A Rob o que é de Rob
Rob sempre defendeu que não havia nada de errado com a teoria de Shannon/Nyquist, e que a tecnologia de conversão analógico/digital era matematicamente perfeita, se cumpridos os critérios de limitação de banda do sinal contínuo; e se este fosse medido e quantificado a intervalos regulares a uma taxa que teria de ser pelo menos o dobro da frequência mais alta a converter. Quando nasceu o CD, optou-se por 22kHz a uma taxa de amostragem regular de 44.100 vezes por segundo. A tecnologia não permitia mais na altura.
Até aqui tudo bem, ninguém ouve coisa nenhuma acima de 20kHz (16 a 12kHz, conforme a idade, é típico num adulto saudável, menos em jovens com histórico de abuso auditivo: auscultadores de enfiar no ouvido e discotecas).
Mas há algo que nunca se perde com a idade ou o abuso: a capacidade do cérebro para perceber diferenças temporais, algo de inato e que nos permite distinguir a natureza (reconhecimento pelo timbre) e localização dos sons (pela diferença do tempo de chegada ao ouvido esquerdo e direito).
Horowitz, aos 80 anos, reconhecia imediatamente uma nota alta de piano desafinada; tal como Karajan sabia muito bem quando o oboé entrava fora de tempo.
O principal problema do digital reside na conversão D/A, ou seja na reconstrução da onda sinusoidal analógica a partir do código binário, porque o ruído de quantificação tem de ser eliminado por um filtro de passa-baixas, e isso interfere com a qualidade do som na banda áudio, não na amplitude e resposta em frequência, mas na resposta transitória - no eixo do tempo. Daí a importância do filtro WTA, Watts Transient Aligned na reprodução musical.
The million taps question
Uma das soluções é ‘empurrar’ para cima a frequência de corte 4x, 6x, 16x , por meio de interpolação, utilizando coeficientes (taps) de redução de excesso de ganho acima de 0dBFS, devido ao efeito de sobreamostragem (normalmente 256 taps). Segundo Keith Howard, o Chord M-Scaler, por exemplo, que é o máximo expoente desta tecnologia revolucionária, ‘runs at 4096 x sampling frequency’ e utiliza 1 015 808 taps (coeficientes) para garantir uma filtragem sem desvios temporais na banda áudio!
Oiçamos Robert Watts:
‘Timing is very important when designing DACs and so are taps; especially the number of taps. These are more fully known as FIR taps – put simply, the number of taps is an indication of the amount of memory required to implement the filter and the amount of filtering the filter is capable of. It is my belief that an FIR filter matched to our brain’s processing power would require 1,000,000 filter taps, we have most recently achieved 1,015,808 taps with the M-Scaler and the increase in tap length provides a substantial improvement in sound quality.
Isto só é possível porque a Chord não utiliza no M-Scaler ‘chips’ pré-programados de fábrica, mas ‘chips’ programáveis Xilinx XC7 A200T FPGA (field programmable gate array) com 750 núcleos DSP, ‘artilhados’ por Robert Watts com um algoritmo exclusivo.
Com mais ou menos ‘taps’, é esta a tecnologia de conversão de Robert Watts utilizada em todos os produtos digitais da Chord.
Nota: os leitores de espírito tecnológico que pretendam aprofundar os seus conhecimentos podem ler no final do artigo ‘Tapping Into Better Digital Audio’ por Keith Howard, que regularmente faz os testes de laboratório dos produtos que analiso na revista Hi-Fi- News.
The taste of the pudding
Para a maioria dos leitores, isto é o que menos interessa. Como dizem os britânicos, ‘the taste of the pudding is in the eating’. Neste caso, o grupo JLM serviu-me um verdadeiro banquete, pois de uma assentada vou poder provar o DAC/Headamp Hugo TT2, o M-Scaler e o amplificador de 2 x 100W TToby.
Chord Hugo TT2 é de outra galáxia
A construção do Chord TT2 é robusta e compacta. A caixa quadrada de alumínio rígido, com 5 x 24 x 23 cm, pesa 2,3kg e apresenta-se anodizada em negro ou prata.
O design ou se adora ou se detesta, mas é original e distintivo, com a sua estética de filme de ficção de Jean-Luc Besson, dominado pelo misterioso globo de luz do controlo de volume, qual exoplaneta de uma galáxia distante; e ao centro a janela arco-íris circular que parece ter sido inspirada nas 20 Mil Léguas Submarinas.
De resto, no painel frontal apenas 3 entradas para jacks de auscultadores à direita: 2 x 6,35 mm e 1 x 3,5 mm, compatível com jack em ângulo recto (nenhuma balanceada); e 3 botões, que parecem esferas de rolamentos, com as funções: menu, input e on/off.
Logo acima dos botões, um pequeno mostrador em acrílico. Na versão anodizada em preto, que me tocou, literalmente, quase não se dá por ele, pois só dá acordo de si quando se toca nalgum botão.
É então que se ilumina para dar toda a informação operacional em sequência rápida sobre o estado do equipamento e modo de funcionamento: do volume ao input (entrada seleccionada), filtros e amostragem, para adormecer de novo ao fim de 10s.
Uma janela rectangular maior, também em acrílico negro, que começa no tampo superior e se derrama depois sobre o lado esquerdo, esconde elegantemente a antena do circuito Bluetooth AptHD. O meu TT2 apareceu nas definições como Hugo TT2 634, mas não consegui emparelhá-lo com o meu velhinho iPhone5. Aparentemente, o TT2 não se dá com telefones obsoletos…
Os britânicos gostam de ser diferentes – até no Brexit…
Para correr o menu, joga-se com o botão do dito e o de input. No melhor estilo britânico, é pouco intuitivo, e obriga a passar por todos os passos para voltar ao primeiro. Em alternativa, pode optar pelo controlo remoto , no qual pode escolher com mais facilidade os filtros, por exemplo: Filtro 1: neutro (ideal para 44,1kHz); 2 neutro com pendente no agudo (ideal para HD de 88,2 até 786kHz); 3 + quente e doce (ideal para discos demasiado brilhantes) ; 4 + quente com pendente ++ rápida (ideal para DSD e ultra HD). As diferenças são subtis. Na dúvida, opte por FIL1, e esqueça.
No remoto, pode ainda subir o volume, seleccionar fontes, regular o DIM (nível de iluminação do display) e o efeito X-PHD (crossfeed) na audição de auscultadores: XFD0 (bypass), XFD1 (mínimo), XFD2 (moderado), XFD3 (alargado). Quanto mais ‘crossfeed’, mais tem a sensação de espaço ‘à volta da cabeça’ e menos sensação de presença ‘ dentro da cabeça’. Ao contrário do Dave, o TT2 não tem a função Phase, o que é pena. Eu preferia esta função ao crossfeed.
Nota: a escolha dos filtros de ‘tempero’ é muito pessoal e depende da música que se está a ouvir; já o ‘crossfeed’ (mistura ligeira dos canais esquerdo e direito na audição com auscultadores para evitar o efeito duplo-mono) depende também muito do equipamento complementar, nomeadamente o tipo de auscultadores: funciona melhor com gravações ao vivo e vídeos.
O lettering é gravado na chapa (sem realce de cor) e é praticamente ilegível no fundo negro. Talvez seja mais legível na versão prata, porque no meu Hugo 2 (prata) lê-se bem. Um pouco de tinta branca na versão preto não iria agravar o preço por aí além, e dava jeito…
Ligação entre dois mundos
Atrás, mantém-se o quase anonimato das múltiplas fichas devido também à ausência de cor contrastante no lettering (1).
