Depois da apresentação mundial no HighEnd 2022, fui ouvir pela primeira vez, em sessão privada, na Delaudio, a mais inovadora coluna de sempre da Monitor Audio: Hyphn.
A Hyphn nasceu como Concept 50, para comemorar o 50º aniversário da Monitor Audio, mas após mais um ano de desenvolvimento, sobretudo ao nível do complexo filtro divisor, foi finalmente lançada no mercado, em 2023.
A Monitor Audio deu carta branca aos seus engenheiros Michael Hedges (tem o mesmo nome de um grande guitarrista) e Charles Minett, que passaram dois anos a tentar criar a coluna de som perfeita, com respostas técnicas para os problemas encontrados por outras marcas que já tinham tentado este feito antes.
Minett foi o responsável pelo desenho e pelos materiais da caixa, tendo optado para os graves por uma mistura mineral e acrílica, moldada sob pressão a temperaturas elevadas, e depois cortada e polida com maquinaria de precisão.
A Concept 50 agora chama-se Hyphn, porque o hífen não é apenas o traço que liga duas palavras. Em arquitetura, o hífen é uma ligação entre duas estruturas ou edifícios iguais, mas independentes, e os dois pilares das caixas de graves estão aqui ligados pelo ‘cinto’ de médio-agudos.
De resto, foram mantidas praticamente todas as características que já a distinguiam como um marco de inovação, pelo que me vou socorrer do artigo anteriormente publicado no Hificlube.net, quando da sua apresentação em Munique.
Segundo Michael Hedges, foram reforçadas as medidas antivibração, com travejamento adicional entre os pilares, cuja espessura interna passou de 12 mm para 24 mm, na área que suporta os woofers. No filtro, os condensadores foram substituídos por ClarityCAPS e as bobinas foram mergulhadas em resina também para não vibrarem. Quando ouvirem vão perceber tudo, porque as forças envolvidas são, realmente, de origem telúrica.
Para o elemento fulcral, a caixa de médio-agudos optou pelo alumínio sólido, moldado numa impressora 3D, para responder às necessidades particulares da ‘rosácea gótica’ (a MA chama-lhe ‘Array’), composta por seis mini unidades de médios RDTII rodeando uma variante de tweeter AMT, que a MA designa por MPD, Micro Pleated Diaphragm.
Unidade concêntrica múltipla
Esta configuração tem todas as vantagens das unidades concêntricas (focagem, estabilidade da imagem, etc.), sem a desvantagem de o diafragma de médios funcionar como ‘baffle’ do tweeter, em constante movimento, produzindo assim distorção por intermodulação. Neste caso, o tweeter está fixo no centro e o movimento das unidades de médios à volta não interfere no seu desempenho.
A caixa de médio-agudos é independente da dupla caixa de graves, onde estão montados dois woofers em cada ‘perna’, numa variante da configuração ‘force cancellation’.
Esta simetria significa que cada força vibracional gerada por uma das unidades é cancelada pelo gémeo oposto, eliminando vibrações que se propagam pela caixa.
No fundo, é uma variante genial de ‘point-source’, como as KEF Blade, mas com configuração ‘Isobarik’ invertida: os diafragmas dos woofers estão apontados para um espaço interior entre os pilares. E se resulta, caramba!
3-vias e 11 altifalantes
Assim a ‘Hyphn’ é uma 3-vias, mas com 11 unidades ativas. A resposta em frequência vai dos 21Hz aos 60kHz. Com cerca de 1,40 m por 45 cm, as Hyphn pesam 107 quilos por coluna! O Nelson Cox que o diga, quando andámos a afinar a colocação e o toe-in. O preço, claro, ronda os 80 mil euros. Estava à espera de quê?
Há quem diga que parecem ‘molas-de-roupa’. Talvez, sim, mas é porque elas nos prendem à cadeira. Eu diria mais: ficamos pregados à cadeira.
Mas, no futuro, quem sabe se não vai haver uma versão mais pequena, mais leve (em polímero) e mais barata.
Primeira audição
Delfin Yanez telefonou-me e disse: já chegaram, anda cá ouvir. E eu fui, claro.
As Hyphn tinham acabado de chegar e estavam ainda em fase de afinação e colocação na sala, e a precisar de um período de ‘queima’, mas a primeira impressão é a de que se trata de uma coluna fuuull-range. E quando eu digo isto, refiro-me ao grave mais tenso, intenso e extenso que já ouvi na Delaudio.
Ouvi sons de baixa frequência, que nem sabia que estavam no disco. Como, por exemplo, em ‘Birds’, de Dominique Fils-Aimé, que voltei a registar agora com as Hyphn e ainda com melhor qualidade de som, espero que concordem. Infelizmente, não vão ouvir na gravação as ‘cargas de profundidade’ a que me refiro. Primeiro, porque estamos em ambiente de YouTube; e depois porque precisaria de umas Hyphn para os reproduzir também. Vai ter de ir à Delaudio, pois claro.
Os sons de percussão em ‘Bubbles’, de Yosi Horikawa, tinham um ataque e uma velocidade inaudita. O ritmo de ‘Babylon Sisters' dos Steely Dan, era bem marcado e contagiante; e o poder do coro, da orquestra e dos timbales em ‘Peer Gynt Op.23, Incidental Music’, chegaram a assustar-me. Arrisquei gravar um excerto desta última, e foi como tentar meter o Arco da rua Augusta na Betesga, mas dá para ficar com uma ideia do que o espera. Mesmo assim, acho que elas precisam de amplificadores ainda mais potentes.
Deixo-o com um vídeo em 4K e dois excertos, primeiro de ‘Birds’, depois de ‘Peer Gynt’ (aperte o cinto!). Para a gravação direta utilizei um gravador digital Nagra SD (cortesia Ajasom). O registo foi obtido no auditório da Delaudio (ver foto) diretamente das Hyphn (a cerca de 2,5 m), com um microfone estéreo estacionário, e não foi feito qualquer processamento posterior. As imagens vídeo foram obtidas antes do registo sonoro, e não em simultâneo, e editadas apenas para ilustrar.
Os leitores podem (re)ver em baixo o vídeo da apresentação do protótipo das Hyphn, então Concept 50, no Highend 2023, Munique. Comparem o registo sonoro com o que foi gravado na Delaudio.