No seu tempo, as famosas ‘Watt Puppies’ foram actualizadas sete vezes até que nasceu a Sasha W/P (agora também na versão Mk2). Nota: as ‘Puppies’ chegaram à versão 8, mas nunca houve a versão 4, porque é um número de azar na cultura chinesa. A Sasha já não era mais um monitor de estúdio com alça de transporte e um subwoofer associado mas uma coluna de som modular totalmente integrada.
Reza a lenda que, numa viagem a Viena, David Wilson teve uma epifania…
Reza a lenda que, numa viagem a Viena, David Wilson teve uma epifania que veio a tornar-se num ponto de viragem para o som da marca. O grave superior atrevido, a jactância do médio e a alacridade do agudo que, pelos padrões europeus, alegadamente afligiam as primeiras gerações de ‘Watt Puppies’, foram resolvidas com o (então) revolucionário projecto Sasha.
A Alexia original baseou-se na Sasha, elevando a tecnologia modular de alinhamento temporal ao nível da utilizada na Alexandria e na XLF. Agora chegou a altura de actualizar a própria Alexia para o estágio Series 2, utilizando os conhecimentos obtidos no desenvolvimento da WAMM Master Chronosonic.
PUXA O VOLUME
O primeiro desafio de Daryl Wilson, que assumiu o cargo de CEO da companhia em 2016, foi aumentar o volume interno da caixa de graves em 10%, garantindo ao mesmo tempo que se mantinha o tamanho do conjunto e a área da base. Não era uma tarefa fácil, mas foi conseguida construindo uma caixa de seis-faces, a partir de materiais exclusivos que a companhia designa por X e W, com uma secção na base para o filtro divisor. Deste modo, eliminou-se a necessidade da antecâmara através da qual os cabos Transparent Audio de espessura variável passavam para o exterior, fazendo-se agora por buracos com selo estanque.
O toque final é a janela transparente inspirada na XLF…
As unidades de graves de 200mm e 250mm com cone de polpa de papel são as mesmas utilizadas na Alexia original, enquanto o painel frontal herdou a suave inclinação da Alexx para melhor integração com a unidade de médios. O toque final é a janela transparente inspirada na XLF, na parte de trás da coluna, que deixa ver as resistências de ajuste de resposta.
SOPA DE LETRAS
A câmara de saída dos cabos também foi eliminada da caixa de médios, aumentando neste caso o volume interno em 26%. Com ambas as câmaras removidas, era agora possível centrar o pórtico dos graves - descentrado na coluna original - e substituir os dois ‘respiradores’ verticais dos médios por um único horizontal.
Mais espaço interno significa também mais espaço para travejamento, que aumenta a rigidez e elimina a ressonância dos painéis. Também aqui a caixa é construída com os materiais compósitos X e W, sendo o painel frontal de material-S (as colunas da Wilson Audio parecem-se cada vez mais com uma sopa de letras). Mas há mais: nos painéis laterais foram gravados sulcos num padrão geométrico, numa tentativa para dissipar a energia dos reflexos traseiros.
O módulo de médios aloja com orgulho a mesma unidade de médios SB Acoustics com cone de celulose/polpa de papel e duplo-íman da Alexia original. O alinhamento temporal dos médios obtém-se movimentando o módulo para a frente e para trás, ou ajustando a altura dos pinos de suporte traseiro, de forma a incliná-lo para se adaptar à altura de um ouvinte sentado. O ajuste fino faz-se colocando os pinos sobre um bloco de degraus pré-definidos. Rodando ambos os módulos de médios e agudos sobre o eixo, é possível ajustar também a dispersão polar, deste modo alargando a área útil de escuta. É assim como comer um bolo sentado no ponto de escuta ideal e partilhá-lo ao mesmo tempo com a família e os amigos à sua volta.
É assim como comer um bolo sentado no ponto de escuta ideal e partilhá-lo ao mesmo tempo com a família e os amigos à sua volta…
A caixa do tweeter tem agora uma câmara interna totalmente redesenhada para melhor difracção da onda traseira, e exibe o mesmo tweeter ‘Mach 5 Convergent Synergy’, com cúpula de seda, desenvolvido para as WAMM. A posição relativa do tweeter e da unidade médios pode agora também ser ajustada em ‘meios-passos’, o que em princípio resulta em maior precisão do ajustamento temporal.
As colunas foram montadas numa sala ampla com tratamento acústico e afinadas pelo distribuidor (Hificlube agradece o apoio técnico e logístico de Luís Campos e restante equipa da Imacústica-Lisboa) afastadas cerca de 3 metros e meio entre si, bem longe das paredes laterais e de fundo.
O equipamento associado era do mais elevado calibre: dCS Vivaldi One para reprodução de CDs; Rossini DAC para os ficheiros de alta resolução; com amplificação cortesia de um Dan D’Agostino Momentum Preamp e um par de Progression mono; cablagem Transparent Opus.
A Alexia 2 transmite uma sensação de ‘intimidade’…
A Alexia 2 transmite uma sensação de ‘intimidade’, e não me refiro apenas ao som mais coeso e integrado que o da versão original, fruto da maior precisão temporal. Arrasta-nos para dentro da actuação conjurada pelos músicos como se fizéssemos parte dela. Pude assim deleitar-me na maravilha de um palco sonoro de dimensões bíblicas, com o brilho de pequenos detalhes bem nítidos no mar de deixas ambientais.
As macro e micro dinâmicas estão perfeitamente equilibradas, aumentando a sensação de cadência e ritmo, o grave desce mais fundo – mas não espere uma viagem grátis ao centro da Terra – enquanto a transparência dos registos médios limpou as vozes de todos os véus. Fiquei fascinado, ali sentado a cerca de 4 metros das colunas.
Bob Seger & The Silver Bullet Band ‘Nine Tonight’ é um álbum de rock ao vivo com alguns momentos de cativante silêncio (voz, com acompanhamento simples ao piano, e pouco mais), que nos permitem mergulhar em profundidade na acústica do Cobo Hall, em Detroit. Claro que até num rádio a pilhas se pode ouvir os gritos, os assobios e os aplausos da multidão. Mas será que sente aquela sensação de estar mesmo lá?
O ‘streaming’ da Tidal transportou a Silver Bullet Band para a sala de audição. Foi esse também o caso da famosa fadista Mariza, cantando ‘Gente da Minha Terra’, do álbum ‘Concerto em Lisboa’. E eu sei, porque estive lá – literalmente lá – quando Mariza se emocionou durante a actuação e verteu lágrimas de dor e alegria, tendo que parar de cantar. O tempo ficou como que suspenso ‘nas cordas de uma guitarra’, enquanto as Alexia me permitiram reviver aquele momento arrepiante.
O tempo ficou como que suspenso ‘nas cordas de uma guitarra’…
Tinha chegado a altura de fazer uma experiência. Como se iria portar Gregory Porter, um cantor galardoado com um Grammy, cantando ‘Mona Lisa’, no seu recente álbum de homenagem a Nat ‘King’ Cole, quando comparado com o próprio ‘King’, na versão do álbum ‘The Unforgettable Nat King Cole’?
Por muito sentido que seja o tributo de Porter, as Alexia Series 2 ‘apanharam’ bem o timbre cremoso e a doçura de seda da voz maviosa de Cole, de forma tão natural, que eu desisti logo da comparação e reclinei-me para continuar a ouvir Cole a cantar ‘Unforgettable’, seguida por ‘Smile’ e acabando com o mais ritmado ‘L.O.V.E’.
E nem sequer tente comparar Michael Bublé com Sinatra. As Alexia Series 2 funcionam como um detector de mentiras. Fica o aviso.
As Alexia Series 2 funcionam como um detector de mentiras. Fica o aviso…
Estas colunas de som aceitam todos os tipos de música e reproduzem-na com a sua força natural intacta. Quer seja Kendrik Lamar, em ‘Humble’, do álbum ‘DAMN’, com golfadas de baixo electrónico e versos demasiado explícitos; ou a voz angelical e operática da soprano Pretty Yende, em ‘Dreams’, com trinados de coloratura ao desafio com um flautim, dando muito trabalho às colunas, em ‘Lucia di Lammermoor, Act 3: Ohimé’, e resultando numa actuação electrificante.
RENDIDO E ENFEITIÇADO
Por fim, a Sinfonia nr 1 de Mahler açambarcou toda a sala, num glorioso download DSD128 da Native DSD Music/Channel Classics. O palco sonoro, a imagem estéreo e a dinâmica eram esmagadoras: do mais inaudível dos murmúrios ao clímax caótico. Do feitiço dos sopros aos metais de cortar a respiração e ao rolar dos tímbales que excitam com a sua força.
As Alexia Series 2 reproduziram tudo isto com brilhantismo, e ainda o fraseado impecável e as linhas instrumentais limpas do maestro Iván Fischer. As colunas desapareceram, as paredes também, e eu senti-me transportado para o Béla Bartok National Concert Hall, em Budapeste.
Nota: tradução pelo autor do texto original em inglês publicado na revista Hi-Fi News/March 2018, que inclui ainda em exclusivo o relatório laboratorial da autoria de Keith Howard e o Veredicto Final de JVH. Os leitores do Hificlube podem ler a versão integral em formato pdf AQUI.