A Moonriver é uma marca sueca que mostra à Europa o caminho a seguir no futuro: produzir hifi de qualidade acessível sem recorrer à indústria chinesa.
A Moonriver é, por enquanto, uma marca de modelo único: o amplificador integrado 404. O nome foi inspirado na famosa canção da banda sonora do filme ‘Breakfast At Tiffany’s, e é isso mesmo que vai ler na abertura de todas as ‘reviews’ já publicadas e a publicar, porque os jornalistas são preguiçosos e aproveitam a informação que lhes é fornecida pelo fabricante. Até porque fica sempre bem haver uma história por trás de cada marca…
George Polychronidis, o fundador da Moonriver Audio
Também vai ler que o fundador da Moonaudio é George Polychronidis, um sueco de origem grega, que se apresenta como designer e engenheiro-técnico, com paixão pelo áudio, tendo-se especializado na reparação de equipamentos de áudio vintage, a válvulas e de estado sólido, desde amplificadores a gravadores e gira-discos. Daí ter sido influenciado pelo design clássico, que caracteriza o Model 404.
Quanto mais simples, melhor
Da sua experiência como reparador, concluiu que: quanto mais simples são os aparelhos, menos avarias ocorrem; e da sua experiência como audiófilo DIY, concluiu também que: quanto mais simples são os circuitos, isto é, quantos menos componentes utilizados, melhor é o som.
…quanto mais simples são os circuitos, melhor é o som…
Inspirando-se em modelos icónicos, como o Mark Levinson ML P-22 e o Nelson Pass First Watt, que seguem o princípio do ‘fio-com-ganho’, suportado por uma robusta fonte de alimentação, ‘o coração do sistema’, segundo Polychronidis, criou o Model 404, o seu primeiro modelo comercial, depois de anos a construir amplificadores para si próprio e para os amigos, ou por encomenda.
Esta ‘simplicidade’ foi levada ao extremo no caso do Model 404, pois a topologia de componentes ‘discreta’, utilizada no andar de prévio (encapsulado), é integralmente dispensada no andar de potência, no qual se substituem os transístores por ‘módulos de potência’, isto é por amplificadores operacionais (National Semiconductor LM3886TF), para obter uns aparentemente modestos (mas musculados) 50W/8 Ohm.
Os ‘módulos’ estão directamente aparafusados a uma cantoneira de alumínio, colada ao chassis, alargando assim área de dissipação, sem necessidade dos sempre inestéticos (e caros) dissipadores. Daí talvez a razão pela qual os painéis de madeira laterais são apenas frisos decorativos e não correm ao longo de toda a caixa, circunstância em que reduziriam a dissipação ao acumular calor.
Gainclone, o que é isso?
Será que estamos perante um circuito minimalista do tipo ‘gainclone’, talvez o circuito mais utilizado no mundo em modelos ‘DIY’? Até eu já construí um! E não tocava nada mal…
Sendo este o caso, o Moonriver Model 404 não é a minha primeira experiência neste território. Por isso vou aproveitar a pesquisa e parte das notas de análises anteriores, porque, embora o 404 seja de um nível superior, funciona com base no mesmo princípio:
Como o nome indica, os ‘gainclones’ são cópias do famoso “47 Laboratory 4706 Gaincard”, com o qual Kimura san surpreendeu o mundo do áudio em 1999, ao construir um amplificador com base num simples circuito integrado, não sujeito a patente, e uma PSU.
O circuito é tão simples e fácil de construir que de imediato se criou o movimento “gaincard clone”, uma espécie de febre DIY, pela qual também fui gravemente infectado. Antes isso que o Covid19…
Tudo o que o amador precisa são dois Opamps e uma PSU, com base num transformador toroidal, uma ponte, alguns diodos de rectificação e dois condensadores; regula-se o ganho do opamp por meio de duas resistências: uma em série e outra em paralelo (o ganho depende da relação do valor entre ambas) e já está. Ou seja: o amplificador pouco mais tem que meia-dúzia de componentes. E o sinal só tem de percorrer alguns centímetros.
Os “gaincards” puros e duros dispensam até a placa de circuito, basta soldar as resistências directamente nos pinos do circuito integrado. Aliás, se o construtor DIY apenas pretender o ganho unitário, nem precisa de resistências!...
O principal problema é a qualidade da PSU, e a maior parte destes projectos borregava, porque os chips são muito sensíveis aos spikes da corrente.
Ora, a PSU do 404 é uma obra de arte, com enrolamentos secundários do transformador independentes para cada canal, e outras cinco alimentações independentes para as secções analógicas e digitais.
…a PSU do 404 é uma obra de arte, com enrolamentos secundários do transformador independentes para cada canal…
Da garagem para a fábrica
Mas uma coisa é um ‘modelo de garagem’, outra é uma versão industrial concebida por alguém com conhecimento técnico e vasta experiência, como George Polychronidis:
‘O 404 demorou 4 anos a atingir a maturidade para poder ser lançado no mercado com garantia total de qualidade e fiabilidade, por um preço relativamente baixo para um produto integralmente construído à mão na Suécia, com capacidade para alimentar colunas pouco eficientes, com excepcional gama dinâmica, transparente e sem colorações.
A vantagem dos módulos de potência de Classe AB é que podem ser ‘afinados’ (por quem sabe) para ter um determinado tipo de som, tal como acontece quando se faz ‘tube swapping’ (substituição de válvulas).
…o 404 foi construído para durar décadas, não anos… é quase indestrutível!
Outras vantagens são a estabilidade electrónica e térmica, a possibilidade de afinação precisa dos meios-ciclos negativo e positivo e a protecção total contra DC, sobrecarga ou curto circuito. O 404 é quase indestrutível!
O 404 foi construído para durar décadas, não anos. Por isso mesmo, parte de uma base de amplificação sólida e fiável, com um preço recomendado de 3.000 euros, à qual são adicionados módulos Phono MM/MC (480 euros) e digital com DAC 384/24 com entrada USB (580 euros), que podem ser melhorados no futuro, incluindo streaming, por exemplo…’
Melhor som de Varsóvia
A Moonriver Audio, por enquanto, só é conhecida nos países do Norte da Europa, estando muito bem cotada na imprensa polaca, que lhe atribuiu o galardão de ‘Melhor Som’ do Audio Video Show 2019, de Varsóvia’.
Estes galardões valem o que valem, mas dão visibilidade aos produtos e despertam o interesse de distribuidores e da imprensa anglo-saxónica, nomeadamente a possibilidade de obter as tão desejadas ‘5 estrelas’ da What HiFi?, que colocam a caravana comercial em marcha, a troco de um acordo publicitário.
Neste caso, despertou para já o interesse da Ultimate Audio, que é o actual distribuidor oficial para Portugal e Espanha, e do Hificlube.net que, não tendo o alcance universal, conferido pela língua inglesa, tem ainda assim uma palavra a dizer, escrita na 3ª língua mais falada no mundo: o Português.
Por falar em Português, quem melhor que Francisco Monteiro para fazer uma descrição do Model 404:
Não se deixe enganar pelo ar vintage, o 404 é um amplificador com um som moderno, vibrante e jovem, com elevada capacidade ‘atlética’.
A primeira surpresa é a da potência disponível. São apenas 50 cavalos, perdão, watts, mas o torque é muito elevado. Basta um ‘cheirinho’ no potenciómetro ALPS (Blue Pot) para obter uma alta pressão sonora instantânea. É esta 'expressão dinâmica livre' que distingue o 404 da concorrência, dentro da sua categoria de potência.
…o 404 é um amplificador com um som moderno, vibrante e jovem, com elevada capacidade ‘atlética’…
Pode faltar-lhe a força bruta dos V8 do áudio, com 30, 40 ou até 60 transístores de potência por canal no andar de saída, que debitam 500W e mais. Mas tem outro tipo de poder: atrai-nos para o vórtice do processo musical em curso, mesmo quando está a tocar baixinho.
O que já é mais difícil de definir é o ‘tipo de som’: os ‘gainclones’ têm o ataque dos transístores e a transparência das válvulas, sem o ‘véu’ que apoquenta alguns exemplos de estado sólido, ou a eufonia dulcificante do vácuo. As vozes soam limpas, claras, sem ‘peito’ artificial, que muitas vezes se pode confundir com corpo e textura
Trata-se de uma nova e viciante forma de ouvir. Enquanto os SET (single triode) a válvulas têm uma textura de veludo, os ‘gainclones’ (de que o 404 é uma variante de luxo) soam como cambraia fina que, ao deixar passar a luz, nos mostram à transparência os fios que compõem a textura do tecido: os mais pequenos detalhes ouvem-se como fazendo parte da música, e não apenas como ‘fogo-de-artifício’ sonoro.
O som é tão delicado e rico de informação, que até as colunas convencionais parecem exibir as características de transparência e riqueza harmónica próprias das electrostáticas.
…O som é tão delicado que até colunas convencionais parecem exibir a transparência das electrostáticas…
Depois, segue-se o ‘arranque’ e a velocidade de ponta: os ‘gainclones’ são os amplificadores que mais bem reproduzem ondas quadradas, o que é um bom sinal de que aquilo que nos interessa mesmo – as ondas sinusoidais – vão ser também reproduzidas na perfeição. E são.
Nota: A versão que me foi enviada para teste pela Ultimate Audio vinha equipada com o módulo digital, um AKM 4490 DAC chip com um interface assíncrono XMOS USB, compatível até 384kHz/24-bit, com relógios independentes para os múltiplos de 44,1 e 48 kHz respectivamente, só não parece ser compativel com DSD, até prova em contrário. Mas a performance em PCM (incluindo DXD) é imaculada.
Moonriver Model 404
Eis um produto único de uma marca nova que, por apenas 2990€, o pode ajudar a resolver a velha dicotomia válvulas vs. transístores, oferecendo transparência sem coloração e velocidade e dinâmica sem ‘agressão’.
Para mais informações: ULTIMATE AUDIO