Na Europa, há duas alturas do ano, quase coincidentes aliás, em meados de Maio, quando as marcas se afadigam para apresentar novidades frescas, tão frescas por vezes, que a ‘tinta’ ainda não secou e as especificações nem sempre correspondem ao que está no ‘papel’; ou então a ‘performance’ integral declarada ainda não é possível de testar completamente, quer porque se trata de um protótipo, ou de um produto ainda em fase de desenvolvimento.
Aliás, se verificarem bem, a foto da Stream Box S2 Ultra, publicada na própria página da Pro-Ject, apresenta um ‘lettering’ diferente do actual no painel frontal: onde antes se lia Net, lê-se agora Link; e USB/PC foi substituído por Bypass. Além disso, o tampo da caixa era perfurado e agora não é, e até se justificava que o fosse pois aquece bastante. O que mostra que é um produto em constante evolução até ao lançamento mundial.
Isso nunca impediu as marcas de apresentarem as novidades no Highend, de Munique, como grande atracção, como foi o caso deste mini-Streamer, da Série S2 da Pro-Ject, que me chega às mãos ainda em fase de pré-produção; e muito menos as revistas de publicarem a ‘crítica possível’, como se diz na política e no futebol, porque o calendário da EISA assim o exige, como se verá, pois a Stream Box é um claro candidato ao título.
Nota: o mesmo já tinha acontecido com o excelente Pro-Ject Pre Box S2 Digital – Headphone amp e DAC/MQA (clicar para ler o longo, pormenorizado e polémico teste do Hificlube).
...esta nova ‘caixinha’ da Pro-Ject foi concebida para ser o par ideal da Pre Box pois vem aportar-lhe a única função que lhe faltava: ‘streaming’...
Esta nova ‘caixinha’ da Pro-Ject foi concebida para ser o par ideal da Pre Box pois vem aportar-lhe a única função que lhe faltava: ‘streaming’. Embora, convenhamos, a um preço a que a Pro-Ject não nos tinha habituado antes: €749. Ainda assim bastante acessível face à concorrência, em termos tecnológicos, se bem que modesta em termos de design e ergonómicos.
De facto, comparativamente, a Pre Box era – é – uma verdadeira pechincha por €349, sobretudo se considerarmos que a Stream Box é apenas uma ‘ponte’, uma ‘passagem para a outra margem’, aquilo a que tecnicamente se chama uma ‘Network Bridge’, que nos permite ‘transportar’ a música que temos armazenada num servidor NAS (via cabo de rede ou por wi-fi) ou em discos rígidos (pens incluídas) via USB para um DAC externo, como o da Pre Box, por exemplo, sem precisar de um computador, com recurso a uma App que, aparentemente, ainda não está finalizada, ou pelo menos adaptada ao novo produto, embora na demonstração em Munique tenha funcionado bem.
...a Stream Box é apenas uma ‘ponte’, uma ‘passagem para a outra margem’, aquilo a que tecnicamente se chama uma ‘Network Bridge’...
A Pro-Ject alega que a Stream Box tem um circuito purificador do sinal USB, que elimina todo o ruído produzido pelos computadores, e que esta mais-valia, designada por USB detox, só por si, justifica o preço algo elevado para uma caixinha com apenas 10 cm de lado, 3 cm de altura e menos de 400 gramas de peso.
Mas esta é apenas uma das funções da Stream Box que, como o nome indica, também faz ‘streaming’ de operadoras como a Spotify e a Tidal, e neste último caso com compatibilidade MQA total, como se provou (ver foto em baixo), ao ligar-lhe um Meridian Explorer V2. Uma prova dos nove que ainda não vi ser feita em mais lado nenhum, o que não obstou à publicação já de alguns testes ‘apressados’, na ânsia de 'cumprir calendário'.
O que não consegui ainda provar é que também é Roon ready, pois ainda não subscrevi a utilização deste software, agora disponibilizado em Portugal pela Ajasom. Por outro lado, a Box Control, a tal App de controlo da Pro-Ject, disponível gratuitamente na Apple Store, não funcionou, como já referi, talvez por 'nabice' minha - ou não; nem a ligação HDMI, que se limitou a mostrar-me no ecrã o logotipo da Pro-Ject, pelo que ‘em desespero de causa’ tive de me socorrer de um App de utilização também gratuita e universal, a mconnectLite, que funciona na perfeição com a Stream Box, permitindo o acesso directo e navegação na Tidal.
Foi assim possível ‘testar’ de facto a Stream Box na sua dupla vertente de ‘ponte’ USB/NET, incluindo a compatibilidade MQA, em ambos os modos de funcionamento: Bypass e Link.
Deixem passar a música
No modo bypass, com a Stream Box ligada ao meu PC por cabo USB (A/Micro B), e aquela ligada ao excelente Chord Hugo 2 (ou ao Explorer 2 para ficheiros MQA), a música ‘passou’ toda com resoluções até PCM 32bit/384kHz e DSD256 nativo, utilizando o JRiver como Media Player.
...a Stream Box, no modo bypass, não ‘toca’ no sinal, apenas o deixa tocar – e bem...
A qualidade do som variou em função do DAC, como é óbvio, mas o circuito ‘USB detox’ fez-se sentir com uma redução geral de ruído, logo de jitter induzido (isolamento galvânico?). Aparentemente, a Stream Box, neste modo, não ‘toca’ no sinal, apenas o deixa tocar – e bem. Ora, é isso que se pretende, logo a Pro-Ject, pelo menos neste aspecto cumpre o prometido.
Nota: quando utilizada no modo bypass a Stream Box é totalmente ‘invisível’ e a app JRiver reconhece apenas o DAC associado.
Acedi depois à Tidal e pude reproduzir dezenas de faixas do vasto manancial de discos em resolução CD e HD/MQA, tanto com a descodificação interna da Tidal (48/96kHz) como na resolução integral (desactivando a descodificação Tidal), fazendo-se assim o ‘desdobramento’ dos ficheiros ao nível do Explorer 2.
Em ambos os casos, o led azul que indica a ‘master quality’ acendeu, enquanto os leds brancos indicam 44/48kHz ( 1 led) e 88/96/192 kHz (2 leds).
Atenção: embora a Tidal disponibilize alguns discos da editora 2L a 325,8kHz, o Explorer 2 vai só até um máximo de 192kHz. Se tivesse utilizado, como parceiro da Stream Box, a deliciosa Pre Box (não estava disponível), o sinal MQA teria sido descodificado até aos 352,8kHz, no caso dos discos da editora 2L no catálogo da Tidal. Só por isso vale pena comprar as duas boxes.
O cordão umbilical
No modo ‘Link’– ligação Ethernet – (bypasss deve estar desligado, ou o streaming não passa) e utilizando a App mconnectLite acedi facilmente à Tidal (procure no Browser da App) e em Play To seleccione Stream Box S2 Ultra. O streaming do sinal MQA faz-se sem descodificação por default.
Assim, a título de exemplo, pois reproduzi dezenas de faixas de vários álbuns de todos os géneros e tipos de música, ouvi as versões MQA de Nightfly, de Donald Fagen e Young Americans, de David Bowie, e embora a App identifique as faixas de ambos como sendo a 24bit/48kHz, o Explorer 2 identifica que o primeiro é, de facto, a 24Bit/48kHz mas o segundo é a 24bit/192kHz.
Conclusão
Se seguiu o meu conselho e comprou a excelente Pro-Ject Prebox S2 Digital e quer juntar a capacidade de streaming ao DAC e ao prévio/amplificador de auscultadores, não procure mais: esta Stream Box é para si. Sobretudo, se é um ‘cultor’ do MQA.
Contudo, se vai começar agora do princípio, por mais cerca de 300 euros pode comprar, por exemplo, o Cambridge CXN, que é muito mais ergonómico e tem DAC integrado e um fabuloso gestor de títulos.