Conhecem aqueles ovinhos de chocolate, tipo “Kinder ”, que se dão às criancinhas, e têm uma surpresa lá dentro? O Meridian Explorer USB DAC tem formato oval e também tem uma surpresa lá dentro: o som sabe a chocolate!
Qual o audiófilo que já não sonhou acordado com um Meridian 808? Ah, mas o tamanho, o peso, o preço, a... esposa, que tem outras prioridades. Pois agora pode dizer-lhe com propriedade: Querida, encolhi o Meridian 808!
O Meridian Explorer completa a recente trilogia de testes de USB DACs portáteis, que começou com o delicioso Audioquest Dragonfly, a que se seguiu o tão badalado Micromega MyDAC. Têm características técnicas e nível de performance muito semelhantes, antes só possível de obter na categoria de pesos-pesados, e custam todos eles menos de 300 euros. São, portanto, a prenda ideal nesta Quaresma de crise, quando só nos resta a fé em Deus, depois de termos perdido a fé nos homens, sobretudo nos políticos.
Mas também têm características e personalidades muito diferentes, que lhes permitem cumprir a mesma função básica de converter para sinal analógico ficheiros musicais em formato digital, via USB, adaptando-se à diversidade de necessidades e gostos do mercado.
Assim, iremos estabelecer alguns pontos de comparação para o leitor saber o que os aproxima e o que os separa. Sugiro, contudo, que leiam primeiro os testes dos outros USB DACs referidos, já publicados no Hificlube.net
Permito-me especular que o Explorer é o resultado da colaboração da Meridian no projecto Pono, de Neil Young, tal a qualidade tecnológica e de construção.
MERIDIAN EXPLORER USB DAC
Um pequeno passo para a Meridian, um grande passo para a audiofilia
A small step for Meridian, a great step for audiokind
Há mais de um mês que vivo com o Explorer. Podia ter sido dos primeiros críticos a publicar um teste, alegando o exclusivo, ao mesmo tempo que choviam reviews nos quatro cantos do mundo – todas exclusivas, claro.
Mas a idade ensinou-me que não vale a pena correr. Há sempre quem chegue antes de nós. Noutra língua, é certo, mas o inglês é a língua da globalização e já não estamos no Séc. XVI, quando Portugal dominava o mundo.
A opção por apreciar um produto com tempo e gosto, at my own leisure, pode ter tido na sua origem uma génese emocional. Neste contexto, surge-me como a mais racional. Podia ter publicado ontem, publico hoje, so what?!...Quanto mais oiço, mais gosto: ganha o produto e ganha eu.
O Explorer é pouco maior que um isqueiro descartável, até tem o mesmo formato oval (elíptico, de facto). E tem o mesmo efeito de acender a música, sobretudo os ficheiros de alta resolução disponíveis na HD Tracks e afins. É fabricado em alumínio agradável ao toque.
Sendo muito portátil, embora a ideia não seja andar com ele na mão, dá-nos uma boa sensação física no contacto inicial – e fica morninho quando se puxa por ele. Ao contrário, o Pono, cujo desenvolvimento, já especulei, pode estar na génese do Explorer, é maior, de secção triangular, como uma tablete da Tobleron. E amarelo, com mostrador azul, by Jove!, o Neil Young deve ser do Estoril-Praia...
A elevada sofisticação tecnológica interna do Explorer, não se manifesta no exterior, que é de uma grande simplicidade.
Nos extremos opostos, um miniconector USB, como o utilizado nas câmaras fotográficas digitais; na outra ponta, o que parecem ser duas saídas analógicas (fixa e variável). Acontece que uma delas vem com uma tampinha de plástico e ilumina-se de vermelho por dentro...Porquê?, pergunta o leitor.
Uma é para os auscultadores com volume variável via software; a outra de linha é fixa para alimentar um prévio (não há o perigo de ficar surdo se se enganar no buraco quando ligar os auscultadores, porque é preciso um mini jack de 3,5 mm de dupla função, não incluído).
Esta ligação está assim iluminada de vermelho, porque é, ao mesmo tempo também (a first for me, nunca tinha visto) uma saída digital Toslink, limitada a 24-bit/96kHz (pode ser elevada até 192kHz por alteração do firmware) para quem pretender utilizar o Explorer como interface para um DAC externo, aproveitando o baixo jitter e a precisão dos “clocks” internos.
No dorso, além do logotipo, apenas 3 leds brancos (âmbar) que indicam a frequência de amostragem. Um led para 41,4/48kHz; dois para 88,2/96 kHz e três para 176,4/192 kHz.
Este emparelhamento de amostragens é meramente indicativo, pois o circuito de conversão utiliza “clocks” separados para os múltiplos de frequências relacionadas: 44,1/88,2/176,4 e 48/96/192.
Esta é apenas uma razão pela qual eu não aconselho a utilizar os programas de Media Server para “upsamplar” frequências de amostragem de factores diferentes: 44,1 para 96 ou 192, por exemplo. O múltiplo de 44,1 é 88,2, e assim por diante.
Aliás, obterá também bons resultados se utilizar apenas a frequência nativa de amostragem de qualquer ficheiro musical, incluindo MP3. O Explorer não é compatível com DSD, mas não me surpreenderia que, num futuro próximo, isso também seja possível, circunstância em que não teria concorrência directa no mercado.
I hope Bob Stuart reads this...
Tal como no Micromega MyDAC e o Audioquest Dragonfly, a entrada USB é assíncrona, e utiliza até o mesmo chip XMOS L1 do MyDAC. São, portanto, ambos de USB Classe 2 (até 192kHz e com um débito de de 480 Mb/s), enquanto o Dragonfly é de Classe 1 (96kHz). O DAC do Explorer é o famoso PCM 5102 de 24-bit/192kHz. A true Meridian product.
Se possui um Mac é só “atar e pôr ao fumeiro”. No meu caso, sirvo-me de um excelente portátil da Asus Windows PC, pelo que foi preciso instalar primeiro os drivers, disponíveis na página da Meridian. Siga as instruções para tornar o Explorer o sound device default do seu PC.
Se a sua única fonte é um computador, e não possui um Media Server, é fundamental dispor de um bom software. Os mais famosos, como o Amarra e o Pure Music, não são compatíveis com Windows, portanto a melhor solução é, sem dúvida, o JRivers, que utilizo com total satisfação, tanto com Audio como com Video .
O JRivers é compatível com “tudo o que mexe no reino digital”, incluindo PCM a 352,8 e 384 kHz; e ainda: DSD e DSD DoP!, o que, no caso vertente, não foi preciso por ser redundante: O J.Rivers avisa logo que o Explorer não é compatível se os ficheiros tiverem resolução acima de 192kHz...
O Explorer, tal como Dragonfly, foi concebido, na sua essência original, como um prévio portátil com USB DAC para ouvir ficheiros musicais digitalizados através de auscultadores. Já o MyDAC não tem entrada para auscultadores, é um USB DAC com prévio de linha, mas eu arranjei forma de ouvir um par de Focal Spirit One, ligado directamente às saídas de linha com um cabo baratucho duplo RCA/minijack.
A minha primeira experiência com o Explorer consistiu em tentar descobrir em que medida o som via Explorer era superior ao da entrada para auscultadores do meu Asus (que tem tecnologia áudio B&O Ice Power/Realtek).
E registei os resultados em video para os leitores tirarem as suas próprias conclusões, embora a diferença de qualidade seja evidentemente mais óbvia ao vivo.
Montei os Focal directamente sobre o microfone da camcorder (ver foto) e obtive os resultados que se seguem. De frisar que , em ambos os casos, o que se ouve no video é a versão em MP3 de alto débito dos mesmos originais em alta resolução. Apesar disso, a melhor qualidade do som do Explorer é audível, o que prova que não há nada como os “bons princípios”.
