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McIntosh ML1 II: vintage moderno

McIntosh ML1 II - system.jpg

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Em 1970, Roger Russell, o então engenheiro-chefe da McIntosh, projetou a McIntosh ML1, uma monitora de 4-vias, com um woofer de 12 polegadas, montado numa caixa fechada, muito antes de eu ter iniciado a minha carreira como crítico de áudio, embora eu já me dedicasse a construir os meus próprios equipamentos de som, com base em componentes que mandava vir à candonga de Inglaterra.

Foi esta coluna que esteve na base das novas ML1 II, que fui esta semana ouvir na Ajasom, no que foi também a antestreia da apresentação do gira-discos analógico de suspensão magnética Esoteric Grandioso T1, com uma célula Murasakino Sumile, que também tive oportunidade de ouvir a tocar maravilhosamente bem.

Esoteric Grandioso T1

Esoteric Grandioso T1

As ML 1 II não são novidade para mim. Ouvi-as em 2023, em Munique, no Hotel Kempinsky, na apresentação à imprensa europeia, tendo feito este registo vídeo, que já tem 13K visionamentos, embora o registo que fiz agora na Ajasom tenha um som muito melhor.

‘Design’ inspirado no passado

O novo projeto revivalista manteve as dimensões do original e a caixa fechada, mas acrescentou-lhe uma base de madeira, com dois pés, que afasta o altifalante de 12 polegadas do chão e inclina a coluna um pouco para trás para obter melhor acoplamento com a sala e alinhamento geométrico com os restantes altifalantes de médios e agudos.

A moldura da nova grelha é fabricada em nogueira natural, e é a mais pesada que já tive na mão. O tecido é, ao mesmo tempo, transparente, como uma teia-de-aranha, e resistente ao escrutínio de dedos e animais de estimação curiosos. Ao contrário das grelhas, as caixas são fabricadas em madeira prensada de alta densidade e depois folheadas a nogueira, mas mesmo assim não deixam de pesar mais de 30 quilos cada uma! Não são, pois, para colocar na prateleira. Os bornes permitem a bicablagem (biamplificação).

Não se pode dizer que é uma coluna bonita, com elevado fator de aceitação feminina, como as Kharma, por exemplo, que são de outro campeonato, e também estavam na sala em exibição estática. Mas têm a classe que a intemporalidade da arte artesanal lhes confere. E fazem honra ao nome que exibem no enorme logótipo da marca em alumínio cravado na base: McIntosh!

Painel simétrico de altifalantes, montados numa placa de alumínio aparafusada ao baffle.

Painel simétrico de altifalantes, montados numa placa de alumínio aparafusada ao baffle.

Perfeição vintage

Apesar do ‘design’ datado (e não é por isso que são consideradas vintage?), as McIntosh ML1 II são tecnicamente muito modernas, sobretudo na qualidade dos altifalantes utilizados. O woofer de 12 polegadas (aprox. 30 cm), por exemplo, é uma obra-prima de engenharia, com cone de carbono e um motor que utiliza a tecnologia Magnetic Circuit Design, que reduz a distorção, aumenta a eficiência de dissipação de calor, suportando 600W de potência. E se você cometer alguma loucura, o fusível automático dispara para as proteger até arrefecerem.

O impressionante painel simétrico de altifalantes, montados numa placa de alumínio aparafusada ao baffle, também difere da coluna original. Hoje há dois médio-graves de 4 polegadas (10,16 cm) com cones de polipropileno, onde antes havia um único altifalante de 8 polegadas (20,32 cm) com cone de papel; um médio-alto de cúpula mole de 2 polegadas (5,08 cm); e um tweeter com cúpula de titânio. As frequências de corte são aos 180, 500 e 4500 Hz.

Pôr isto tudo a trabalhar como um todo uniforme é obra, como percebi durante a audição. E conseguir obter uma imagem estereofónica coerente e estável é ainda mais desafiante. A McIntosh ML1 II sai com distinção de ambas as tarefas.

O sistema montado no auditório principal da Ajasom-Damaia

O sistema montado no auditório principal da Ajasom-Damaia

A audição na Ajasom - Damaia

No auditório da  Ajasom, o sistema em audição era composto por:

  • Gira-discos – esoteric t1 grandioso + murasakino sumile
  • CD – esoteric k1x se grandioso
  • Streamer – esoteric n-01xd
  • Clock – esoteric g-02x
  • Pré – mcintosh c12000 75th anniversary
  • Power - mcintosh mc1.25kw 75th anniversary
  • Colunas – mcintosh ml1 mkii
  • Cabos power – shunyata sigma e alpha
  • Cabos sinal – furutech das4.1 e kimber select
  • Mesas – bassocontinuo aeon x e aeon 2.0

Montei o gravador Nagra SD na posição que se vê na foto, e fui ouvindo faixas servidas ora por Jorge Mendes, ora por Nuno Cristina, umas que conheço bem e outras nem por isso. As ML1 II estavam a tocar sem grelhas, embora tenham sido afinadas para tocar melhor com as grelhas montadas. A resposta com grelhas é mais linear entre os 1000 e 2000Hz, talvez porque a moldura serve de guia de onda.

O grave é seco, controlado e definido, sem os excessos dos sistemas reflex, e com boa extensão. Mas nas faixas mais conhecidas, como as que registei no vídeo, senti a falta de um pouco mais de corpo nos registos médio-graves. Ou, se preferir, mais peito na voz de Carlos do Carmo; e mais corneta no saxofone de Gene Ommens.

Nuno Cristina fez algumas alterações no sinal fornecido ao Streamer Esoteric N-01DX e o som melhorou um pouco; Jorge Mendes fez ajustes de poucos centímetros na colocação relativa das colunas e o som melhorou ainda mais. Ou então foi o meu cérebro que se foi adaptando à acústica da sala e ao som das ML1 II. Mas se as ML1 II tivessem um igualizador externo associado, como tinham as originais, eu estaria tentado a ‘puxar’ um ou dois dB aos 370Hz.

Ao contrário dos humanos, os gravadores não têm estados-de-alma. O que fica registado é a verdade despida de preconceitos.

O mais extraordinário é que tanto o ‘peito’ de Carlos do Carmo, como a ‘corneta’ do saxofone de Gene Ommens aparecem corretamente registados na gravação, mesmo sem igualização. Isto para não falar do impacte e dramatismo da percussão e voz de Dominique Fils-Aimée, que está lá todo. Talvez porque, ao contrário dos humanos, os gravadores não têm estados-de-alma. O que fica registado é a verdade crua e despida de preconceitos. Ou seja, eu senti a falta de algo que afinal até pode nem estar na faixa original.

Vídeo da audição

Nota: veja em 4K fullscreen e oiça com auscultadores

Truques da mente

A Ajasom optou — e bem — por não tornar a sala demasiado surda (leia-se tratada em demasia) para evitar grandes diferenças entre o que se ouve no estúdio e na casa do cliente. Assim, a ligeira reverberação da sala ouve-se também na gravação, claro. Sobretudo se ouvir com auscultadores. Quando estou no auditório da Ajasom, eu não oiço do mesmo modo, porque o meu cérebro adapta-se rapidamente à reverberação; ou melhor, integra-a como parte indissociável do processo musical em curso, e deixa-me concentrar no tom e no timbre, elementos que, como vimos, são muitas vezes mais subjetivos na apreciação.

Aproveite e vá ouvir — sem preconceitos — as colunas McIntosh ML1 II na Ajasom com os seus ouvidos ligados ao seu cérebro. E se não pode levar a sua sala consigo, leve as ML1 II à sua sala. Provavelmente, já não saem de lá…

Ficha Técnica

  • Sensibilidade: 85dB
  • Impedância: 8 Ohms
  • Resposta: 27Hz - 45kHz
  • Potência: 75 - 600W
  • Altifalantes: 1x 3/4"; 1x 2"; 2x 4"; 1x 12"
  • Crossover: 180Hz; 500Hz; 4.5kHz
  • Dimensões: 381 x 664 x 340mm (LxAxP)
  • Peso: 30Kg
  • Preço: 17.110 €

 

Para mais informações: AJASOM

McIntosh ML1 II system

Esoteric Grandioso T1

Painel simétrico de altifalantes, montados numa placa de alumínio aparafusada ao baffle.

O sistema montado no auditório principal da Ajasom-Damaia


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