A SOtM (soul of the music) diz que os seus equipamentos nos devolvem a alma da música. Será que a música tem alma? E qual o preço da alma? Neste caso, precisamente 960 euros, o preço de um simples comutador de rede. Magia ou banha-da-cobra?
Pagar quase mil euros por um ‘network switch’, quando se pode comprar um D-Link por menos de 50 euros, em promoção na Fnac, com o mesmo número de entradas RJ45, e que cumpre a mesma função, é um acto de fé, quando não mesmo um auto de fé! Mas não há nada como experimentar ou, melhor ainda, comparar…
Os routers fornecidos pela MEO têm um número limitado de ligações RJ45. Quem tem uma parafernália de equipamentos precisa de uma ‘extensão’, uma espécie de ‘régua de rede’, para os ligar a todos à rede doméstica simultaneamente.
…o que distingue um SOtM SNH-10G de um D-Link TL SG108S. O preço? Sim, como é dolorosamente óbvio, mas não só…
A mais vulgar é a D-Link, e nunca passou pela cabeça de ninguém que ela pudesse ter influência na qualidade do som. A informação digital é transmitida por ‘pacotes de dados’ que ou chegam lá, ou não chegam lá. E, se não chegam, o router continua a enviá-los até que cheguem. Todos.
Posto isto, em termos (muito) leigos, o que distingue um SOtM SNH-10G de um D-Link TL SG108S. O preço? Sim, como é dolorosamente óbvio, mas não só…
Há muito que sabemos que a música sob formato digital não é apenas zeros e uns num código binário, que determinam a amplitude do sinal, é o tempo também – e o tempo é por natureza analógico, como a música.
A tecnologia digital foi criada para transmitir dados – sem alma – que só têm de chegar lá todos, não interessa a ‘ordem’ de chegada. Mas, quando se trata de música, interessa – e muito.
À anarquia temporal do digital chama-se jitter, que é uma espécie do Covid19 da música. A música é harmonia, e a harmonia não é possível com ‘desordem’.
Se non è vero…
A literatura sobre o jitter é abundante, e não vamos perder aqui muito tempo com isso. Google it up, and knock yourself out! Até porque é também de tempo que se trata, e o ouvido humano é mais sensível a desvios temporais que a desvios de fase.
Há quem diga que isso se deve a factores biológicos relacionados com a audição e a capacidade que os seres humanos têm para distinguir a distância e a localização de uma fonte de som, algo que nos permitiu sobreviver a ataques de predadores durante milénios. Seja. Se non è vero, è ben trovato.
Sabe-se que um dos principais causadores de ‘anarquia temporal’ num sistema digital é o relógio que regula a cadência da amostragem. Quanto mais preciso é o relógio, melhor é o som.
Ter ou não ter relógio, eis a questão
Ora, o SNH-10G permite integrar um circuito de Master Clock SLCK-EX (+840 €), e estaria assim explicada a sua performance sonora. Mas nem sequer é esse o caso aqui, pois a versão em análise é básica: faz apenas comutação de rede. Investiguemos, então.
O comutador de rede SNH-10G é uma caixinha trapezoidal de metal com 30 cm por 20 e apenas 5 cm de altura. O painel frontal em alumínio claro parece uma renda de bilros com os leds coloridos a piscar.
O painel traseiro tem 8 entradas RJ45 (Ethernet) e duas entradas SFP (ópticas); a entrada para alimentação externa (básica com um transformador mas pode ser substituída por um PSU especial SPS500) e um interruptor para ligar/desligar com 3 posições: off, on c/ luzes e sem luzes. Eu gosto de ver as luzes a piscar.
O SNH-10G liga-se diretamente ao router para ativar e depois ligam-se os outros equipamentos sem nenhuma ordem específica: o computador, leitor de rede (no meu caso, um Naim Atom Uniti), NAS, etc.
Nota: para ligar por fibra precisa de um conversor.
A primeira vez que ouvi o SNH-10G foi quando me foi oficialmente apresentado pela SOtM, no HighEnd 2019, em Munique. Na demonstração, foram utilizados não um mas dois comutadores, um deles ligado por sua vez a um ‘relógio 10Mhz’ SLCK OCX10.
Nos shows, as audições são feitas um pouco à pressa, mas deu para perceber que o SNH-10G+Master Clock dava um impulso qualitativo bem audível ao som: limpo, transparente, dinâmico, tridimensional.
Claro que, em Munique, a SOtM apresentou a artilharia toda, que também pode ouvir na Ajasom:
sMS-1000SQ music server sDP-1000EX DAC & Pre, sCLK-OCX10 master clock tX-USBultra USB signal regenerator, Dual sNH-10G audio grade network switch sPS-500 power supply mT-1000 power strip
Aqui em casa, também não tive dúvidas em preferir o SNH-10G ao D-Link, mesmo sem o relógio: há, sobretudo, mais silêncio, menos ‘aspereza’ no som; e mais dinâmica também; e a textura é mais macia, como quando filtramos a água para lhe retirar as impurezas e o gosto a cloro. De tal maneira, que não mais o tirei do sistema.
Quem usa e abusa do streaming, dificilmente vai prescindir de mais este passo no caminho para a perfeição possível…
A diferença vale mil euros? Talvez não. Conhece a lei dos rendimentos decrescentes? Mas quem já investiu muitos milhares no sistema e usa e abusa do streaming, como eu, dificilmente vai prescindir de mais este passo no caminho para a perfeição possível, depois de ouvir a diferença.
Tudo isto é muito subjetivo, dirá o leitor. Haverá alguma forma de ‘medir’ o efeito do SNH-10G na rede?
Fui medir a velocidade da minha rede de fibra MEO a 500Mb/s com o speedtest da Ookla e outros. A velocidade de download era invariavelmente mais alta, cerca de +10Mb/s, com o SNH-10G, do que quando tinha o PC ligado ao D-Link.
E isso tem algum significado técnico? Não sei. Mas achei que deviam saber. Talvez a redução de ruído na rede doméstica facilite a transmissão de sinal, daí o aumento de velocidade da net e a melhor qualidade de streaming, logo do som. Só é pena o SNH-10G não ser também gestor de rede, substituindo o router com um novo VPN associado. Mas isso nenhum faz, e seria pedir um (outro) milagre...
Para mais informações: AJASOM