Com o Explorer, há mais carne analógica na típica estrutura óssea digital. O grave tem excelente recorte e prima mais pela definição e articulação que pelo poder, os médios são informativos e transparentes (muito boa a projecção e presença das vozes) e o agudo tem a doçura do chocolate, algo muito raro a este nível de preço.
A análise espectral de ambas as versões MP3 (as que se ouvem no video), são, contudo, praticamente idênticas à vista desarmada. Uma observação mais atenta revela que o equilíbrio tonal é ligeiramente diferente, o suficiente para se ouvir a diferença...
A TALE OF THREE USB DACS
Todos diferentes, todos iguais. E não se pode tratar de modo igual o que é diferente, nem de modo diferente o que é igual. É a lei da vida e do estado da arte a que nós chegámos. À chacun son goût...
Dragonfly
É um verdadeiro objecto de desejo. Só pelo requinte do jogo de luzes da libelinha, apetece comprá-lo para exibir aos amigos. Ultraportátil (com o tamanho de uma pendrive), é o ideal para utilizar em viagem (cabe no bolso da camisa). Não vai além dos 96kHz, não que os parentes lhe caiam na lama por isso; e o som, embora enérgico, de grande qualidade e com inusitado poder no grave para uma coisinha tão pequena, não tem a mesma densidade de informação nos registos médios; e o agudo é mais incisivo, isto quando comparado a posteriori, ainda que eu escreva de memória e possa estar equivocado (já devolvi o Dragonfly à Esotérico).
Em termos de concepção e design, continua a ser um marco da indústria audiófila digital na sua área específica, onde não tem concorrência directa.
MyDAC
Embora pequeno, leve e de fácil transporte, o MYDac não é propriamente portátil, até porque precisa de ser alimentado por corrente de sector. Digamos que é um mini desktop USB DAC, de 24-bit 192kHz, com um som delicioso, homogéneo e quente, sem perder emotividade e expressividade (notável sentido rítmico e volumetria), mesmo com ficheiros WAV de origem CD Standard e som de cinema em 2-canais.
Por outro lado, não tem indicador de frequência, nem entrada para auscultadores (o gémeo MyZIC tem essa função), ainda que tenha potência suficiente para alimentar um par de auscultadores como os Focal Spirit One até níveis limitados mas satisfatórios de audição. É, aliás, assim, que o utilizo no dia a dia. Se for preciso, o J.Rivers tem um prévio interno (e igualizador!...) que leva os Spirit One ao colo até onde for preciso.
Explorer
Um pouco maior que o Dragonfly e mais discreto e sóbrio na apresentação, o Explorer é eminentemente portátil (liga-se ao computador por meio de um mini cabo USB) e é fácil de transportar também em viagem (no bolso do casaco).
Tem potência para alimentar até auscultadores de baixa sensibilidade, e o som é simultaneamente refinado e articulado (tipicamente Meridian). O sistema de identificação por leds funciona na perfeição. Soa sobretudo bem com ficheiros de alta resolução a 88,2 e 96 kHz.
Não notei melhoria significativa com 192kHz, dependendo, claro, mais da qualidade da matriz original que dele próprio. Muitas destas matrizes não passam afinal de versões “upsampladas” de matrizes a 96kHz, que acendem os 3 leds do Explorer mas não lhe iluminam a alma. As matrizes a 176,4 kHz da Reference Recordings, contudo, não acendem só os 3 leds, incendeiam o som: a musicalidade, ritmo e transparência são notáveis a todos os níveis.
Fiquei com a agradável sensação de que o Explorer soará tanto melhor quanto melhor for, não só a qualidade da matriz, como a dos auscultadores. Gostava de o experimentar com uns Audeze ou Hifiman antes de o devolver, quanto mais não seja para eliminar do meu espírito esta dúvida existencial.
Se isso é importante para si, custam todos um tudo menos que 300 euros, sendo o Explorer apenas meia-dúzia de euros mais barato que os outros dois...