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Duetto é a primeira coluna ativa da Sonus faber, e eleva o conceito lifestyle da Omnia ao estatuto audiófilo. Por 3.990 euros, a Duetto dá-lhe tudo o resto: amplificadores, DACs, Streamer e colunas. Só precisa de um telefone para ouvir música de qualidade, sem precisar de demasiados componentes – ou até de cabos.
Ouvi as Duetto, pela primeira vez, em Munique, numa apresentação exclusiva para a imprensa, sob cláusula de confidencialidade, no âmbito do HighEnd 2023, onde partilhou o palco com as Stradivari G2 e as McIntosh ML1 II, deixando-me uma impressão duradoura. A Sonus faber enviou-me, amavelmente, um par de Duetto para testar. É sobre elas que tenho o prazer de vos escrever hoje.
Design de Livio Cucuzza
Segundo Livio Cucuzza, o atual desenhador-chefe da famosa marca italiana, o objetivo das Duetto é levar o som Sonus faber a mais consumidores oferecendo também modernidade e versatilidade, incluindo capacidades de streaming, como fator de distinção na família Sonus faber.
O projeto Duetto é composto por um par de colunas ativas sem-fios, sendo que uma das colunas tem as funções de Master e a outra funciona como satélite, ambas ligadas por UWB de baixa latência, dispensando o habitual cordão umbilical da concorrência. Ora, isto é novo e distintivo.
Contudo, é importante referir que, para transmitir o sinal por UWB, as colunas têm de se ‘ver’ uma à outra. Qualquer pessoa ou obstáculo (mesa, sofá, lareira, etc.) entre elas e o satélite deixa de receber o sinal em condições, ou pode mesmo desligar. Nestes casos, devia haver uma opção de ligação por cabo.
Sonus faber de gema
Na caixa pode ler-se que a Duetto é ‘made in China’, tal como a maioria da concorrência, aliás. Mas o design italiano é evidente, logo que as retiramos do saco de algodão preto que as envolve e vemos a caixa em forma de alaúde, marca genética da Sonus faber.
Há, no entanto, três características de design que as distinguem das outras monitoras da marca:
- O painel frontal é ligeiramente curvo, com arestas boleadas e sem descontinuidades, integrado no corpo da caixa e com acabamento integral em nogueira, no estilo das Olympica Nova. A tradicional aplicação em pele, está limitada à moldura que integra os dois altifalantes; e ao topo, onde está instalado o sistema de controlo SENSO, herdado da Omnia.
- A grelha de dissipação traseira em alumínio, que integra a saída vertical do pórtico reflex curvo, funciona como controlo de vibração e dissipador de calor da eletrónica interna.
- No interior de cada coluna, está montado um amplificador de 100W de Classe A/B, que alimenta o tweeter de cúpula de seda de 25 mm, com guia-de-onda para melhorar a resposta off-axis; e um amplificador de 250W de Classe D, que alimenta a unidade de médio-graves com cone de papel tratado de 133 mm e íman de neodímio, montado num cesto ‘orgânico’, que elimina ressonâncias; e ainda dois DAC por coluna: um independente para cada unidade ativa, sendo que o de graves é AKM e o de agudos ESS Sabre; além do circuito de streaming, claro.
Duetto com e sem fios
Assim, se utilizar o seu telefone como interface para aceder à Tidal Connect e Spotify Connect; ou o seu PC para correr o Roon (Certified), desde que as Duetto estejam ligadas por WiFI à sua rede doméstica, ou por AirPlay 2, Chromecast e Bluetooth Aptx HD, só precisa mesmo dos cabos de corrente.
Neste momento, estou a ouvir os Coldplay na Tidal (24bit/96kHz Flac) via Bluetooth e não tenho nada de negativo a apontar, embora o som seja ainda melhor com a Roon via Ethernet.
Embora as opções sem-fios abundem, vai continuar a precisar de cabos para ligar as fontes analógicas (apenas uma entrada RCA de linha, comutável para Phono) ou digitais: Ethernet, HDMI (ARC para ligar à TV) e ótica (transporte digital). Eu até liguei o meu leitor-Universal Oppo diretamente à entrada de linha RCA da coluna Master e ouvi um velho favorito num raro DVD-Audio: Livingston Taylor’s ‘Ink’ (Chesky 96/24 Super Audio Disc). Apesar de o sinal analógico ser alegadamente re-digitalizado pela Duetto, soou bem como sempre.
