Read/Listen to full article in English
Nasci em 1977, quando JVH, o meu pai, não tinha ainda entrado no mundo do áudio highend.
Contou-me uma vez que era ele próprio que construía as colunas e os amplificadores, com peças que mandava vir da Wilmslow Audio, no Reino Unido, arriscando a que ficasse tudo apreendido na alfândega.
Depois, comprou um sistema Quad 33/303. Mas nunca se desfez do seu primeiro amplificador, um Stereo Receiver da Pioneer, que comprou em 1974, quando veio da guerra, contou-me a minha mãe.
Lembro-me de ficar fascinado pela luminosidade azulada do mostrador do rádio AM/FM do Pioneer, quando tinha cinco ou seis anos. Não era, então, o som que me atraía, era a luz.
Adorava mexer às escondidas em todos aqueles botões brilhantes e cor de prata, que davam ao produto um ar de brinquedo para graúdos.
Passados mais de 40 anos, o Receiver da Pioneer ainda funciona, apenas precisou de substituir os condensadores eletrolíticos.
Embora a Pioneer faça hoje parte da Onkyo, que pertence à Denon… enfim, mas os genes estão lá. Que melhor garantia pode dar-se ao consumidor: a Pioneer está no mercado há quase 90 anos.
Pioneer Network Stereo Receiver SX-N30AE
Assim, quando o Hificlube.net recebeu da Sarte Audio um Pioneer Network Stereo Receiver SX-N30AE para teste, senti-me tão nostálgico que pedi para ser eu a fazer o teste.
Os botões cor de prata continuam lá, mas são agora de alumínio e não brilham tanto como os antigos botões cromados. Os painéis laterais e a manga de madeira também se foram (com pena minha); e o novo mostrador alfanumérico já não tem aquela luminosidade azulada que tanto me fascinava.
Mas continua a ter rádio AM/FM, tal como então, e as respetivas antenas (incluídas). Mas a designação Network Stereo Receiver denuncia que estamos agora perante um portal do tempo, que nos transporta para o universo radiofónico de Pandora, Tune-In e iHeartRadio.
De analógico a digital em 50 anos
Em 50 anos, o mundo passou de analógico a digital. Tudo nos chega a casa via “internet”. Podemos ouvir rádios de todo o mundo e a música é-nos agora servida desmaterializada em alta resolução por “streaming”, sem necessidade de suporte físico.
Vivemos hoje, dizem-nos, num maravilhoso mundo novo digital, muito diferente de quando Nozomu Matsumoto fundou a Pioneer, em 1938.
Mas o SX-N30AE continua a ter a opção de ligar fontes externas analógicas: gira-discos (MM), por exemplo). E, porque não, um leitor de cassetes de que ainda me lembro bem? Também só é possível ligá-lo a um televisor pelas entradas analógicas, pois não oferece entrada HDMI.
Música em todo o lado
Hoje, basta conectar o telefone ao SX-N30AE via Chromecast ou Bluetooth (e ainda FlareConnetc e DTS Play-Fi) para aceder por subscrição aos arquivos da Spotify, Deezer, Tidal, Qobuz, etc. com dezenas de milhões de faixas de música; ou aos nossos próprios arquivos, armazenados em discos rígidos via USB.
O amplificador de Classe AB (tecnologia “Direct Energy”) debita mais de 100W sobre 8 ohms e pode alimentar qualquer par de colunas modernas sem problema, sendo suportado por uma fonte de alimentação com um transformador laminado (menos ruidoso que os toroidais) e dois enormes condensadores de 8.200 uF.
PCM 24 bit/192kHz e DSD 128? Check.
O SX-30NAE pode reproduzir ficheiros codificados em WAV e FLAC, até 24 bits/192 kHz e DSD até DSD128 (frequência de amostragem de 5 MHz).
Não tive dificuldade em ligá-lo a fontes externas, nomeadamente ao leitor-CD (via coaxial e RCA), nem ao disco rígido (via USB), que me foi emprestado por JVH, contendo centenas de faixas em alta resolução, para provar que o SX-N30AE é de facto compatível com PCM 192kHz e DSD128.
