They put a little blue in everything they do. A frase publicitária não é da McIntosh, mas aplica-se bem. As janelas azuis dos vuímetros são uma das imagens de marca dos produtos da McIntosh Labs, famosa pelos seus amplificadores a válvulas, e não só.
A McIntosh, que exibe com orgulho na lapela “manufactured in USA”, já passou por muitas mãos (teias que a Bolsa tece). Quando eu visitei a fábrica, em Binghampton, NY, já lá vão uns 25 anos, pertencia à japonesa Clarion, agora pertence à mesma empresa proprietária da Sonus Faber, Audio Research e Wadia, que tem vindo a fazer uma aposta muito clara na adaptação de todos os produtos do seu portfolio aos tempos modernos, sobretudo no design de Livio Culcuzza, sem perderem a identidade conferida pela patine audiófila.
O McAire manteve as linhas clássicas, que o identificam de imediato como um McIntosh: o formato da caixa, os “olhos azuis”, até os botões! Não fora o preço elevado, seria o presente ideal para a esposa ou para o filho/a de um audiófilo fiel à marca. Que os há, como há adeptos ferrenhos de clubes de futebol. De facto, à primeira vista quase não se distingue de um dos modelos McIntosh estéreo a transístores.
Uma observação mais atenta, contudo, revela duas pequenas grelhas amovíveis (ímans), que escondem colunas de som em miniatura encastradas, com altifalantes de médios de duas polegadas e tweeters de ¾ de polegada. Tão pequenas, aliás, que damos connosco a perguntar como é que sai dali tanto som. O segredo está debaixo da capa: dois woofers de 4 polegadas completam a gama áudio.
O amplificador é de 25-watt e chega bem para as encomendas. Não há referência sobre se é de Classe D ou B, mas os 16 quilos de peso pendem para o B, embora o funcionamento a “frio” seja mais do tipo D.
Podia desmontá-lo, ou informar-me melhor, mas o meu objectivo não era fazer um teste em profundidade, apenas saber se cumpria a função da modernidade: o McAire é da família iApple, logo é compatível com tudo o que tenha “i” no nome: iPod, iPad, iPhone, e funciona por Wi-Fi com tecnologia AirPlay, cuja qualidade de som é muito superior ao Bluetooth. Claro, que também pode ligar uma “dock” via USB.
Eu ainda sou do tempo do “a-e-i-o-u”, pelo que não consegui pô-lo a tocar via iPad. Pensei: tás a ficar ultrapassado, pá! Detesto ler manuais, até porque são quase sempre escritos para quem não precisa deles para começar. Portanto, optei pela “cópula” clássica, na posição do missionário, ou seja, liguei-o por meio de cabos RCA a um leitor-CD. Achei o som passable. Quando se trata de McIntosh, as minhas expectativas são talvez demasiado elevadas.
Deixei-o em banho-maria, e fui ouvindo CD sem grande entusiasmo mas também sem ofensa auditiva (nota-se que houve cuidado no “voicing”), até que o meu filho veio cá casa, e em 15 minutos casou e deu a benção ao McAire e ao iPad.
Caramba, percebo agora o entusiasmo da crítica americana, quando o McAire foi apresentado na CES 2013.
O McAire foi afinado para o iTunes, que “resampla” tudo para o lossless code AAC, incluindo resolução CD-Standard (só não aceita ficheiros HD) e tocou às mil maravilhas via Wireless todo o conteúdo musical de um iPad, além de todo o vasto universo musical armazenado no You Tube e na Vimeo, com destaque para os meus próprios videos.
O que prova que um bom algoritmo pode compensar as limitações de resolução: o som ganhou corpo, amplitude, poder e até, pasme-se!, ambiência e imagem estereofónica, se considerarmos que as colunas estão a 20 centímetros uma da outra...
Nota: o som que se ouve nos videos foi registado com o microfone incorporado da minha DSLR e é de má qualidade e apenas ilustrativo: para acreditar vai ter de o ouvir ao vivo!...
Maravilhoso mundo novo este, pensei. Andei com o iPad pela casa toda, mudava as faixas, regulava o som, enquanto o espaço se enchia de música. Não daquela que me obriga a estar sentadinho na sweet spot com muita atenção para não perder pitada. Da outra, da que dá alegria ao lar, e nos permite ir fazendo outras coisas úteis.
Há quem se queixe de que via wireless o McAire às vezes sofre de soluços. Posso garantir-lhe que isso depende da qualidade da rede WiFi e não do McAire.
E, quando a minha mulher, que adora o seu iPad, se aproximou curiosa e interessada, ainda temi que ela dissesse: quero este brinquedo, fica lá tu com os “monstros” no estúdio, e olha aproveita para lhes limpar o pó! Mas ela, que até gosta de ouvir os “monstros”, só queria brincar um bocadinho com este bebé da McIntosh. E ficou encantada. Vá lá que o próximo aniversário é só para o ano...
O brinquedo custa, hélas, 1 600 euros! É o preço a pagar para ter ter um McIntosh dos tempos modernos. Não admira que o McAire seja tão disputado pelos revistas americanas de gadgets de luxo e pela imprensa em geral, da Rolling Stone ao New York Times, onde, aliás, custa 3 000 dólares, pelo que o preço, que me foi adiantado pelo distribuidor Ajasom, é muito bom tendo em conta a taxa de câmbio e a origem.
O McAire é o símbolo do novo Hificlube, moderno e funcional com base na melhor tradição audiófila. É preciso estar atento ao presente, sem esquecer o passado, para ganhar o futuro. A McIntosh sabe-o. Eu também.