobretudo a diferença entre ‘Smooth’ e ‘Attack’ no grave, sendo que o primeiro é mais adequado para música acústica, clássica, por exemplo; e o segundo para música electrónica, pois o grave ganha mais tensão em detrimento da extensão. Depois de algumas experiências, optei por médios em ‘Rich’ e agudos em ‘Smooth’. Quanto ao grave, ‘Smooth’ dá-lhe mais ‘substrato’ e melhor ‘fundação’, apesar de, por vezes, soar demasiado rico.
É pena as 101 E MkII não terem uma versão com graves activos (embora sejam alimentados em separado), como acontece com as inacreditáveis 101 X-treme (+ de 200 mil euros), compostas por duas 101 E montadas em ‘tandem’ invertido, com coluna activa de graves externa, composta por 3 módulos (ver vídeo em cima), e que são um dos ex-libris do HighEnd Show, de Munique, sempre com sala cheia, porque as pessoas ficam por lá horas embasbacadas a adorá-la. Ir a Munique e não ouvir as X-treme é o mesmo que ir a Roma e não ver o Papa.
Apesar de custaram na ordem dos 60 mil euros, as 101 E são mais ‘modestas’ e discretas, isto na medida em que uma coluna composta por ‘esferas pulsantes’ pode alguma vez ser discreta, mas oferece o fundamental da tecnologia radialstrahler, ou seja um ‘som irradiante’ – e radioso – que nos obriga a redefinir o conceito de altafidelidade na reprodução de música gravada.
…um ‘som irradiante’ – e radioso – que nos obriga a redefinir o conceito de altafidelidade na reprodução de música gravada…
A minha relação com as mbl vem de longa data. Aliás, a primeira versão comercial chegou a ser exibida num audioshow, em Lisboa, na altura pelo João Mendes. E lembro-me que um audiófilo invisual chegou acompanhado por um amigo, entrou, sentou-se ao meu lado, e pouco depois declarou: ‘Este é o som mais parecido com o que eu oiço na Gulbenkian’. Ora há quem diga que muitos audiófilos ‘ouvem com os olhos’, mas este não teria sido o caso.
Nos últimos vinte anos, terei ouvido as mbl dezenas de vezes, sempre em locais diferentes. E tem sido sempre um prazer. Mas é preciso percebê-las.
De facto, as mbl 101 E reproduzem o som de uma maneira diferente da que estamos habituados a ouvir. Sendo omnidireccionais, produzem reflexos secundários em todas as paredes à sua volta, incluindo o tecto e o chão.
A sua colocação na sala é, pois, crítica, não tanto porque afecta a imagem estereofónica, que é mais ampla e profunda mas menos ‘focada’ que a de colunas convencionais, mas porque pode excitar certos modos de baixa frequência, tornando o som demasiado pesado, excessivamente cheio e encorpado, ou os instrumentos e vozes tornam-se ‘bigger than life’.
Por vezes, bastam alguns centímetros para encontrar o equilíbrio perfeito. Já o ponto de escuta, a chamada ‘sweet spot’, não é tão crítico, e é até bastante ‘alargado’, não nos obrigando a ficar sentadinhos no lugar. Pode andar pela sala, sem que isso afecte muito a tonalidade e a estabilidade.
Por outro lado, há a ideia errada de que são frágeis. Ora as mbl tocam bem alto e, aliás, soam até melhor a níveis elevados, desde que disponha de um amplificador com potência, pois são pouco sensíveis e precisam de muita energia.
De uma maneira geral, os pontos fortes são a naturalidade do som e a forte sensação de presença física, num palco holográfico com projecção verdadeiramente 3D.
…os pontos fortes são a naturalidade do som e a forte sensação de presença física, num palco holográfico com projecção verdadeiramente 3D…
De tal forma que a reprodução da ambiência e da reverberação, e o ‘decay’ das notas é absolutamente fascinante, assim como o timbre dos instrumentos. Oiça a voz gravilhenta e quente e o som carnudo do saxofone de Momo Wandel Soumah, no vídeo que lhe oferecemos.
Há momentos em que a presença do saxofone chega a assustar (1:30 e seguintes), como se saísse de rompante de dentro daquele balão. E a definição percutiva dos tambores africanos é impressionante, mesmo no You Tube. Não percebo uma palavra que Momo Wandel canta, mas isso já não é culpa das mbl, pois trata-se de um dialecto da Guiné Conacri, embora tenha passado dois anos ali ao lado na Guiné Bisssau.
Na audição crítica, que fizemos no auditório da Ajasom-Damaia, com a colaboração de Nuno Cristina, cuja voz se ouve no início do vídeo comentando o facto de ‘Félenko Yéfé’ ter sido gravado ao vivo e ao ar livre, foi utilizado um sistema integralmente mbl, composto, além das 101E MkII, por leitor N31 CD/DAC , amplificador integrado N51 e o amplificador estéreo N21 (para os graves), com o preço unitário de cerca de 15 mil euros. N conjunto, portanto, cerca de 150 mil euros de equipamento, incluindo cabos, mesas e suportes.
Esta é uma audição imprescindível e urgente, pois nunca ter ouvido as mbl 101 E é uma falta grave na cultura audiófila de qualquer pessoa. Depois de as ouvir, vai perceber...
Galeria com fotos individuais do sistema