Read full article in English here
Neste breve comparativo estival, vamos colocar frente-a-frente dois modelos acessíveis: os Meze ALBA (com-fios) de excelente construção e qualidade de som; e os Cambridge Melomania M100 (sem-fios), com som igualmente bom e excelente versatilidade.
No mundo dos intra-auriculares (IEMs), escolher entre os modelos com e sem fios pode ser uma decisão complicada.
Antes de começarmos, permitam-me um desabafo, que é também um ‘disclaimer’: detesto andar com ‘supositórios’ acústicos espetados nos ouvidos, e embirro com os cabos sempre enrolados, quando retiro os auscultadores da bolsa de transporte. Já lhe aconteceu?
Por outro lado, parece que nunca encontro o adaptador adequado aos meus orifícios auriculares, e os IEMs ou caem dos ouvidos, ou custam a entrar e incomodam-me. Ora, se a boa colocação dos auscultadores circumauriculares já é importante; a boa adaptação dos IEMs ao canal auditivo é crítica, e pode ditar a diferença entre um excelente som (com graves) e um som de lata – daí que duas pessoas possam ter uma opinião completamente diferente.
Contudo, admito que são muito práticos, fáceis de transportar e o som que é possível extrair deles tem vindo a melhorar.
Não admira que, no High-End Show, de Munique, houvesse um espaço exclusivamente dedicado aos IEMs – e alguns são autênticos acessórios de moda de luxo, que custam mil ou mais euros, onde a concorrência é feroz.
Andei por lá uma hora a informar-me e a fotografar, mas raramente os experimento, pelas razões acima expostas; e também de higiene, embora as pontas de silicone sejam alegadamente substituídas entre audições para evitar partilha de material biológico, leia-se, cera.
‘Fiat lux, fiat sonus’!
O romeno é uma língua de raiz latina e ALBA significa alvorada, ou a ‘primeira luz’ da manhã. Assim, a Meze Audio parece ter adaptado a expressão bíblica ‘Fiat lux’ para ‘Fiat sonus’ com os auriculares com-fios Meze ALBA, os quais são uma versão acessível (€159) dos famosos ADVAR (€699), e por isso direcionada para os jovens audiófilos que ouvem música com ‘smartphones’ ou ‘dongles’ (DACs ultra-portáteis).
Meze ALBA
Os ALBA apresentam-se numa pequena caixa de cartão, que contém: cabo entrançado, com fichas de dois-pinos+Jack de 3,5 mm; adaptador USB-C para ‘smartphone’ com Jack fêmea de 3,5 mm (com ‘dongle DAC’), bolsa pequena de transporte em pele sintética, de onde o cabo sai todo emaranhado, como de costume, e pontas de silicone de vários tamanhos para adaptação ao canal auditivo. As fichas de dois-pinos dos cabos entram bem justas nos auriculares, mas receio que um puxão inadvertido as possa soltar ou mesmo quebrar.
Com um altifalante único de 10, 8mm e uma impedância de 32 ohms, os ALBA são fabricados numa liga leve de alumínio e zinco, pesando apenas 14 g sem cabo.
Os ALBA são brancos, leves e pequenos e encaixam bem nas orelhas, mas ao colocar o cabo deve ter o cuidado de o posicionar para dar a volta por cima do pavilhão auricular. Do mesmo modo, as pontas (ou almofadas) podiam ser de um material mais viscoso para não escorregar, porque o isolamento é fundamental para um melhor desempenho acústico.
IEMs simples
Gostei do som, notável para uns auriculares deste preço, mas os ALBA ‘são o que são’: IEMs com-fios, portanto, sem as complexidades de baterias, amplificação e redução de ruído; ou as vantagens de uma App de controlo. Têm, contudo, a vantagem da estabilidade e da ausência total de latência, o que é ideal para ver vídeos ou jogos de computador.
O pequeno ‘dongle’ do adaptador é uma ideia simpática, mas os ALBA só mostraram o que realmente valem quando os liguei ao incrível iFI Audio GO Bar ‘Kensei’ que, além da energia, fornece aos ALBA o reforço de grave (Xbass) e a espacialidade (xSpace) que lhes falta.
O som é natural, dinâmico, transparente com a prometida claridade da luz da manhã e um agudo presente, mas sem asperezas; uma gama média isenta de dureza; e um grave controlado e bem definido, ainda que sem a extensão dos melhores (e mais caros) modelos do mercado. O grave melhora muito se os ALBA estiverem bem ajustados nos ouvidos.
Se a sua praia são os jogos de computador, é melhor experimentá-los antes, porque lhes falta poder subterrâneo; se o ‘jazz’ e a música clássica (e por que não o rock?) são a sua ideia de umas horas bem passadas, pode comprar no escuro.
Cambridge M100
A Cambridge Audio não quis deixar os seus créditos por mãos alheias e este auriculares sem-fios M100 têm tudo e mais alguma coisa por apenas €169:
- Som Imersivo — com aptX Lossless e EQ personalizável
- Bateria de Longa Duração — até 10 horas + 23 (ANC ligado), 16 + 36 (ANC desligado)
- Cancelamento de Ruído Ativo — híbrido adaptativo com 3 modos + transparência
- Conforto Ajustável — escolha de 5 pares de pontas de ouvido, em silicone e espuma
- aptX Adaptive — som sem interrupções até 24bit/96kHz
- Bluetooth 5.3 — com maiores velocidades e capacidade de dados para transmissão de música
- Captação de Voz Clara – Qualcomm 3 mic cVc separa a sua voz do ruído ambiental
- Modo de Redução de Latência
- Modo Mono
- Modo de Sono
- Driver de 10 mm
- Amplificação A/B
- Peso: 6,65g (cada)
- Controlo Tátil
- Aplicação de Controlo — com equalizador gráfico de 7 bandas
Tive o mesmo problema para os colocar no canal auditivo que tenho com todos os outros ‘supositórios’ acústicos. Mas os M100 vêm com 3 pontas de silicone e 2 de espuma, e lá acabei por encontrar o que me pareceu a melhor solução (espuma), pois a ‘App’ não tem um teste de adaptação, como a dos Devialet Gemini.
Os M100 são fabricados em plástico, logo são um tudo-nada mais leves e provavelmente menos duráveis que os ALBA fabricados numa liga de zinco.
Como não gosto de ouvir música com IEMs durante muito tempo, tenho dificuldade em fazer comparações auditivas. Para mim são todos iguais, ou seja, desconfortáveis.
Festa rija com os M100
Mas, enquanto, os ALBA se colocam nos ouvidos, e pronto, já está, os M100 são uma festa: ouvi música, com e sem redução de ruído (funciona!), pausei e mudei de faixa com toques rápidos ou longos no auricular direito ou esquerdo, falei com a Google Assistant, atendi chamadas telefónicas, igualizei o som ao meu gosto com a App de controlo; coloquei no modo Transparency para ouvir o que se passava à minha volta, tudo com uma bela voz feminina a informar-me num inglês impecável qual a função ANC ou outra que tinha ativado.
Posso desligar a voz ou optar por tons. Há várias línguas disponíveis, mas não consta a portuguesa. À atenção da Support View.
E o som? Uma ligação por cabo é sempre uma ligação por cabo, por isso os ALBA soam melhor, especialmente no agudo. Mas os M100 são muito mais versáteis e o som, embora mais homogéneo, em termos tímbricos e dinâmicos, não se fica muito atrás e pode sempre ser igualizado a gosto.
E fico-me por aqui, porque eu estou a escrever esta crónica na praia, e agora vou dar um mergulho. A propósito: os M100 são à prova de salpicos (atenção: eu não disse à prova d’água)!
Conclusão: a escolha aqui não depende do preço, nem da qualidade de som, que é idêntica. Depende, sobretudo, das suas prioridades: estabilidade ou versatilidade? Neste caso, eu aposto na versatilidade: Cambridge M100.