Cabo escondido com a ponta de fora
Todos os cabos estão escondidos numa cavidade na traseira da base da coluna, e podem descer pelo interior dos suportes dedicados, que não me foram fornecidos. Admito que a ideia é boa, em termos visuais, mas não em termos práticos, porque, com suportes normais, ligar todos os cabos e aceder aos comandos lá escondidos de Reset e Pairing (para emparelhar a coluna Master com o satélite) é uma chatice. Felizmente, só precisa de fazer isso uma vez. A partir daí, pode servir-se do sistema SENSO e do controlo remoto, já que a app tem funções limitadas
Junto da entrada Ethernet, e também no satélite, podem ver-se entradas USB inativas, pois são apenas para gestão de fábrica (tal como na Omnia), e não permitem, por exemplo, reproduzir diretamente ficheiros contidos num ‘flash pen', o que é pena, pois seria uma mais-valia na já elevada versatilidade da Duetto. Para isso, vai continuar a precisar de um computador ligado à sua rede.
Pode ainda ligar a coluna Master a um subwoofer externo, o que eu acho desnecessário (tem graves que cheguem), a não ser para aplicações AV via HDMI ARC nas TVs que o permitem, substituindo com vantagem enorme o sistema áudio interno dos televisores, que é normalmente de baixa qualidade acústica.
A Duetto é uma Omnia de duas-colunas, e por isso soa ainda melhor.
SENSO e sensibilidade
A Duetto é uma Omnia de duas-colunas livres, e por isso soa melhor. O sistema SENSO, sensível ao toque, que herdou da Omnia, é uma ideia gira mas continua um pouco recalcitrante. Com o SENSO pode controlar o volume e as funções de ligar/desligar ou play/pause dependendo do tempo durante o qual se mantém o dedo sobre a barra de código de cores mais pequena. E deve deslizar o dedo lentamente para a direita ou esquerda para fazer a seleção de fonte com a respetiva cor de led: HDMI (laranja), Line/Phono (magenta) e ótica (fúcsia). Mas pode sempre recorrer ao controlo remoto.
De qualquer modo, na prática, tudo o que precisa é de um smartphone para navegar pelas entradas de streaming: Spotify Connect (verde), Tidal Connect (azul claro/turquesa), Chromecast (amarelo), AirPlay2 (branco), Qualcomm AptX HD e Bluetooth AptX HD (azul). Pode até falar com a Duetto, uma vez que suporta Siri e Google Assistant. Toda a família pode facilmente emparelhar o respetivo telefone e pedir-lhe por voz para tocar música da Spotify ou YouTube. E a música até entra em pausa para o deixar atender as chamadas. Porreiro, pá!
Roon Ready
A Duetto é Roon Ready (roxo), assegurando a compatibilidade com vários formatos de ficheiro, incluindo MQA (até 96kHz) e DSD, que é convertido para PCM. A Roon é uma aplicação cara, pelo que pode experimentar uma aplicação gratuita (com PUB) como a mConnectLite (Chromecast), que lhe permite reproduzir música a partir de qualquer serviço de streaming com o seu telemóvel, seja ele a Tidal, o Qobuz ou um NAS com as suas músicas favoritas. Funciona perfeitamente, com algumas limitações na resolução máxima. Nota: pode comprar também o mConnect Player por 6,5 euros.
Estes são os formatos compatíveis com a Duetto:
- WAV, FLAC and AIFF até 32bit/192kH
- ALAC (Apple Lossless) até 32bit/192kH
- MP3 — até 48kHz, 320kbit (16 bit)
- AAC — até 48kHz, 320kbit (16bit)
- OGG and WMA — até 48kHz (16bit)
- Bluetooth — SBC, AAC e aptX, Aptx HD
Nota: a resolução máxima de transmissão entre colunas via UWB é de 96kHz, pelo que os 32bit/192kHz são redundantes.
Aplicação de controlo e afinação
A Duetto oferece um ‘app’ de controlo, acessível via código QR na contracapa do manual, com a qual pode ajustar os agudos, o equilíbrio entre canais e controlar o grave no posicionamento das colunas relativamente à parede. Pode ainda trocar a posição – canal esquerdo ou direito – da coluna Master.
