WILSON AUDIO SASHA DAW - A NEW DAW(N)
Análise crítica de JVH à coluna-tributo de Daryl Wilson, em memória de seu pai, fundador da Wilson Audio, David Andrew Wilson, nas versões integral em pdf, publicada na revista Hi-Fi News Março 2019, e com o texto principal em Português, com tradução de JVH.
A nova Sasha, criada para celebrar o trabalho de toda uma vida do fundador da Wilson Audio, não é uma mera versão Mk3.
A Sasha DAW é um produto-tributo de Daryl Wilson em honra de seu pai, recentemente falecido, e fundador da Wilson Audio, David Andrew Wilson, cujas iniciais dão o nome à última versão desta coluna de som icónica. Na prática, a Sasha DAW tem o mesmo formato e configuração de 3-vias com 4 unidades da Sasha Series 2.
As dimensões são basicamente as mesmas: 114x37x58 cm, consistindo numa caixa de graves, encimada por um monitor separado de médios/agudos, sendo este último engenhosamente ajustável por meio de um conjunto de pequenos degraus em metal, montados no topo da caixa maior. Deste modo, ao mesmo tempo que é agora ainda mais fácil focar a DAW para o ponto de escuta, toda a estrutura ganhou mais 10Kg, de peso, graças à utilização intensiva na sua construção de material-X da Wilson.
O EFEITO CASCATA
É, pois, tentador pensar na Sasha DAW como uma Alexia S2 mais pequena, por uma fracção do preço – 50 mil euros, se adquiridas nas cores standard preto Diamond, Titanium escuro e Argento ou Desert prateado – e não apenas como potenciais candidatas a Sasha Series 3. A longa lista de características herdadas da sua irmã mais velha começa logo na caixa de graves, cuja estrutura tem agora travejamento interno adicional e uma abertura na base para alojar o filtro divisor, enquanto o painel frontal tem inclinação de 3 graus para melhorar o alinhamento temporal.
Para ganhar volume interno, as câmaras de passagem dos cabos, tanto na caixa de graves como na de médios/agudos, foram removidas, e os cabos saem agora através de orifícios estanques. Até o altifalante de médios e o tweeter Wilson ‘Sinergy mk5’ foram ‘pedidos emprestados’ à Alexia S2, que já os tinha herdado da WAMM. Há mais exemplos desta transferência de tecnologia nos altifalantes de graves, apresentados como tendo uma resposta mais plana e linear no baixo, que se baseiam também nas unidades de 8 polegadas da Alexia S2, tendo sido redesenhados pelo Director do Departamento de Engenharia, Vern Credille, para responder a necessidades específicas da Sasha DAW.
BOA EDUCAÇÃO
Na parte de trás, o pórtico reflex está agora colocado ao centro da caixa e foi moldado de forma a reduzir ainda mais a turbulência, enquanto a placa de resistências de ajuste do médio/agudo tem a mesma tampa em vidro temperado facilmente amovível, que foi pela primeira vez vista na Alexx.
Há aqui uma clara ética familiar: as Wilson mais jovens, não só calçam os melhores ‘sapatos’ e vestem as ‘roupas’ das mais velhas, também lhes é dada a mesma ‘educação’.
A Sasha DAW tem bornes mais robustos, redesenhados por Daryl Wilson e o engenheiro-mecânico chefe, Blake Schmutz, que são mais fáceis de apertar à mão e incluem agora a opção de bananas de 4mm. Outros aspectos revistos incluem aberturas nas abas da parte de cima da caixa de graves que, além de visualmente atraentes, reduzem a pressão no espaço vazio entre os módulos superior e inferior, e funcionam ainda como úteis buracos para espreitar os degraus do bloco de alinhamento temporal durante o posicionamento.
O mecanismo de ajuste temporal tem agora um parafuso rugoso que permite o aperto sem necessidade de ferramentas, ou pelo menos é o que eles dizem, porque depois de bem ajustado não é fácil de desapertar à mão.
Como é habitual, a Sasha DAW apresenta-se num arco-íris de cores, para além das ‘standard’, com um adicional de 5% no preço para as cores especiais, incluindo preto Obsidian, cinzento Oxford, verde Ghilles, vermelho Imola, azul Bugatti, branco Biarritz e amarelo Fly. Qualquer outra cor fora de catálogo, ou por encomenda, implica um suplemento de 10%.
PASSO A PASSO
Comecei por colocar as colunas numa sala grande, exactamente no mesmo lugar onde a Alexia S2 tinha antes cantado a plenos pulmões (teste em HFN Maio 18). Apesar das semelhanças técnicas, o grave da Sasha DAW é mais tenso e menos encorpado que o da Alexia S2, mas menos extenso em profundidade. O que era expectável, considerando a diferença no tamanho das caixas de graves de ambas as colunas, pelo que calculei que se sentiriam mais à vontade num ambiente mais íntimo.
Transferi-as, então, para uma sala mais pequena, com 6x5 m. Aqui deram a melhor resposta quando colocadas a 1,2m da parede frontal e das laterais, afastadas entre si por 2,8m, apontadas para dentro mas não directamente para o ponto de escuta, situado a cerca de 3,5m de distância. A electrónica associada consistiu num amplificador integrado de Dan D’Agostino, os Audio Research REF160M e o leitor-CD Audio Research REF CD9 como fonte.
Depois de muita experimentação com o sistema de alinhamento temporal, optei pelo degrau 5 da escada como o melhor compromisso – um pequeno passo para a Sasha DAW, um salto de gigante para a qualidade do som. Restava resolver a questão da pureza do agudo. Apesar da evolução positiva mas lenta, à medida que o teste prosseguia, cheguei a pensar se a Sasha DAW não sofreria da mesma ligeira ressonância do agudo inferior detectada em laboratório na Alexia S2. Foi então que o distribuidor sugeriu trocar toda a cablagem por Transparent Opus II.
Entendo que a mera sugestão de que é preciso investir tanto nos cabos como nas colunas pode soar absurdo para muitos. E contudo, os Opus II operaram o milagre que eu procurava. A Sasha DAW cantava agora como as noivas nos primeiros dias de felicidade conjugal.
O REI DO RINGUE
Isabelle Faust é uma das minhas violinistas preferidas. Ela juntou-se a Alexander Melnikov para nos dar as Sonatas de Mozart para Piano forte & Violino, Vol1 (Harmonia Mundi HMM 90 2360), utilizando instrumentos da época. Gravado num estúdio com ambiência de pequeno auditório, tanto o pianoforte como o violino soam soberbos através da Sasha DAW. O pianoforte é todo ele à base de fundamentais cintilantes, e soou limpo como um sino, com o peso e a ressonância apropriadas da mão esquerda. Por seu lado, a dinâmica e gama tonal do violino foram reproduzidas integralmente.
As sonatas de Mozart são (na música clássica) o que mais se aproxima do jazz, exibindo algum grau de improvisação e debate entre os instrumentos. A Sasha DAW entregou-me de bandeja todo o ‘humor e retórica’ nelas contido – tal como a própria Isabelle Faust o definiu numa entrevista ao Violin Channel.
O Fado é feito de coisas do destino e emoções fortes. ‘Os Búzios’, cantado por Ana Moura, do álbum Para Além da Saudade (Universal 0602517338982) conta a história de uma jovem mulher que procura a ajuda de uma velha bruxa, que lança búzios para adivinhar o destino amoroso da jovem. Qualquer coluna de som lhe permite apreciar a sensualidade artística de Moura. Mas é preciso uma Sasha DAW para sentir empatia pelo sofrimento eivado de esperança da personagem da canção.
At Last (Blue Note CDP7 919372) é o meu CD favorito de Lou Rawls. Tem de tudo: soul, R&B, blues e jazz, interpretados por uma fileira de estrelas que inclui Ray Charles e George Benson, com as suas características vozes guturais, e Dianne Reeves, que eleva a voz sem compressão ou limitações em ‘At Last’ e ‘Fine Brown Frame’, se bem que com alguma envolvente de reverberação electrónica. Mas é essa a natureza da gravação.
A Sasha DAW limita-se a dar-nos a verdade. Algumas das faixas mais ritmadas, como ‘You Can’t Go Home No More’ e ‘Room With a View’ são propulsionadas pelo baixo de Tinker Barfield e a bateria de Chris Parker, e as colunas agarram a urgência rítmica de uma forma que cativa com o seu balanço, enquanto os saxofones, trompete, trombone e fliscorne florescem com o respectivo timbre perfeitamente retratado.
A banda sonora de Marshall (Warner Bros; HDtracks download) oferece 28 faixas, incluindo jazz clássico dos anos 40 e algumas jóias mais modernas, interpretadas por Jimmy Heath, Wynton Marsalis e Andra Day (a Sasha DAW mostra bem o poder das suas cordas vocais em ‘Standing Up For Something’, nomeada para o Oscar de Melhor Canção).
DREAM TEAM
Contudo, a pièce de résistance é a leitura de tirar o fôlego que Jussie Smollet faz do poema de 1935, Let America Be America Again, de Langston Hughes – um retrato comovente da vida dos negros no EUA, que traz à colação o sonho dos ‘Pais Fundadores’ de liberdade e igualdade para todos. ‘Let it be the dream it used to be’ (Deixem que volte a ser o sonho que outrora foi).
Oiçam esta peça através de um par de Sasha DAW e vão perceber que este é ‘the dream dreamers dreamed’ (o sonho sonhado pelos sonhadores), para citar as palavras do próprio Langston Hughes de novo, porque Daryl Wilson conseguiu também realizar o sonho que o seu falecido pai sonhou.
É verdade que aqui e ali há salpicos de sibilância natural, devido à captação por um microfone demasiado próximo, mas é possível sentir o peso da emoção de todas e cada uma das palavras no recital de Smollet, ornamentado pelo lirismo de um piano e o desconcertante deslizar das vassouras na tarola. Raras vezes a paixão pode ser tão intensa.
VEREDICTO DA HIFI NEWS
Daryl Wilson homenageou o seu pai com o que certamente será a Sasha definitiva, pois esta versão DAW beneficia de tudo o que aprenderam com a Alexia S2. Com amor e respeito, ele foi ainda mais longe, e tornou-as tão transparentes e evanescentes como uma alma, embora elas precisem de cuidado com o equipamento associado e os cabos. Bem montadas e afinadas, elas são ‘o sonho sonhado pelos sonhadores’. O legado de Dave está em boas mãos.
Qualidade de som: 90%
Tradução para Português: José Victor Henriques
Nota: A versão integral em língua inglesa, que inclui testes técnicos em laboratório por Keith Howard, foi publicada originalmente na revista Hifi-News Março 2019 e pode ser lida abrindo o pdf em baixo, cortesia de Absolute Sounds Of London (direitos reservados):