As saídas analógicas XLR (balanceadas) e RCA (não-balanceadas) são facilmente reconhecidas, assim como as entradas ópticas (máximo 192 kHz) e USB (com isolamento galvânico que dispensa cabos sofisticados) compatível até PCM 786kHz e DSD512; as fichas BNC já precisam de alguma informação adicional: as do lado esquerdo, identificadas com DX Left e Right, são saídas digitais para ligar a um futuro amplificador digital da Chord; as do lado direito são entradas para receber o duplo sinal digital do M-Scaler (DBNC), sem as quais não é possível atingir a amostragem de 768kHz. Individualmente (BNC 1 e BNC2), são compatíveis com 44,1/352 kHz e 48/384kHz.
Para o ligar à saída coaxial do leitor CD precisa de um cabo com terminação RCA/BNC. Felizmente eu tinha comigo um cabo destes de condutores de prata banhados a ouro da Siltech. Para o ligar à saída do M-Scaler precisa de dois cabos terminados com BNC (fornecidos com o equipamento).
(1) Nota: o manual está disponível no site da Chord (tem de fazer zoom senão é também ilegível), assim como a imprescindível Asio Driver 768kHz para Windows 10, além de 2 reviews muito elogiosas em inglês – quem não sabe ser caixeiro…).
As cores do arco-íris
Quem está familiarizado com os códigos de cores da Chord, ou leu os testes do DAVE e do Hugo 2 (ler em Artigos Relacionados no final do teste), adapta-se logo ao modo de funcionamento do TT2, pois a ‘música das esferas’, como eu lhe chamei, é a mesma, tanto para a identificação do volume de som como da amostragem, utilizando o espectro de luz para identificar o ‘espectro’ de som: do (quase) negro que é a ausência de luz e som, avança-se sucessivamente, partindo do vermelho (mínimo tanto no volume como na frequência: 44,1kHz) ao rosa-lilás (768kHz), sendo a luz branca o máximo de volume e a referência visual do DSD.
As cores relativas ao volume iluminam o globo rotativo central; as cores da amostragem iluminam a janela circular no centro do painel superior (ver fotos de catálogo). No TT2, a informação é também disponibilizada no discreto e fugidio (10s) mostrador alfanumérico, que pode ser lido de frente ou por cima.
Primeiro encontro em Munique
O Chord Hugo TT2 foi-me apresentado pessoalmente por Rob Watts, no Highend 2018 (ver vídeo) e, desde então, andava a tentar pôr-lhe os ouvidos em cima:
Utilizo o Hugo 2 numa base diária, e fiquei de imediato curioso sobre as potencialidades do Hugo TT2, que é uma versão de secretária maior. O coração do processador é um Xilinx Artix 7 FPGA, com 86 x 208Mhz núcleos em paralelo para criar um filtro 16 FS (oversampling) com 98.304 ‘taps’, 5x mais que o TT original (o único que nunca testei), 2 x mais que o Hugo 2 e uma fonte de alimentação de 30 farads de capacidade, com seis condensadores para o rail positivo e negativo, capaz de debitar 18W/8 Ohms e 1,15W/300Ohms de potência no andar de saída (balanceado).
O que significa que, além de DAC, prévio (que pode ligar ao TToby ou a um par de colunas activas) e amplificador de auscultadores, pode (com cabos adaptados) utilizar o TT2 também como amplificador e alimentar directamente um par de colunas de alta sensibilidade (não estou a referir-me aqui a colunas activas mas passivas!). ‘E nem precisam de ser ‘cornetas…’, como diz Rob Watts.
Que bomba!
Isto não é um DAC é uma bomba! Cuidado com o volume, arranque sempre com a luz vermelha que, neste caso, é mais seguro. Na estrada, nunca. Com os Hifiman HE-1000, conhecidos pela insensibilidade eléctrica e ‘sensibilidade’ artística, naveguei em segurança algures entre o verde e o azul (em modo HIGH Gain). Ligado ao TToby e a um par de SF Concertino, não passei do amarelo e do verde claro (em modo LOW Gain). Nunca vai ter falta de potência.
…Tinha chegado a altura do test-drive. Será que é tão bom como o pintam? Não, é melhor!
