A Kaya é a Giya sem o penteado à Plavalaguna, a diva operática extraterrestre do ‘Quinto Elemento’. Mas os altifalantes, o princípio de carga acústica, inspirado no Nautilus, e o ADN do som são todos iguais. Só o preço é diferente – e o design, que é mais discreto, doméstico e ‘domesticável’ (são muito fáceis de colocar).
Mas os altifalantes, o princípio de carga acústica, inspirado no Nautilus, e o ADN do som, tudo é igual. Só o preço é que é diferente – e o design: mais discreto, doméstico e ‘domesticável’ (são leves e muito fáceis de colocar na sala).
A Kaya é a Giya sem o penteado à Plavalaguna, a cantora de ópera do ‘Quinto Elemento’.
A actuação da diva Plavalaguna no 'Quinto Elemento'
Fui ouvir as Kaya 90, com electrónica Nagra, ao auditório da Ajasom-Damaia, e gostei do que ouvi. Muito. O auditório da Ajasom tem excelentes condições – com um mínimo de tratamento acústico – e, de acordo com a minha própria experiência (ver reportagens de outras audições nos Artigos Relacionados, em baixo no final do texto) todas as colunas soam ali bem regra geral, com uma ou outra diferença na forma como o grave excita os modos da sala.
Com as Kaya, diz-me Nuno Cristina, a posição não é crítica. Tanto podem ser colocadas ao modo audiófilo (afastadas das paredes laterais e de fundo), como bem afastadas entre si e próximas das paredes, bem ao gosto ‘doméstico’, para não ocuparem demasiado espaço.
E, de facto, o Nuno fez ali mesmo a experiência, colocando-as em dois pontos previamente marcados, sem que o carácter geral do som, sobretudo o grave, se ressentisse muito.
De Munique para a Damaia
A Vivid Audio Kaya Series, que se integra entre as linhas Giya e Oval, é para já composta por 3 modelos designados por 25, 45 e 90, em função do volume interno em litros, e foi apresentada à imprensa, no HighEnd 2019, pelo próprio Laurence Dickie, com electrónica Ayre, também representada em Portugal pela Ajasom.
A algazarra de uma feira (a apresentação foi feita em espaço aberto) não é a condição ideal para audições atentas, pelo que tive de esperar mais de 6 meses para, finalmente, poder ouvi-las com a merecida atenção.
Dickie é uma pessoa extremamente sociável e algo excêntrica que gosta de estar rodeada de amigos.
Dickie é uma pessoa extremamente sociável e algo excêntrica que gosta de estar rodeada de amigos. Quando da apresentação mundial das Giya 2, em Las Vegas, em 2010, convidou a imprensa para uma ‘late night party’ numa suíte do Hotel Mirage, que encheu até deitar por fora: a suite e os copos! Vejam o vídeo abaixo para perceberem como ele gosta de confraternizar.
Apresentação das Giya 2 em Las Vegas (2010)
Não admira, pois, que as suas colunas sejam também algo excêntricas no design, quase extraterrestres como a diva Plavalaguna. Neste contexto, as Kaya podem até ser consideradas discretas, apesar de continuarem a ser uma parente bem distante do tradicional caixote de sabão.
Mas o design não é aqui apenas uma manifestação artística. Tudo na forma desta estranha escultura antropomórfica, que parece um boneco de plasticina, tem uma função acústica determinada e determinante.
…a bunda sensual esconde a espiral simplificada de absorção dos graves...
Das linhas redondas, para eliminar o efeito de difracção, à cratera do tweeter que serve de lente côncava para melhor projecção frontal dos agudos; à bunda sensual, que esconde a espiral simplificada de absorção da onda traseira dos graves.
É esta última a principal diferença visual entre as Giya e as Kaya: a primeira exibe com orgulho a espiral; a segunda esconde-a, mas o princípio acústico é o mesmo.
Tal como em todas as colunas que Dickie projectou desde as B&W Nautilus, as caixas de graves são inspiradas no Nautilus Pompilius, um cefalópode cuja concha tem uma estrutura interna com as proporções divinas, a golden ratio dos arquitectos clássicos, aplicado também hoje nas salas de audição rectangulares, cuja relação entre largura e comprimento deve ser de 1,618 para melhorar a acústica.
Isto iria levar-nos a Euclides e a Leonardo Fibonacci, pelo que o melhor é ficarmos por aqui. Sabia que até o logo da Apple é baseado na golden ratio?
As Kaya são fabricadas em fibra de vidro sobre uma estrutura em favo de abelha. Aparentemente são construídas de uma peça única. De facto, são compostas por dois painéis laterais simétricos, para facilitar a montagem da espiral interna, e um painel frontal, o baffle onde estão montadas as unidades de médios e o tweeter.
Os 4 woofers activos estão montados lateralmente no bojo traseiro das Kaya, dois-a-dois em tandem, com a respectiva boca de saída do labirinto, ligados por uma ponte de metal, em modo bipolar, num jogo de oposição de forças que elimina qualquer movimento ou vibração, ao estilo das KEF Blade. Ou será ao contrário?...
Até porque as Kaya são muito leves e qualquer outra solução, como, por exemplo, um woofer frontal, iria fazê-las ‘dançar’, quando a ideia é fazer-nos dançar a nós, os ouvintes. O altifalante de médios e o tweeter têm a sua própria câmara de absorção. Todas as unidades têm cones de metal e são fabricadas pela própria Vivid Audio. Até aqui as Kaya são iguais às Giya.
Audição crítica
Como seria de esperar de uma coluna com este formato (baffle estreito e sem arestas) e configuração de altifalantes, a Kaya revela uma excelente coesão, ou entrosamento, para utilizar a gíria futebolística.
…a Kaya revela uma excelente coesão, ou entrosamento, para utilizar a gíria futebolística…
Esta ‘unicidade’ acústica favorece a resposta polar, logo a focagem, o que tem sempre boa influência na estrutura tonal e na pureza dos timbres. Apesar de leve, a Kaya é uma coluna ‘inerte’, sem colorações óbvias de caixa, e com excelente acoplamento acústico do grave com a sala de audição, sem conflitos acústicos espúrios e ressonâncias malignas.
A Kaya é ‘de clínica geral’: pianos, vozes femininas e masculinas, guitarras ou percussão, passando por orquestras sinfónicas e vozes operáticas, ao vivo e em estúdio, tudo parece ser tratado de forma humana e compreensiva, sem necessidade de ‘ressonâncias’ (magnéticas, neste caso) para diagnosticar males de que não padece de todo, pelo menos ao ouvido desarmado – e encantado.
E só não me alongo mais, porque quase tudo o que ouvi foi em mono. Leia-se registos em mono, ou com pouca informação estéreo. Aqui o leitor fica de ouvido alerta. Mono?
Mono&Stereo
Nada melhor que um registo monofónico para nos dar a verdadeira estrutura tonal da coluna. Ou para conferir a fase do sistema (se estiver fora de fase não se ouve nada, ou quase nada) ou aferir a focagem face ao posicionamento das colunas. Ou até para descobrir diferenças entre elas. Isto para não falar dos puristas que acham que a ‘estereofonização’ de discos dos Beatles e outros clássicos em mono foi um crime de lesa majestade. E de lesa qualidade de som do produto genuíno.
A voz da Callas soou sublime no registo monofónico original.
Ah, e a ambiência e especificidade da imagem não se perdem? Sim, claro, sobretudo no plano horizontal. Embora muita da ambiência do estéreo seja falsa e artificial. Mas, mesmo em mono, a profundidade real, a que nos é dada pela distância ao microfone, está lá toda, como se percebeu na audição da Traviata, com a Callas, no auge da sua forma vocal, gravada no S.Carlos em 1958. Quando Alfredo Kraus entra em palco, vem lá mesmo do fundo. Do palco, porque a voz, essa, vem do fundo da alma.
Callas causa arrepios
A voz da Callas soou sublime no registo monofónico original. De tal forma que eu até me esqueci de gravar.
Mas gravei Suzanne Vega e Nina Simone ao vivo em Montreux, aqui num registo directo das Kaya 90 que vos ofereço em baixo. Ninguém diria que se trata de um registo mono ou narrow stereo, como é habitual ao vivo. Segundo Nuno Cristina, o original da Nagra aparentemente é em estéreo. Ou então, nunca ninguém lhe tinha chamado a atenção para o facto...
Pensando bem, o som do PA da maior parte dos concertos ao vivo é em mono, exceptuando alguns efeitos especiais. Ou pelo menos em narrow stereo, como parece ser o caso de alguns dos concertos de Montreux. Os espectadores ouvem assim o mesmo som em todo o lado, quer estejam mais perto do lado esquerdo ou direito do palco. E para dar maior sensação de potência – e integridade ao som. As gravações dos concertos é que são normalmente depois editadas em estéreo ou até mesmo em surround.
…não estou a cometer nenhuma heresia ao afirmar que a Kaya 90 é a melhor coluna da Vivid Audio…
Se tivermos em conta o preço de 22 mil euros que, sendo porventura ainda elevado, corresponde a cerca de um quarto do que teria de pagar por um par de Giya G1 Spirit e 8 mil euros menos que as bebé G4 - a Giya mais barata - eu creio que não estou a cometer nenhuma heresia ao afirmar que a Kaya 90 é a melhor coluna da Vivid Audio, embora não tenha o mesmo impacto visual das Giya. Mas você paga para ver ou paga para ouvir?...
É um facto que a Ajasom não poupou meios para lhes dar as melhores condições de amplificação, ao demonstrá-las integradas num sistema de base Nagra HD Prévio/monoblocos, Nagra CD e DAC e fonte de streaming Nucleus. Uma pipa de massa sem falar nos cabos.
Que pode ouvir ainda durante esta semana, bastando para isso fazer a sua marcação sem compromisso na AJASOM.
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