Eu optei por cortar 1 dB nos agudos; desativei o ‘Loudness Maximiser’; e ativei Near Wall (embora as colunas estivessem a 1 metro das paredes) porque com certos tipos de música os graves podem ser excessivos e este ajuste pode ajudar.
Nota: o manual (quick start guide) que vem com a Duetto serve para pouco. Opte pelo manual online que pode abrir aqui.
Qualidade de som e versatilidade
Testei a Duetto em todas as suas vertentes, menos com HDMI/ARC. A fonte principal foi o meu Samsung Galaxy S23 Ultra (Tidal Connect, Bluetooth, Google Home, etc.). E, claro, a Roon no meu PC. Mas também utilizei o andar de streaming e prévio do meu Rose RS520, assim como o andar de prévio do novo iFI iCAN Phantom (teste exclusivo em breve), com os quais obtive excelentes resultados.
Durante os testes, a Duetto precisou de um breve período de adaptação, após o qual o som característico da Sonus faber, marcado pela clareza, transparência e graves dinâmicos, se apresentou ao serviço. Não demorou muito para que a unidade de médio-graves de longa excursão estabilizasse e o som se tornasse mais integrado, com um bom equilíbrio tonal.
Os graves têm tensão e extensão, dispensando um subwoofer em favor da solidariedade tonal dos dois altifalantes. A vantagem de ter amplificadores e DACs independentes para cada coluna só aumenta o controlo e o ataque do som. Como mencionado anteriormente, reduzir os agudos em 1dB, utilizando o equalizador da Duetto melhorou a qualidade geral do som. Após uma semana de utilização, o som estava no ponto.
Génese cultural
Para os que procuram respostas para as suas dúvidas sonoras, a Duetto responde com uma experiência rica transversal a vários géneros musicais. Oiçam, por exemplo, os coros etéreos dos Voces8 em May It Be, o Concerto para Violino No. 4, de Mozart, ou o Nascimento de Apolo, da Sagração da Primavera, de Igor Stravinsky, pelos Trondheim Solistene; e, porque não, Blowing in the Wind, de Bob Dylan, que ganha um novo significado com a Duetto.
Embora nascida na China, a Duetto tem a sua génese cultural nas margens do rio Pó, em Vicenza, e foi desenvolvida no âmbito da cultura veneziana, o que lhe dá à qualidade de som uma dimensão especial de instrumento musical afinado.
Adoro a voz da Duetto e a comodidade e beleza que traz à minha vida quotidiana.
Conclusão: simbiose perfeita
A Sonus faber Duetto alia comodidade e qualidade de forma artística. Integra-se perfeitamente na vida quotidiana, oferecendo uma experiência musical que transcende os seus pequenos inconvenientes. O sistema de transmissão UWB é sensível a obstruções físicas e o sistema SENSO nem sempre responde bem, admito. Mas estes pormenores são ultrapassados pela versatilidade geral e o apelo estético, que torna a Duetto a escolha certa.
O preço é também superior ao de concorrentes próximos. No entanto, a Duetto é o testemunho do comprometimento da Sonus faber de criar produtos bonitos e versáteis. E eu adoro a voz da Duetto e a comodidade e beleza que traz à minha vida quotidiana.
Nota: Esta análise não dispensa a avaliação pessoal dos potenciais compradores, que se devem informar e marcar uma audição no distribuidor Imacustica, para poderem decidir em consciência.
Características
- Altifalantes: Tweeter: Sistema com 1.1”, ímans em Ferrite (neodimío) com topos em cobre, cúpula de seda e sistema dedicado do tipo guia-de-onda. Midwoofer: Sistema com 5.25”, ímans em Ferrite (neodimío) com topos em cobre e anel de alumínio. Cone de longa excursão.
- Divisor de Frequências: 1900Hz – desenvolvido pela Sonus faber.
- Resposta em Frequência: 37Hz –30.000Hz
- SPL máxima: 105dBSPL @1m
- Amplificação interna: Tweeter: 100W Class AB / Midwoofer: 250W Class D
- DAC: SABRE, AKM
- Conetividade: RCA Linha/Phono IN/óptica/HDMI ARC/EARC/SUB Output
- Dimensões (A X L X P): 342 x 210 x 272mm (sem suportes), 1082 x 298 x 371mm (com suportes)
- Peso: 6,8Kg cada coluna - 7,8Kg suportes
- Preço: 3.990 €
Para mais informações: IMACUSTICA
Sonus faber Duetto - video oficial da marca