Start, ready, go
Feitas todas as ligações, incluindo ao transformador de alimentação fornecido, que é, de facto, uma fonte comutada (não deve nunca substituí-la por uma fonte externa, sob pena de perder a garantia), carreguei no terreiro botão a contar da esquerda e no mostrador surgiu CHG, que indica que os condensadores estão a carregar, pois o TT2 não utiliza baterias (isto é uma novidade).
Após alguns segundos, o TT2 inicia o ciclo de abertura. Enquanto no mostrador surge em sequência toda a informação sobre o modelo: Hugo, TT2 e os modos de operação seleccionados: ganho, filtros, amostragem, etc., na janela circular correm todas as cores base do espectro até se fixar na cor correspondente à amostragem seleccionada; e o globo central fixa-se por sua vez na cor e volume utilizado pela última vez (memoriza os volumes correspondentes ao Amp e aos Headphones, uma medida importante de segurança se atendermos à potência instalada).
Hugo TT2 e MQA não se dão bem, mas falam-se por interposta pessoa
Ao trio só lhe falta a Streamer Box para actuar como quarteto. Assim, para aceder à Tidal, liguei-o ao meu PC via cabo USB. Montei os HE1000 numa das entradas e seleccionei USB no controlo remoto. No mostrador, aparece a indicação HP e o globo de luz assume a última selecção de volume guardada na memória.
Configurei a Tidal para Master e System Control. Assim, sempre que ouvia um registo em MQA, a janela circular do TT2 passava de vermelho para verde e no mostrador surgia a amostragem de 96kHz (ou 88,2), indicando o primeiro desdobramento feito na fonte pelo algoritmo da Tidal.
Com o TT2 não é possível ir mais longe do que isto, porque o filtro WTA não é compatível com MQA – nem nunca vai ser, porque segundo Rob Watts degrada o sinal. 'O filtro Watts Transient Aligned já resolve todos os problemas temporais, não precisa de MQA para nada, com a vantagem de manter o sinal incólume, ao contrário do MQA', disse-me.
Um espectáculo musical chamado Hugo TT2
Seja por (d)efeito do MQA, seja do WTA, o que ouvi agradou-me. Muito. O som é mais cheio, quente e encorpado que o do Hugo 2.
Tem mais contraste, mais calor e mais substância. As vozes masculinas ganham peito, as femininas são mais estruturadas e têm mais ar à volta – e mais graciosidade.
O grave é mais robusto e carnudo. Isto com os Hifiman HE1000, que anda por vezes no lado seco da neutralidade. E há mais informação ambiental, não a que o PAN defende, mas a da atmosfera acústica dentro de espaços reais ou virtuais (reverberação electrónica).
Como a do estúdio da NBC TV, no álbum ‘bublé’, na introdução the ‘Fly Me to The Moon’ e outros clássicos. Bublé não é, nem nunca será Sinatra ou Dean Martin, e ele sabe disso, mas esta ‘Original Soundtrack’ tem uma captação de som notável: bem próxima do microfone, mas sem perda da envolvente orquestral e do público.
Por falar em Dean Martin, já ouviram ‘I’m Confessing that I Love You’ ou ‘Blue Moon’, do álbum ‘Dream With Dean’? É algo de memorável. E com este sistema é difícil parar de ouvir o disco todo.
… o TT2 reproduz esta faixa – e toda as outras - como nunca ouvi até hoje a este preço…
Vozes femininas? Que tal Madeleine Peyrouth cantando ‘We Might As Well Dance’, do álbum ‘Anthem’ em MQA? Peyrouth tem uma voz de veludo felpudo. Mas o que torna a audição num evento musical imperdível é o seu jogo de dicção e enunciação, reforçado pelas interjeições sensuais do coro: U u u u... O TT2 reproduz esta faixa – e toda as outras - como nunca ouvi até hoje a este preço.
Já que estava ligado por USB fui vasculhar o meu arquivo HD com a ajuda do JRiver. Tenho, por exemplo, os Concertos para Dois e Três Violinos de Bach, com Rachel Podger como solista, nas versões 44,1, 96, 192 kHz e DSD64. O Hugo TT2 iluminou-se das respectivas cores: vermelho, verde, azul e branco, e iluminou a música e a minha alma.
O estilo de Podger é ao mesmo tempo preciso e virtuosístico, com um conhecimento perfeito do estilo 'matemático' de Bach, tocando um violino de 1739, de Pesarini, aluno de Stradivari. Foi interessante comparar o som do Pesarini de Podger com o Stradivarius ‘Sleeping Beauty’ (1704) de Isabelle Faust, em concertos de Haydn, ambos reproduzidos na perfeição.
Para esgotar as capacidades do TT2 via USB (sem o M-Scaler), toquei o glorioso final da 1ª Sinfonia de Mahler pela Orquestra Sinfónica de Budapeste em DSD256 nativo e uma intervenção de Fredie Hubbard, no Audiohpile Jazz Prologue 03, a 384kHz-24bit.
Nota: li no manual ou algures que o TT2 só é compatível com DSD512 via DoP. Olhem que não. Tenho a versão de ‘Promete, jura’, por Mariza, em DSD512 (prometo, juro!) e tocou em DSD sem DoP e sem problemas, segundo o JRiver a 22,6 Mhz/45.158 kbps no changes made!
USB ou coaxial? Uma escolha difícil.
Quando resolvi finalmente ouvir um CD, liguei o meu Oppo BDP-95EU via cabo coaxial a uma das entradas BNC. O som estava agora mais próximo do que estou habituado a ouvir com o Hugo 2. Talvez um pouco mais dinâmico e limpo. Igualmente excelente, mas menos carnudo que com a ligação USB. Primeira descoberta: o TT2 soa diferente via USB e Coaxial.
E não é só porque, ao contrário do USB, a frequência de referência é sempre 44,1kHz. Este Oppo já descontinuado (a Oppo fechou o departamento de áudio doméstico) reproduz todo o tipo de discos ópticos, incluindo SACD, Blu-Ray Audio e DVD-Audio (ambos a 96kHz) e HRx Audio. Assim, estava certo que o TT2 não se faria rogado para reproduzir também faixas do sampler ‘A classical & jazz High Resolution Spectacular’ (176.4kHz 24-bit) da Reference Recordings via coaxial.
Digital doesn’t get any better than this
Quando carreguei em Play para ouvir um excerto da Sussex Overture, de Malcolm Arnold, o número 176 apareceu no visor, a janela iluminou-se de azul-claro e a minha sala iluminou-se de som, porque eu, entretanto, tinha chamado o TToby para se apresentar ao serviço. É que este sampler também tem a famosa ‘Hopak’ de Tchaiskovsky e a ‘Dança Infernal’ do ‘Pássaro de Fogo’? E com este poder de fogo disponível, apetece carregar no pedal...
Nota: este disco foi-me oferecido pelo João Pina, da Exaudio, fica aqui o agradecimento.
Aqui chegado, tinha pensado fechar esta análise do Hugo TT2 com a mesma frase monumental em inglês com que fechei a análise do Chord Dave (ler em Artigos Relacionados): ‘digital doesn’t get any better than this’.
Será possível fazer melhor do que isto? Parece que sim, já lá vamos.
M-Scaler – a escalada do Everest Digital
A Chord define o M-Scaler assim: ‘utiliza a mais avançada tecnologia de filtragem digital do mundo para ‘elevar’ áudio standard a 44,1kHz 16-bit para 705kHz 32-bit (o que já era possível com leitor-CD Blu Mk2). E áudio a 96kHz-24 bit para 786kHz 32-bit. E ainda para as ‘amostragens’ intermédias de 176.4 e 192 kHz, digo eu, embora os ‘efeitos’ não sejam tão sentidos.
E acrescento ainda que também ‘eleva’ DSD para PCM705kHz, se bem que haverá sempre quem ache que isso não é elevar é ‘degradar’. Nesse caso, opte por reproduzir os ficheiros DSD na amostragem nativa até DSD512 no TT2 sem ‘upscaling’.
Nota: isto com um PC e o respectivo driver Asio, porque com Mac nem sequer é compatível com DSD nativo.
Há outro caso em que eu aconselho a mudar o cabo USB do M-Scaler para o TT2: com vídeo, nomeadamente com origem no You Tube. O processamento do M-Scaler é tão complexo que se verifica um atraso de 0,6 milisegundos (latência) que afecta o sincronismo dos lábios/voz (lipsync).
Claro que a Chord pensou nisso também, e colocou lá um botão identificado como VIDEO, que pode criar alguma confusão: não é para processar vídeo mas para recuperar o sincronismo. Acontece que não é 100% eficaz, sobretudo com filmes, pois há sempre um ligeiro desfasamento nos diálogos.
E não é só por isso, o número de ‘taps’ é reduzido no modo Video para ‘acelerar’ o processamento. Acresce que o TT2 pode ser mais ‘simpático’ para o som do You Tube que o M-Scaler. Fazer upsampling para 705kHz de MP3 nem sempre é uma panaceia universal.
Com o TT2, o MP3 pode soar fantástico, como sucede com os ultra-intimistas NPR Music Tiny Desk Concerts, gravados na sede da All Things Considered, em Washington. Oiça-se, apenas a título de exemplo: Suzanne Vega, Adele ou John Legend e, espantem-se, também o nosso Camané unplugged!
CD perfect sound forever
Foi com este slogan arrogante que o CD nasceu. Cedo se percebeu que os publicitários eram afinal uns exagerados. O Chord M-Scaler veio dar-lhes razão 35 anos depois. É a ‘puxar’ CDs para os 705kHz que o M-Scaler mostra todo o seu potencial.
…o M-Scaler aproxima o Hugo TT2 do Dave, um dos melhores DACs que já ouvi na minha longa vida de crítico de áudio…
O TT2, M-Scaler e TToby têm todos as mesmas dimensões para se poderem ‘empilhar’ por esta ordem, pois o TT2 aquece muito e deve ficar em cima para ter espaço para respirar. O ideal será mesmo colocá-los lado-a-lado.
Embora diferente e mais fino (4 cm), o design do M-Scaler é inspirado no do TT2, incluindo o mesmo lettering ilegível na versão negra…
Visto de frente, apresenta-se dividido em duas partes, com 3 botões luminosos ‘afundados’ de cada lado, que seguem o mesmo princípio básico de código de cores.
Por enquanto só os botões do lado esquerdo interessam: vídeo (já vimos que serve apenas para corrigir a latência), input (USB, 2 x óptico e 2 x coaxial) e OP SR (output sample rate).
Nota: Os botões do lado direito acendem, de vez em quando, sem se perceber porquê, pois estão desactivados, à espera do que há-de vir: o quarto elemento, aposto que vai ser um Streamer. Por falar em botões: há alguma razão para o M-Scaler não ter botão On/Off?
Via USB suporta todas as frequências PCM: 44.1kHz, 48kHz, 88.2kHz, 96kHz, 176.4kHz, 192kHz, 358.8kHz, 384kHz, 705.6 e 768kHz – 16 a 32bit. Aceita DSD mas converte para PCM 705kHz. Via coaxial tem as limitações da fonte (192kHz), e por cabo óptico também.
Nota: o M-Scaler pode ser utilizado com DACs de outros fabricantes que dispõem das ligações necessárias. Mas são poucos os compatíveis com 705kHz – a maior parte fica-se pelos 384kHz (neste caso não precisa de cabo duplo).
O M-Scaler levanta o véu diáfano digital e revela toda a nudez da música
A primeira coisa que vai notar é ‘energia’. Nota: não confundir com ‘volume’. Por exemplo, com USB o TT2 soa ‘mais alto’ com o mesmo volume. O grave com o M-Scaler é mais tenso, intenso e extenso. Mas a gama média também ganha dinâmica, claridade e ataque.
…é como se o som fluísse por uma mangueira de bombeiro em vez da mangueira do jardim – sem compressão e com um jacto mais potente…
O resultado na percussão é espantoso. A separação tímbrica dos diferentes tambores é inaudita. Assim como a de todos os outros instrumentos.
Oiçamos de novo Rob Watts:
‘Perception of timbre depends upon transients. Remove the transients and it’s difficult to follow the bass tune; remove transients and it becomes very difficult to tell the difference between a trumpet and a piano…
O M-Scaler trata as sibilantes como uma característica humana, e não como mais um problema acústico irritante derivado do digital. Consoante não tem de ser sinónimo de sibilante. A imagem expande-se, abre-se perante os seus olhos atónitos, permitindo seguir no palco cada individualidade perfeitamente focada sem perda da noção de conjunto, mesmo até ao fundo do palco.
É como se o som fluísse por uma mangueira de bombeiro ligada a uma boca-de-incêndio em vez da mangueira do jardim – sem compressão e com um jacto mais potente de música pura e limpa.
...o M-Scaler aproxima o Hugo TT2 do Dave, um dos melhores DACs que já ouvi em toda a minha longa vida de crítico de áudio…
As diferenças nem sempre são tão imediatamente evidentes como transparecem na minha descrição, e o Hugo TT2 sozinho pode muito bem fazê-lo feliz.
Nota: toda a crítica é, por natureza, hiperbólica, para compensar o facto de não ser possível abarcar a tridimensionalidade da realidade na bidimensionalidade da escrita.
O M-Scaler aproxima o Hugo TT2 do Dave, um dos melhores DACs que já ouvi em toda a minha longa vida de crítico de áudio. Como soará o Dave com o M-Scaler? Nem quero pensar…
Se tem um Hugo TT2 e quer fazer o upgrade com o M-Scaler, faça primeiro a seguinte experiência na loja da Absolute Sound & Video ou numa loja do Grupo JML:
Peça para instalarem o M-Scaler entre o leitor-CD e o TT2, utilizando a saída coaxial (RCA/BNC), ligando-os com o duplo cabo coaxial BNC/BNC, e o TT2 ao TToby com cabos balanceados de qualidade. Seleccione no TT2 o modo DBNC (duplo BNC) e no M-Scaler o input coaxial (púrpura) e o modo de upscaling OP SR (branco=705kHz).
Oiça CDs de que gosta muito e conhece bem durante algum tempo, e depois pressione o botão OP SR, que passa a vermelho (standby/44,1kHz).
Consegue ouvir a diferença? Feche os olhos e peça para alguém pressionar o botão por si (Nota: agora vai ter de correr todo o ciclo: verde (88.2kHz), azul (176.4) para voltar ao branco (705kHz). Ainda consegue perceber a diferença? Então, é isso que o M-Scaler lhe dá.
Pode não parecer muito, mas se é algo de essencial para si e que já não pode dispensar, compre-o. Caso contrário, fique-se pelo Hugo TT2 – e fica muito bem servido.
Ressuscite o seu arquivo morto
Sem o querer pressionar, dou-lhe algumas dicas de audição:
Não oiça apenas discos ditos ‘audiófilos’. Leve alguns dos seus CDs antigos e surpreenda-se com a quantidade de informação musical que não sabia que lá estava guardada há anos.
…o M-Scaler confere à música uma energia, claridade e ataque dinâmico, que torna as audições experiências físicas e emocionais…
Há muito tempo que eu não ouvia ‘Deedles’, de Diane Schuur (GPR 1984). É uma gravação com algumas colorações e talvez excesso de ‘ar’ electrónico. Este e os discos seguintes estavam já arquivados na secção de ‘Antiguidades Digitais’.
O M-Scaler confere aos CDs uma energia, uma claridade e ataque dinâmico, que torna a audição uma experiência física e emocional.
A voz de Diane Schuur é limpa, poderosa e expansiva, o piano de Dave Grusin cintilante, o sax de Stan Getz memorável, e a percussão de Moyes Lucas, em New York State Of Mind (as 3 batidas secas aos 49s. Uau!), Reverend Lee e Rock Me on the Water é de perder o fôlego. Eis como um disco banal se torna vital.
Amazing grace
Ouvi Diane Schuur ao vivo, em concerto intimista de proximidade, e isto é o mais próximo que estive dessa experiência inolvidável, tal a sensação de presença, nomeadamente quando ela, olhando-nos de cima do palco, como se nos visse claramente (Diane é cega), canta acapella, de pé, Amazing Grace. Aqui sou eu que olho como se a visse. Amazing grace, indeed!...
o M-Scaler não ‘inventa’ informação, apenas revela a que lá está escondida…
Revisitei Crime of The Century, dos Supertramp, e em verdade vos digo: nem a versão 192/24 da HD Tracks tem tanta informação escondida. Ouve-se tudo!
Não são apenas as vozes, a percussão, o baixo (extraordinário), o piano, a harmónica, o saxofone ou o clarinete, que parecem saltar das colunas ou nos penetram directamente no cérebro com auscultadores, mas as múltiplas minudências acústicas de estúdio, que são a riqueza das complexas misturas de estúdio desta icónica banda britânica, e aproximam o CD da versão em LP half speed mastering da Mobile Fidelity, cujo som guardo na minha memória.
Quanto mais complexa é a mistura, mais o M-Scaler mostra o que vale…
Passeei-me depois pelo álbum ‘Give it up to Love’, de Mighty Sam McClain, na versão XRCD da JVC, depois de o limpar da poeira dos anos. A tecnologia XRCD, por si, já ‘dinamiza’ o som. Nem queiram saber o que o M-Scaler/TT2 faz com as interpretações soul/funk/blues deste poço de energia. Acabei por ouvir o disco todo.
‘Jazz At the Pawnshop’ já tem barbas? Olhe que não. O CD original ‘escalado’ pelo M-Scaler soa melhor que a versão SACD da Prophone/FIM. Não é só uma questão de +info, é uma questão de +dinâmica (vai dar consigo a correr para o botão de volume, porque o som de repente sobe por ali acima, tal como ao vivo); de timbres +correctos e de uma banda ainda +bem afinada. De…olhe, +tudo!
E não, o M-Scaler não ‘inventa’ informação nova (a interpolação não é isso), apenas revela tudo o que lá estava escondido, porque recupera os transíentes originais. No digital, é o tempo que determina o espaço e o seu conteúdo harmónico.
Siga o conselho de ‘Mighty’ e deixe que seja o amor a decidir se vai comprar o M-Scaler ou não: give it up to love. Porque isto é uma paixão que bate forte. E a paixão é algo de muito pessoal.
E o TToby?
Bom, este teste já vai longo. Direi apenas que o TToby é um amplificador de 100W/4, com uma fonte de alimentação comutada sólida, que segura as colunas pelas rédeas e se assume como uma extensão amplificada e neutra de tudo o que está a montante. O som é sólido, limpo, claro e rápido.
Neste trio de Chord(as), desempenha o papel do violoncelo, que suporta ritmicamente e dá corpo ao virtuosismo dos seus pares, limitando-se a fazer o que o maestro lhe pede sem dar nas vistas. E não é isso que se exige de um bom amplificador, que se limite a amplificar?...
‘Remasterize’ toda a sua colecção de CD a 24-bit/705kHz
Este trio de Chord(as) não toca apenas música clássica. Dá nova vida a todos os géneros musicais, em todo o tipo de formatos, do MP3 ao PCM HD, com particular destaque para o CD, o que lhe vai permitir ‘remasterizar’ na hora toda a sua antiga colecção para 24-bit/705kHz, sem ter de investir em downloads, que, em demasiados casos, não passam de fraudes, pois são apenas versões ‘upsampladas’ de matrizes Red Book (44,1kHz), sem a qualidade de ‘upscaling’ do M-Scaler.
Chord Hugo TT2: 4 700 €
Chord M-Scaler: 4 199 €
Chord TToby: 3 499 €
Para mais informações:
Tel: 234 377 180 / 213 552 710
José Lopes Marques, Lda
Loja em Aveiro
Avenida Santa Joana, nº 17
3810-329 Aveiro
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