E também foi fácil ligá-lo ao meu celular por Bluetooth para reproduzir música via Tidal. Mas o SX-N30AE resistiu a integrar-se na minha rede wifi doméstica e, sobretudo, via Ethernet.
O manual e o controlo remoto não pareciam oferecer soluções práticas, tendo sido preciso descarregar a App de controlo para resolver a situação. Curiosamente, há duas Apps da Pioneer na Google PlayStore (Android): a Remote App, recomendada pela marca; e a Play-Fi Music Control. E foi com surpresa que obtive melhores resultados de navegação na Tidal com esta última.
Se pretende comprar este Receiver da Pioneer, faça-o num revendedor oficial, como a Imacustica, onde um especialista o vai ajudar a percorrer o caminho ‘das pedrinhas’, poupando-lhe tempo.
Entretanto, descobrimos duas especificações não declaradas no manual de fábrica. O SX-N30AE é compatível com ficheiros MQA;
... e também com a Roon (apenas com ligação por Chromecast) ambiente onde surge identificado como Pioneer SX-N30AE F14F109 (ver foto acima).
Antes que cases, ouve o que fazes…
Ouvi o SX-N30AE, primeiro, sozinho, com um par de monitoras Sonus faber; e depois, já na companhia de JVH, com um par de colunas Devore Audio Micro. E ficámos ambos surpreendidos com a suavidade do seu desempenho e como ambos se complementavam perfeitamente.
Normalmente, faz-se o “match” do amplificador e das colunas com base no preço. Assim, um amplificador de 799 euros, como no caso deste SX-N30AE, liga-se a um par de colunas até 1500 euros, vá lá dois mil euros, mas nunca às Devore Micro de 5000 euros, que JVH está agora a testar. Mas só assim é possível saber do que é realmente capaz um receiver barato como o SX-N30AE. E olhe que consegue dar-lhe mais do que pensa...
É verdade que, segundo JVH, as Devore Micro até soavam bem ligadas diretamente a um telemóvel, passe o exagero, mas aqui elas deixaram o Pioneer assumir uma surpreendente postura de controlo e contemplação quase budista, sem introduzir colorações próprias. Também é verdade que o equilíbrio tonal tem primazia sobre a recuperação de informação e a dinâmica, mas mesmo assim ambos os parâmetros estão acima da média para o preço.
Jovem de coração quente
Há no SX-N30A um calor humano e uma musicalidade que não é normal neste tipo de eletrónica, dita “mainstream”, consumida por jovens, que gostam de carregar no pedal com HipHop e não de ouvir música a sério. Até o controlo de volume sobe o som suavemente sem brusquidão. Embora com colunas menos sensíveis tenha de o girar bastante, o que não foi o caso da Micro (88dB).
Tem também controlos de tonalidade, na boa tradição da Pioneer dos anos 70. Mas utilize apenas se for absolutamente necessário.
Dos milhões aos tostões
Eu fui educado a ouvir som Pioneer desde a infância, e isso pode ter influenciado o meu gosto, mas JVH já ouviu os melhores amplificadores do mundo, e também levantou o polegar em aprovação, quando ouviu “Famous Blue Raincoat”, de Leonard Cohen, por Jennifer Warnes, com o sax de Paul Ostermayer a derreter-se como chocolate quente.
E também ficou surpreendido com a qualidade do circuito do amplificador de auscultadores, capaz de alimentar cargas difíceis como os Hifiman HE1000. Outros bem mais caros falham aqui miseravelmente. Nota: use os controlos de tonalidade a gosto para domesticar o agudo dos Hifiman HE1000 (-3dB) e puxar o grave (+3dB). Com amplificadores dinâmicos, não precisa dos controlos.
Recentemente, ouvimos, no Porto, sistemas de milhões (ver reportagens), é bom saber que também é possível ouvir boa música com tostões…
Produto: Pioneer Network Stereo Receiver SX-N30AE
Preço: €799,00
Para mais informações: