Estou Roon Ready!
Já ouviu falar em Roon ready? Então, prepare-se também, porque não ter ‘Roon’ no seu sistema é como andar à procura da proverbial agulha no palheiro caótico da sua discografia digital sem nunca a encontrar.
Ter Roon é ter uma secretária particular para tratar da sua agenda musical, daquelas muito eficientes, que a gente pergunta por uma coisa recente ou há muito esquecida, e ela é tão rápida que já tem a respectiva pasta na mão.
…a Roon mostra-lhe não só a capa do disco e os versos das canções, mas também as críticas publicadas, a biografia e a discografia dos músicos…
A Roon arruma-lhe o sotão digital
Se, como eu, tem mais de 10 mil ficheiros de ‘música’ em vários formatos, do PCM e MP3 ao DSD e MQA, espalhados – leia-se perdidos - por tudo o que é arquivo digital, alguns repetidos ou em versões diferentes, desde o PC ao NAS e hard drives diversas mais o manancial inesgotável da Tidal, e não sabe em qual deles está a faixa ou álbum que lhe está a apetecer ouvir, deixe que a Roon organize o seu caos num todo coerente e lógico e lhe apresente o que procura de imediato.
Isto seja qual for o âmbito da sua busca: género musical, compositor, álbum, faixa, ano, data e até ‘estado de espírito’, no qual escolhe uma faixa ao acaso e a Roon vai-lhe propondo outras similares na mesma veia musical.
E a Roon mostra-lhe não só a capa do disco e os versos das canções, mas também as críticas publicadas, a biografia e a discografia dos músicos.
Ou até as datas dos concertos e a presença de certos músicos nos concertos dos outros, ou diferentes interpretações de uma mesma peça.
‘Four Seasons’ anyone? Qual versão quer ouvir? A de Anne-Sophie Mutter? Joshua Bell ? Igor Kipnis ? I Musici ? Michel Schwalbé ? Il Tempio Armonico? Ou estilo Piazzolla pelo Quartetto Furioso? Ou ainda, tocado à guitarra pelo California Guitar Trio? A Roon mostra-lhe o menu e a escolha é sua.
Que pode depois adicionar à sua ‘biblioteca’ geral ou distribuir por playlists permanentes ou ocasionais, como numa festa em que dá o iPad a cada um dos convidados para seleccionar o que quer ouvir e a Roon toca-as em sequência, ou individualmente em salas diferentes da casa, bastando seleccionar a zona atribuída a cada sistema de som, que podem ser apenas umas colunas wireless activas, desde que Roon Ready.
Ou deixe que seja a Roon a escolher a música adequada para o tema da festa ou a faixa etária dos presentes, dando-lhe apenas uma canção romântica anos 70 como ‘deixa’, assim algo mais ‘swift’, de Taylor Swift, ou Ariana Grande.
E quem diz pop, diz clássica ou jazz. A Roon Radio encarrega-se da playlist. Não confundir com Internet Radio, que a Roon também oferece, embora, por enquanto, tenha de introduzir a URL das estações favoritas uma por uma, o que me deixou um pouco perplexo. Com a TuneIn seria tudo mais fácil. Mas vamos ter de aguardar, como a Roon explica.
Se ainda trabalhasse na rádio (XFM: Audiofilia Aguda), levava a Roon comigo. Os ouvintes davam o mote para o programa do dia, e eu só tinha de activar a Roon Radio e ia beber um café. Será que na Smooth FM conhecem a Roon?
A Roon vasculha no meu arquivo e vai tocando faixas similares, artistas ou géneros relacionados no tempo e no modo: Leonard Cohen, Bob Dylan, Mark Knopfler, Annie Lennox, Paul Simon, e por aí fora. O mesmo com música clássica ou étnica. Se eu seleccionar uma faixa de Mariza, a seguir a Roon propõe-me Concha Buika, para logo depois propor Mafalda Arnauth.
...a Roon vai descobrir muitos discos que já nem se lembrava que tinha na sua colecção digitalizada...
Quando não encontra nada de similar no seu arquivo musical (NAS, hard disk) ou nos favoritos da Tidal, a Roon arrisca dar-lhe propostas de mix alternativo do tipo random: abrir com os Queen (pop) e passar para Lester Young (jazz) e deste para Andrea Bocelli (pop/clássico), seguido de Dean Martin (swing) e Gloria Estefan (pop latino)! Uma salada deliciosa!
Sem música é que nunca. Garanto-lhe que vai descobrir muitos discos que já nem se lembrava que tinha na sua colecção digitalizada. E outros que vai envergonhar-se de ter: porque diabo ripei eu este disco?...
…se quiser saber o que a malta nova anda a ouvir, peça-lhes o título de uma canção, busque na Tidal e depois deixe a Roon à solta..
Se achar que a Roon já está a abusar da sua paciência, e a escolher música que não lhe apetece ouvir, seleccione um disco ou faixa mais adequado ao seu ‘mood’, e ela pega na deixa e entra logo nos eixos. Por exemplo, se abrir com David Crosby, segue-se Donald Fagen, Bruce Hornsby e Paul McCartney.
E se quiser saber o que a malta nova anda a ouvir, peça-lhes o título de uma canção, busque na Tidal e depois deixe a Roon à solta.
Quando voltar a conversar com os filhos ou netos, já vai estar up-to-date: Flatbush Zombies? Krept&Konan? Shmoney Shmurda? Shy Glizzy? Kodak Black? Adamn Killa? Caramba, eu nem sabia que estes gajos existiam! E utilizam linguagem capaz de fazer corar um carroceiro: get the fuck out of my face (Parental Advisory: Explicit Content).
Claro que a Spotify e outros fazem algo de semelhante – e de borla. Mas não fazem a gestão integrada de toda a informação musical disseminada por terabytes de dados armazenados nos seus discos rígidos e NAS.
…não há nada que chegue sequer aos calcanhares do software Roon…
A qualidade paga-se - caro
‘Secretárias’ destas são raras e fazem-se pagar caro. O software RoonServer custa-lhe 119 dólares por ano ou 499 para sempre. Um pouco excessivo, se considerarmos que o Media Player JRiver faz algo de parecido por 50 dólares. Pois, mas não é a mesma coisa. Aliás, não há nada que chegue sequer aos calcanhares do software da Roon. Só no âmbito da gestão de fotografia conheço algo de semelhante. Pode experimentar o Roon grátis por 14 dias.
Mas a Roon não se limita a organizar a sua agenda musical. Melhora a qualidade do som de uma maneira geral e em particular do seu DAC (desde que Roon ready), configurando a saída com presets (configuração pré-definida) ou ao gosto pessoal, ao nível de DSP (digital signal processing).
Headroom Management, Sample Rate Conversion (PCM ou DSD até ao máximo de resolução do DAC) e ainda MQA; ou opção por filtros Linear ou Minimum Phase (Precise ou Smooth); e para audição com auscultadores: Crossfeed, por exemplo, para melhor separação estéreo; ou presets específicos, por enquanto para uma determinada marca apenas: Audeze. Para quando a Hifiman, a Focal ou a Sennheiser?
Pode utilizar o software da Roon gratuitamente durante o período experimental. Mas fica desde já avisado: manter a Roon para sempre ao seu serviço é uma tentação irresistível.
E pergunto-me: como foi possível ter vivido tanto tempo sem a Roon?
Eu próprio me pergunto: como foi possível ter vivido tanto tempo sem a Roon? Logo eu, a quem a Roon foi apresentada no Highend2015, em Munique. Talvez eu me tenha assustado, quando me falaram do preço. Contacte o distribuidor nacional AJASOM para se informar sobre a melhor forma de se tornar um ‘roonista’.
Fusão nuclear
O ovo ou a galinha?
RoonServer é um Media Player ou Advanced Audio Transport. Mas é apenas software puro – e não duro, neste caso. Pode ser instalado no seu PC ou Mac, e controlado também por smartphone ou iPad, só precisa que o seu equipamento de reprodução (DAC) seja compatível (Roon Ready).
Mas a Roon Labs considera que ‘the best way to experience Roon’ é utilizar um dos seus servers da série Nucleus, concebidos especificamente para este software, e que funciona como um hub ou core, para utilizar a própria designação da Roon Labs, que organiza e distribui a sua música por toda a casa, em simultâneo ou independente por sala (Zones), através da sua rede doméstica.
Esta é, sem dúvida, a resposta definitiva à questão eterna sobre qual nasceu primeiro: o ovo ou a galinha? Neste caso, foi o ovo (software) e depois a galinha (Nucleus), que se apresenta em dois modelos: Nucleus (1.725,00 euros) e Nucleus + (2.950,00).
Se fica satisfeito com o ovo, não precisa da galinha, desde que o equipamento associado seja Roon Ready e o seu computador não se engasga. Só precisa da App (que é grátis) instalada num PC, iPad ou smartphone e da assinatura (que é cara). Com o ovo e a galinha faz uma canja musical de comer e chorar por mais.
Esta é já a mais recente versão do Nucleus, que mantém as mesmas características e especificações dos modelos anteriores, numa nova caixa, com dimensões diferentes para aceitar discos SSD e HDD de 15mm, e duas saídas HDMI para processadores externos de som Surround de alta resolução, além da imprescindível Ethernet e 2xUSB para ligar DACs externos. A produção foi também transferida da China para os EUA.
O Nucleus, no fundo, é um computador dedicado única e exclusivamente à gestão (e arquivo, se instalar um disco SSD extra) da sua biblioteca digital. Não tem Google mas também não apanha vírus (o sistema operativo é baseado no Linux) e é totalmente silencioso, porque não tem partes móveis (desde que utilize SSDs) nem ventoinhas: toda a caixa é um enorme dissipador.
O Nucleus é vendido sem hard-drive de armazenamento, além da interna onde corre o programa. A escolha é sua: um SSD de 2 terabytes, por exemplo, é caro. Mas é muito mais silencioso que um NAS ou um HDD. Pode ainda utilizar o Nucleus apenas como gestor poupando a RAM do seu computador aos trabalhos pesados de processamento de toda a metadata.
Se tem uma vasta colecção opte pelo Nucleus+ que tem mais RAM e processadores mais rápidos. Por vasta, entenda-se mais de 100 000 mil faixas ou ficheiros, de resto o Nucleus chega e sobra…
Liguei o Roon e um Naim Uniti Atom ao meu router (1Gb) por cabo CAT6 Ethernet e os DACs Chord Hugo 2 e Meridian Explorer 2 ao Roon por USB. Criei assim 5 zonas que podia controlar e configurar de forma independente, reproduzindo faixas diferentes simultaneamente: Chord, Meridian, Naim, Nucleus e System Output (PC). O Explorer 2 e o Hugo 2 foram utilizados como amplificadores de auscultadores, e este último ligado ao Atom por interconnects RCA.
O software da Roon dá um banho de proporções bíblicas no JRiver. Na gestão e na reprodução.
Sobre as minhas experiências, já fiz o relato na primeira parte desta análise. Acrescento apenas, em conclusão: desde que testei o Innuos que não me lembro de ter tido tanto prazer em ouvir música em streaming. Tanto da Tidal como do meu arquivo, incluindo o ‘arquivo morto’. O software da Roon dá um banho de proporções bíblicas no JRiver. Na gestão e na reprodução.
Tudo funciona na perfeição: não há um ruído, um clic, um soluço, um dropout. A única coisa imediatamente audível é que a qualidade do som melhora muito. E a gestão do programa musical é a mais fluida, lógica, prática e fácil que já utilizei. Imprescindível. Uma bela com um único senão: o preço!
P.S. Durante todo o tempo que estive a escrever este texto a Roon foi passando uma selecção musical pop/funk/country sem mácula a partir da minha ‘deixa’: ‘Croz’, de David Crosby. Nem dei por o tempo passar…
Para mais informações: