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A Monitor Audio apresenta a Studio 89 como herdeira da Studio 15, de 1989, a primeira monitora com caixa em preto lacado e altifalantes dourados - daí o nome, alegadamente.
Lembro-me bem da Studio 15 e as semelhanças acabam aqui, pois, quando tirei as Studio 89 da caixa, o que vi foram as irmãs-gémeas das Studio, com a diferença da cor dos olhos, perdão, dos altifalantes de médio-graves, que antes eram cor de alumínio e agora são dourados.
A Studio 89 e a Studio 15 não têm nada a ver uma com a outra, além do vestido negro e os brincos dourados. A Studio 89 é assim descendente direta da Studio, uma mini-monitora, que teve relativo sucesso junto da crítica nos idos de 2018.
Em 1986, no Penta Show, de Londres, Mo Iqbal, o pai fundador da Monitor Audio, mostrou-me os primeiros cones de metal desenvolvidos para os altifalantes de médio-graves das Studio 60, que eram fabricados a partir de uma liga de alumínio e magnésio e cobertos por uma finíssima película cerâmica para amortecer as vibrações e o som ‘de sino’, que afligia os modelos da concorrência.
Mo demonstrava a eficácia da solução deixando cair os cones, com e sem banho cerâmico, sobre uma superfície dura. Os últimos tinham som ‘de lata’ no contacto com a pedra, enquanto os primeiros tinham um som ‘amortecido’ (semelhante ao dos cones de fibra de carbono e de papel tratado), logo teriam também um som menos ‘metálico’, quando reproduziam música, segundo Mo.
Fogo que arde sem se ver
Mo ofereceu-me, então, um cone, que enviei ao IST para analisar a composição. A análise revelou a base de alumínio, com algumas impurezas, sílica (do banho cerâmico) e a surpresa do manganésio. Além, claro, do magnésio, um metal leve, cor de prata que, na sua forma pura, pode arder quando exposto ao ar, com chama deslumbrante. O que me levou a descrever o som como 'um fogo que arde sem se ver', talvez inspirado pelo que Camões escreveu sobre o amor.
A evolução dos altifalantes da Monitor Audio tem sido notável, utilizando agora cones de tripla camada de metal (alumínio/magnésio) e cerâmica (sílica) sobre uma estrutura hexagonal de favo-de-abelha em Nomex.
No High-End 2022, em Munique, a Monitor Audio comemorou o 50º Aniversário, com a apresentação das Hyphn, então Concept 50, de cuja inovação tecnológica aproveitaram todos os modelos subsequentes, ao nível dos altifalantes (Tweeter AMT e Médio-grave CCT), como a nova série 6G, premiada pela EISA, e agora a Studio 89.
O Feiticeiro de Oz
Em 2018, publiquei no Hificlube um artigo sobre as Studio, intitulado ‘O Feiticeiro de Oz’, que podem (re)ler clicando sobre o título, no qual revelo o segredo da ‘transformação alquímica’ de Delfin Yanez, que, sem custos para o cliente e sem perda de garantia, podia elevar o som das Studio a um patamar tal, que já ninguém voltava para trás depois de as ouvir.
Nota: Este artigo criou grande celeuma nas redes, porque publiquei uma fotografia de Delfin Yanez com um pé em cima de uma das colunas, como se pisasse um animal de estimação. Os leitores não perdoaram.
Em 2019, voltei a ouvir as Studio, agora nas atuais instalações da Delaudio, em Lisboa (video em cima).
Quando me enviou as novas colunas para análise, sem qualquer transformação, Delfin confessou-me que, e cito, ‘já me deixei disso’, talvez porque as 89 não precisam do ‘toque de mágica’, que consistia na substituição das bobinas do filtro divisor por equivalentes da Mundorf. Isto, sempre e só a pedido do cliente, depois de ouvir a incrível diferença. Mas as 89 já utilizam componentes de melhor qualidade: bobinas de núcleo de ar de baixa perda e condensadores de polipropileno e poliéster da Panasonic de resposta rápida.
As Studio originais utilizavam um par de unidades de médio-graves RDT II de 108 mm e um tweeter MDP II (Micro Pleated Diaphragm), uma das muitas variantes do transformador de movimento de ar (Air Motion Transformer) desenvolvido pelo Dr. Oskar Heil, que ainda tive o prazer de conhecer pessoalmente.
Esta tecnologia, que agora é amplamente utilizada por muitos fabricantes desde que a patente caiu em domínio público, continua a evoluir.
As 89 utilizam assim a mais recente geração III destas unidades, também montadas num baffle estreito em alumínio, desacoplado da caixa por meio de espuma de elevada densidade, numa configuração ‘MTM’ (Midwoofer-Tweeter-Midwoofer), uma variante D’Appolito, que foi primeiro adotada pela marca no núcleo central das notáveis Platinum 500.
Fonte pontual
O objetivo desta configuração é proporcionar uma distribuição sonora mais uniforme na vertical, melhorar a dispersão sonora e garantir a coerência da imagem sonora, baseada na irradiação polar de uma fonte pontual ('point-source'), cumprindo assim a filosofia ‘Transparent Design’ de que as Hyphn são a expressão máxima.
O novo tweeter MPD III está montado numa guia de onda que contribui para que a radiação horizontal e vertical seja quase igual, pelo que a tonalidade geral das 89 não sofre muito com a audição em pé, ou fora-do-eixo.
A caixa com 340x157x361mm e cerca de 8 Kg (as mesmas dimensões e peso das Studio originais) é linda tanto por fora como por dentro: lacada em preto-piano de alto brilho; e sem outros parafusos à vista, além do sistema de ajuste que fixa internamente os altifalantes de médio-graves ao painel traseiro; e dos bornes simples de ligação de excelente qualidade com banho de ródio.
Reforço interno
Por dentro, a caixa tem um reforço estrutural (travejamento) que faz lembrar uma linha-de-transmissão, embora aqui se trate de um duplo-sistema reflex, com abertura de ranhura em cima e em baixo, para controlar as ondas estacionárias no interior da coluna e eliminar a turbulência na boca do pórtico.
As Studio 89 são vendidas com suportes próprios, que as colocam à altura de audição ideal, e permitem a fixação com parafusos de segurança, além do nivelamento perfeito, mas que lhe vão custar €600, a que se juntam os €2.350 das colunas (+mil euros que as Studio).
Pode colocá-las numa prateleira, claro, mas convém deixá-las afastadas uns 30 cm da parede para o grave respirar.
As Studio 89 nasceram perfeitas – e com peitos!
Studio vs. Studio 89
Eis a pergunta de um milhão de euros: o preço das Studio 89 justifica os mil euros de diferença das Studio originais? O acabamento é luxuoso e requintado, isso é óbvio. Mas, e o som?
Não tenho aqui as Studio para comparar, vou ter de me socorrer do que escrevi sobre elas no artigo acima referido:
‘Tal como nasceram, as Studio são rápidas, coesas, com um grave bem tenso e ritmado, com razoável estrutura harmónica e baixa distorção. Não deslocam muito ar, mas isso já seria de esperar numa coluna tão compacta com esta.
Contudo, uma certa falta de corpo nos registos médios deixa o tweeter sem o devido acompanhamento tonal e a imagem perde consistência e torna-se vaga. Mas, depois de ‘batizadas’ por Delfim Yanez, ganham corpo, foco, solidez e coesão geral, batendo-se com colunas do dobro de preço sem aumento de…preço!’
Ora, é aqui que as Studio 89 se distinguem das Studio: já nasceram perfeitas e com peitos! Aguentam mais potência contínua (150W) com uma pressão sonora máxima de 113dB. A frequência de corte baixou dos 2,7kHz para os 2,4kHz, e isso nota-se na reprodução das vozes.
Claro que continuam a ter uma impedância nominal de 4 ohms e sensibilidade de apenas 86dB, aconselhando casamentos com transístores e as variantes de Classe D de elevada potência para obter o melhor desempenho possível. Ou os híbridos da Advance Paris também comercializados pela Delaudio. Utilizei um Rose Hifi RS520, com potência para as levar ao êxtase, e descobri que elas têm uma zona de conforto. Não exagere no volume.
As Studio 89 representam a máxima (e acessível) expressão de um som compacto, sólido e coerente.
Som compacto
As Studio 89 representam a máxima (e acessível) expressão de um som compacto, sólido e coerente, tirando partido da proximidade e configuração dos altifalantes (fonte pontual); e do baffle estreito, que reduz o efeito de difração e promove a estabilidade e especificidade da imagem estéreo.
Com pouco mais de 12 litros de volume interno, não espere grande extensão do grave, aqui compensada pela definição e recorte. Na minha sala, eu medi −6dB/58Hz em relação aos 200Hz. Mas o acoplamento do sistema reflex com a sala permitiu alguns resultados surpreendentes.
Diferente para melhor
Por exemplo, em ‘Differently’, de Anete Askvik, o pulsar do sintetizador fez vibrar as janelas!, sem que o grave interferisse na pureza da voz.
Em ‘Thanks to You’, de Boz Scaggs, o grave do sintetizador desceu até onde eu não pensei que fosse possível, sem, contudo, afetar o timbre natural da voz de Boz.
E em ‘Et Misericordia’, do Magnificat, de Kim André Arnesen, consegui ouvir os pedais do órgão ressoando na Catedral de Nidaros, mas mantendo incólume a sublime voz da soprano Lise Berg e a emocionante religiosidade do coro feminino, sublinhado pelas cordas maviosas dos Trondheim Soloists. Uma reprodução capaz de converter até um ateu num audiófilo.
Não é o mesmo que ouvir uma coluna de banda larga, admito. Em certas circunstâncias mais festivas, sugere-se adicionar um subwoofer (e a Delaudio tem uma vasta oferta de subs).
Se tem pouco espaço, pouco dinheiro, vizinhos complicados e uma esposa com opinião (demasiado) forte sobre decoração (e música!) as Studio 89 devem fazer parte obrigatória da sua short list, porque juntam elevada qualidade de som e beleza num projeto compacto e acessível (€2.350).
Amigo Mo, o teu legado está em boas mãos!