No âmbito de uma das minhas habituais visitas à Ultimate Audio, em busca de novidades para reportar no Hificlube e material para analisar, tive o prazer de voltar a encontrar Mestre Rui Borges, cuja notável carreira de construtor e (re)construtor de giradiscos analógicos tenho seguido (e divulgado) há muitos anos.
Um dia, num artigo publicado com grande sucesso no DN, em 2004, chamei-lhe ‘O Alfaiate do Som’, porque ele tem essa rara capacidade de ‘fazer som por medida’, de que transcrevo abaixo um excerto:
‘… ainda há pessoas para quem o áudio é uma paixão, um projecto de vida – para toda a vida; pessoas que não toleram que a expressão sincera dos seus gostos íntimos seja recebida com a indiferença, por vezes a roçar o sarcasmo, de quem não tem tempo a perder porque precisa desesperadamente de facturar. Rui Borges é um audiófilo praticante: 'it takes one to know one', dizem os americanos.
Quando alguém angustiado sobe as velhas escadas de madeira com um gira-discos ferido na asa, é recebido com a compreensão de quem conhece a dor de perder um objecto amado. E tudo fará para o salvar. Outro diria logo: 'Isso já não se usa...', como se as emoções fossem descartáveis ou passassem de moda. Rui Borges recupera gira-discos com a religiosidade de quem restaura obras de arte sacra…
JVH in Sons, Diário de Notícias, 16 Janeiro 2004
Nota: os leitores podem ler o texto integral, na versão pdf publicada no final deste artigo, ou clicando aqui.
A idade do bronze
É essa a diferença entre um ‘hobby’ e uma paixão verdadeira: esta dura para toda a vida. E é bom poder constatar que, apesar da saúde precária e das vicissitudes da vida, nunca abandonou a sua paixão pelo áudio analógico, cujo pináculo é hoje o gira-discos ‘Pendulum’, agora com a opção de um novo prato construído em alumínio e bronze, que aumenta a massa, logo a inércia e a estabilidade rotacional, e elimina muitas das vibrações e ressonâncias pelo facto de utilizar materiais com características diferentes.
A diferença não é meramente cosmética, é também imediatamente audível. Rui Borges permitiu-me comparar o ‘som’ de ambos os pratos, num sistema composto por:
Rui Borges Pendulum c braço Kuzma e célula TopWing Suzaku (nova distribuição da UAE)
Luxman LX 380, integrado a válvulas de 20W (novidade na UAE)
Prévio de Phono ASR Audio
Colunas Avantgarde Uno com grave activo
Cabos Audience Audio (nova distribuição da UAE)
Só precisei de ouvir meia dúzia de espiras do LP de ‘Voodo’, do Sonny Clark Memorial Quartet, para constatar que a ‘Idade do Bronze’ é a ‘Idade de Ouro’ de Rui Borges: na medida em que as ressonâncias baixam e a estabilidade aumenta, o som ganha claridade, transparência, definição e ataque.
Por comparação com o prato de alumínio, o híbrido de alumínio e bronze confere ao som uma tonalidade mais seca, mas não menos envolvente. É curioso constatar também que o ‘som do alumínio’ é mais ‘analógico’, no sentido em que tem os contornos menos definidos e revela menos contraste; enquanto o ‘bronze’ ultrapassa o melhor digital na ‘limpeza’ geral do som.
Será que quando ambos atingirem a perfeição vão afinal soar...iguais, e acaba-se a polémica? Ou tudo não passa de um ritual? Ver 'Arte Analógica', publicado originalmente no DN.
'Mas com o analógico é possível afinar o som à medida do gosto de cada um, mudando o braço, a célula e a respectiva carga e o VTA, num equilíbrio de forças até atingir a perfeição...' , revelou Rui Borges entusiasmado mas sempre com a humildade dos verdadeiros 'eleitos' que o caracteriza.
Uma experiência que recomendo e está à sua disposição na Ultimate Audio Elite, em Benfica.
Alguns documentos em vídeo para a futura biografia de Mestre Rui Borges