Nelson Pass cultiva a simplicidade sustentável. Sobre ele, pode dizer-se com propriedade que é um áudio-ecologista. O som deve ser produzido com um mínimo de ‘aditivos’ (tendencialmente ou com forte polarização constante em Classe A para garantir uma boa passagem de testemunho entre ciclos positivo e negativo *) e sem ‘conservantes’ (negative feedback, por exemplo), mesmo quando confrontado com impedâncias baixas e cargas reactivas, aliado a um elevado factor de amortecimento (500) e tempo de subida (100V/uS).
*Nota: Imagine that the two transistors are runners in a relay race and that the signal is the baton they carry. In a real relay race, the runner receiving the baton begins running before the hand-off, which is made with the runners at speed. The runners who hand over the baton at a dead stop will operate at a severe disadvantage.So it is with push-pull power transistors. The higher the bias, the smoother, more seamless is the transition.
You can certainly imagine an amplifier which operates with a low bias current but has the necessary amount of negative feedback and/or circuit complexity to insure that it measures as well. Actually, you don’t have to imagine it – such amplifiers are for sale. Do they sound better? We don’t think so. – Nelson Pass
E, se é verdade que os resultados em laboratório devem ser também impolutos, o som deve saber bem quando ingerido. Ninguém ‘come’ papel, por muitos ‘saborosos’ que sejam os números nele inscritos.
Nelson Pass defende que o caminho do sinal deve ser sempre o mais simples (single-ended) e curto, da entrada até à saída, com um mínimo de componentes.
‘...que interessa se um amplificador soa como tendo 500W, se o primeiro watt soa como…merda?!...’
Se possível, um simples andar de potência, sem andar de ganho prévio, como no caso da série First Watt, o seu mais emblemático amplificador; ou um andar de ganho com apenas dois transístores (Fets), como neste INT-25 , que é o resultado do casamento do andar de prévio do INT60/250 com o amplificador estéreo XA-25, considerado por muitos como o mais musical de sempre da escuderia Pass.
Ou como Nelson Pass diz: ‘que interessa se um amplificador soa como tendo 500W, se o primeiro watt soa como…merda?!’
Para isso é preciso dar condições de ‘sustentabilidade’ ao amplificador, nomeadamente garantindo uma fonte de alimentação sobredimensionada e componentes com especificações muito acima das exigências de funcionamento, como (NOS) Fets de 700W/40 amp.
Assim, as ‘árvores de dissipação’ não estão lá só para enfeitar, são a garantia de que o ‘25’ do logótipo é meramente indicativo, pois na prática estamos perante um amplificador push-pull de 100W/2 ómios, cujos primeiros Watts não são…merda.
Em 2008, o Pass INT-150 já me tinha deixado uma excelente impressão, e quem sabe nunca esquece: ‘até prova em contrário, este é o amplificador integrado do ano’, escrevi na altura. Nota: podem ler aqui o teste integral, ou em ‘Artigos Relacionados’ no final da página.
Prova auditiva ao som de ‘Night and Day’
Quando cheguei à Delaudio (ler ‘Regresso a Lisboa’, em Artigos Relacionados), Delfin estava calmamente sentado a ouvir o sistema que vêem na foto, composto por uma fonte Esoteric K05 xd (ligado ao indispensável Masterclock V-Acoustics), um par de colunas Monitor Audio PL200 II (modificadas) e a estrela da companhia, o amplificador integrado Pass Labs INT-25. Nada de muito sofisticado.
Sentei-me e fiquei por ali quase duas horas, enquanto Delfin Yanez ia tocando algumas preciosidades em CD compradas recentemente em Berlim num ‘alfarrabista discográfico’.
Delfin não vai em modas, muito menos se preocupa com as novidades, e tanto passa gravações mono como dos primórdios do estéreo, tudo discos ‘intocáveis’ antes de ‘abençoados’ pelo Masterclock.
O Pass INT-25 tem o proverbial ‘som de válvulas’ e é um dos amplificadores mais transparentes que já ouvi. Uma transparência que não ofusca, antes ilumina com a chama quente da luminosidade interior das vozes de artistas como Ella Fitzgerald, Fred Astaire, Shirley Horn ou Louis Armstrong, assim ‘ressuscitados’ por gravações com 50 anos!
Trata-se da colectânea ‘Night and Day’, editada pela Polydor em 1990, e dei comigo a cogitar que cada novo título das canções que ouvia me induzia diferentes estados de espírito e apreciação face ao INT-25:
Dinah Washington - I’ve got you under my skin
O efeito do Pass INT-25 é auditivo e epidérmico, insinua-se debaixo da pele.
Ella Fitzgerald – Anything Goes
O INT-25 adapta-se a todos géneros musicais, e não apenas a Jazz clássico. Ouvi também ‘Biko’, de Peter Gabriel ao vivo, e a percussão soou carnuda e impactante. E a ambiência de concerto ao vivo estava lá toda.
Fred Astaire – I concentrate on you
É impossível não nos concentrarmos no que estamos a ouvir. Adoro conversar com o Delfin sobre tudo, da música à política, mas Fred Astaire ‘roubou o palco’, mesmo sem dançar...
Dinah Washington – I get a kick out of you
‘I get no kick from Champagne
Mere alcohol doesn't thrill me at all
So tell me why should it be true
That I get a kick out of you’
Sim, realmente, como pode ser verdade que um pequeno integrado de 25W tenha este efeito de nos ‘excitar’ musicalmente. Mesmo a beber apenas água. Conheço críticos que são como a Simone (a brasileira): ‘depois do terceiro copo, o que vier eu topo…’
Ella Fitzgerald – Night and Day
Já teve aquela sensação de que tudo o que ouve é tão óbvio como a noite e o dia?
Betty Carter – Every time we say good-bye
É a última canção do disco. Quando dei comigo, tinha ouvido o disco todo, algo de raro nas audições de audiófilos, que tendem a tocar apenas 30 segundos de cada faixa na busca incessante e obsessiva de ‘sons’. Tinha chegado a altura de dizer adeus – até breve.
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