Em qual apostar? Qual o melhor?
São estas as perguntas que saltam do monitor sempre que abro o correio electrónico. Admito que, por vezes, sou irónico: «Olhe, aposte no LP, que é mais seguro - se resistiu até agora...».
De facto, o sucesso junto dos audiófilos das poucas demonstrações de som analógico, no último Audioshow, de Lisboa, e o verdadeiro culto que em Frankfurt ainda gira à volta dos gira-discos, passe a redundância, são a prova de que o anúncio da morte do LP foi muito exagerado. Só este ano foram editados 2.500 novos títulos e o single em vinilo já vende mais que a velha cassete áudio. Muito por culpa dos disc-jockeys mas também porque os consumidores sabem que o LP não é afectado por sistemas anticópia como acontece com os CD mais recentes, o DVD-Audio e o SACD. Não me parece que o argumento da nostalgia seja a resposta para este revivalismo. Na era do MP3, a qualidade do som continua a ser de fundamental importância para quem gosta de ouvir música. Que o SACD não tenha sabido aproveitar este desejo latente do mercado é para mim motivo de apreensão e desgosto.
A Denon foi das primeiras marcas a apoiar o Super Audio CD. Curiosamente, nunca produziu um leitor-SACD e acabou a engrossar as hostes do DVD-Audio. Talvez porque concluísse que era um mercado mais promissor. O extraordinário sucesso do DVD-Video funcionaria aqui como locomotiva. A tal ponto que também a Sony cedo compreendeu que o SACD, como formato de áudio puro em estéreo, nunca passaria de uma boa intenção, e abriu caminho à miscigenização DVDVideo-SACD com particular incidência na capacidade multicanal de todos os últimos modelos, deixando as despesas do estéreo para o CD.
Nenhum dos modelos híbridos da Sony é compatível com discos DVD-Audio, incompatibilidade que é extensiva à maior parte dos leitores-DVD existentes no mercado. Alguns dos discos são reproduzidos mas o que se ouve são apenas as faixas registadas em Dolby digital 5.1 e não a pretensa excelência do PCM 24/96/6ch. Ou seja: o argumento de que o DVD-Audio é preferível ao SACD porque quem já tem leitor-DVD não precisa de comprar outro aparelho não é verdadeiro. Para tirar todo o partido do DVD-Audio precisa de um leitor compatível e - ainda! - de um amplificador AV apetrechado com as seis entradas analógicas não-processadas, porque a ligação digital coaxial e óptica Toslink, que utiliza para ligar o seu leitor DVD-Video ao amplificador AV não serve.
A Denon é a marca popular mais rápida a responder às novidades tecnológicas. E os seus topos de gama são normalmente um repositório de todas as soluções possíveis. O Denon DVD A1 é disso o melhor exemplo. Pense numa característica e ele tem. Tem o que os outros não têm, como a tão esperada ligação digital de alto débito entre leitor e amplificador (com protecção de dados por encriptação, claro). Se ao menos a Denon tivesse dado o braço a torcer e optasse por incluir aqui também a compatibilidade com o SACD (como os «universais» da Pioneer)...
Como leitor-CD, o A1 tem basicamente a mesma qualidade do «velho» DVD-5000. Talvez o grave tenha mais poder e impacte. Eu diria mesmo que o grave do A1 é excepcional. Contudo, como leitor-DVD a melhoria é ainda mais significativa, tanto no que diz respeito à excelente reprodução de matrizes áudio a 96kHz (os Super Audio Disc editados pela Chesky, que não se devem confundir nem com SACD nem com DVD-Audio); e, em especial, DVD-Video: a qualidade da imagem é óptima e depende agora apenas da resolução do monitor ou projector utilizado. É pena o video progressivo só poder ser apreciado em NTSC, mas as soluções até agora propostas de «PAL progressivo» não passam de remendos para encher o olho. A da TAG, por exemplo, embora resulte (a imagem é mais sólida) consiste em multiconversão DA - AD sucessiva para evitar interferir com a protecção anticópia Macrovision. Assim, neste momento só tem duas hipóteses, ambas remotas, de transferência directa de sinal video PAL sob formato digital: ou compra um Snell e Wilcox por uma pipa de massa ou um leitor-DVD pirata dos mares da China que come protocolos Macrovision ao pequeno-almoço.
Mas o meu interesse residia sobretudo na performance do A1 como reprodutor de DVD-Audio vis-a-vis os SACD multicanal. Aqui os resultados pautaram-se entre o medíocre e o muito bom, sendo os discos - e não o A1, atenção! - os suspeitos do costume. Ou seja: quando o disco é bom, o som é bom. Ora, como não tenho nenhum DVD-Audio excelente (ao contrário da minha colecção de SACD), o A1 não terá alegadamente mostrado tudo o que valia. Mal por mal, antes o DTS. A verdade, aqui para nós, é que eu nunca ouvi um disco DVD-Audio soar bem em nenhum sistema em nenhum lado com excepção da demonstração da Meridian em Las Vegas e Nova Iorque com discos não-comercializados, logo não-protegidos pela maldita Verance.
Todos os DVD-Audio que servi ao A1 foram cozinhados pela Warner e alguns deram-me vontade de chorar. Ouvi: Steely Dan, Eric Clapton, R.E.M., Barenaked Ladies, Paul Simon, Fleetwood Mac, Joni Mitchell, Neil Young e K.D.Lang. Bom, pelo menos em DVD-Audio as edições são de gente conhecida, e é talvez aí que reside o principal trunfo do formato. Mas há qualquer coisa de errado com o som destes discos (Verance anticópia?) e pior ainda com as opções dos engenheiros: os discos de Fleetwood Mac e de Neil Young são do tipo «carrocel acústico» e deixam-nos com a cabeça à roda, cercados por músicos por todos os lados. Gostei de «You are the one», de Paul Simon, até descobrir que tinha sido registado em 4ch. (sem canal central). A voz surgia ao centro à minha frente mas como estava a ser reproduzida apenas pelo par frontal de colunas soava mais cheia, natural e encorpada: a qualidade da coluna central é fundamental com os novos formatos áudio multicanal. E quem se pode dar ao luxo de ter cinco colunas iguais topo de gama? Neil Young, por exemplo, soava como uma gata a miar no fundo de um poço. Fiquei com a impressão que tinha sido registado fora-de-fase. Ou então que estava pedrado. Ele, claro. Meu rico estéreo original! Porque o estéreo obtido a partir de alguns deste discos também não é flor que se cheire (sniff?)...
O Denon DVD A1 é considerado como um dos melhores leitores de DVD do mercado mundial. E estou tentado a concordar. Faço figas até poder ouvir a edição comemorativa da EMI, em Março de 2003, dos 30 anos dos Pink Floyd com o DVD-Audio de «The Dark Side of The Moon». Se assassinarem este também, mato-os...
Quanto à pergunta inicial sobre se deve apostar-se no SACD ou no DVD-Audio, a resposta já foi dada pela indústria: aposte nos dois. De facto, depois da Pioneer, foi a vez da Onkyo, Teac e Yamaha anunciarem os novos modelos «Universais» DVD-Audio/SACD. Seguem-se todos os outros, incluindo a Denon, e até a Krell, a acreditar nas declarações de Rondi d'Agostino à revista Stereophile.
Tal como na política, o que está a dar são as coligações.
Distribuidor: Videoacústica
São estas as perguntas que saltam do monitor sempre que abro o correio electrónico. Admito que, por vezes, sou irónico: «Olhe, aposte no LP, que é mais seguro - se resistiu até agora...».
De facto, o sucesso junto dos audiófilos das poucas demonstrações de som analógico, no último Audioshow, de Lisboa, e o verdadeiro culto que em Frankfurt ainda gira à volta dos gira-discos, passe a redundância, são a prova de que o anúncio da morte do LP foi muito exagerado. Só este ano foram editados 2.500 novos títulos e o single em vinilo já vende mais que a velha cassete áudio. Muito por culpa dos disc-jockeys mas também porque os consumidores sabem que o LP não é afectado por sistemas anticópia como acontece com os CD mais recentes, o DVD-Audio e o SACD. Não me parece que o argumento da nostalgia seja a resposta para este revivalismo. Na era do MP3, a qualidade do som continua a ser de fundamental importância para quem gosta de ouvir música. Que o SACD não tenha sabido aproveitar este desejo latente do mercado é para mim motivo de apreensão e desgosto.
A Denon foi das primeiras marcas a apoiar o Super Audio CD. Curiosamente, nunca produziu um leitor-SACD e acabou a engrossar as hostes do DVD-Audio. Talvez porque concluísse que era um mercado mais promissor. O extraordinário sucesso do DVD-Video funcionaria aqui como locomotiva. A tal ponto que também a Sony cedo compreendeu que o SACD, como formato de áudio puro em estéreo, nunca passaria de uma boa intenção, e abriu caminho à miscigenização DVDVideo-SACD com particular incidência na capacidade multicanal de todos os últimos modelos, deixando as despesas do estéreo para o CD.
Nenhum dos modelos híbridos da Sony é compatível com discos DVD-Audio, incompatibilidade que é extensiva à maior parte dos leitores-DVD existentes no mercado. Alguns dos discos são reproduzidos mas o que se ouve são apenas as faixas registadas em Dolby digital 5.1 e não a pretensa excelência do PCM 24/96/6ch. Ou seja: o argumento de que o DVD-Audio é preferível ao SACD porque quem já tem leitor-DVD não precisa de comprar outro aparelho não é verdadeiro. Para tirar todo o partido do DVD-Audio precisa de um leitor compatível e - ainda! - de um amplificador AV apetrechado com as seis entradas analógicas não-processadas, porque a ligação digital coaxial e óptica Toslink, que utiliza para ligar o seu leitor DVD-Video ao amplificador AV não serve.
A Denon é a marca popular mais rápida a responder às novidades tecnológicas. E os seus topos de gama são normalmente um repositório de todas as soluções possíveis. O Denon DVD A1 é disso o melhor exemplo. Pense numa característica e ele tem. Tem o que os outros não têm, como a tão esperada ligação digital de alto débito entre leitor e amplificador (com protecção de dados por encriptação, claro). Se ao menos a Denon tivesse dado o braço a torcer e optasse por incluir aqui também a compatibilidade com o SACD (como os «universais» da Pioneer)...
Como leitor-CD, o A1 tem basicamente a mesma qualidade do «velho» DVD-5000. Talvez o grave tenha mais poder e impacte. Eu diria mesmo que o grave do A1 é excepcional. Contudo, como leitor-DVD a melhoria é ainda mais significativa, tanto no que diz respeito à excelente reprodução de matrizes áudio a 96kHz (os Super Audio Disc editados pela Chesky, que não se devem confundir nem com SACD nem com DVD-Audio); e, em especial, DVD-Video: a qualidade da imagem é óptima e depende agora apenas da resolução do monitor ou projector utilizado. É pena o video progressivo só poder ser apreciado em NTSC, mas as soluções até agora propostas de «PAL progressivo» não passam de remendos para encher o olho. A da TAG, por exemplo, embora resulte (a imagem é mais sólida) consiste em multiconversão DA - AD sucessiva para evitar interferir com a protecção anticópia Macrovision. Assim, neste momento só tem duas hipóteses, ambas remotas, de transferência directa de sinal video PAL sob formato digital: ou compra um Snell e Wilcox por uma pipa de massa ou um leitor-DVD pirata dos mares da China que come protocolos Macrovision ao pequeno-almoço.
Mas o meu interesse residia sobretudo na performance do A1 como reprodutor de DVD-Audio vis-a-vis os SACD multicanal. Aqui os resultados pautaram-se entre o medíocre e o muito bom, sendo os discos - e não o A1, atenção! - os suspeitos do costume. Ou seja: quando o disco é bom, o som é bom. Ora, como não tenho nenhum DVD-Audio excelente (ao contrário da minha colecção de SACD), o A1 não terá alegadamente mostrado tudo o que valia. Mal por mal, antes o DTS. A verdade, aqui para nós, é que eu nunca ouvi um disco DVD-Audio soar bem em nenhum sistema em nenhum lado com excepção da demonstração da Meridian em Las Vegas e Nova Iorque com discos não-comercializados, logo não-protegidos pela maldita Verance.
Todos os DVD-Audio que servi ao A1 foram cozinhados pela Warner e alguns deram-me vontade de chorar. Ouvi: Steely Dan, Eric Clapton, R.E.M., Barenaked Ladies, Paul Simon, Fleetwood Mac, Joni Mitchell, Neil Young e K.D.Lang. Bom, pelo menos em DVD-Audio as edições são de gente conhecida, e é talvez aí que reside o principal trunfo do formato. Mas há qualquer coisa de errado com o som destes discos (Verance anticópia?) e pior ainda com as opções dos engenheiros: os discos de Fleetwood Mac e de Neil Young são do tipo «carrocel acústico» e deixam-nos com a cabeça à roda, cercados por músicos por todos os lados. Gostei de «You are the one», de Paul Simon, até descobrir que tinha sido registado em 4ch. (sem canal central). A voz surgia ao centro à minha frente mas como estava a ser reproduzida apenas pelo par frontal de colunas soava mais cheia, natural e encorpada: a qualidade da coluna central é fundamental com os novos formatos áudio multicanal. E quem se pode dar ao luxo de ter cinco colunas iguais topo de gama? Neil Young, por exemplo, soava como uma gata a miar no fundo de um poço. Fiquei com a impressão que tinha sido registado fora-de-fase. Ou então que estava pedrado. Ele, claro. Meu rico estéreo original! Porque o estéreo obtido a partir de alguns deste discos também não é flor que se cheire (sniff?)...
O Denon DVD A1 é considerado como um dos melhores leitores de DVD do mercado mundial. E estou tentado a concordar. Faço figas até poder ouvir a edição comemorativa da EMI, em Março de 2003, dos 30 anos dos Pink Floyd com o DVD-Audio de «The Dark Side of The Moon». Se assassinarem este também, mato-os...
Quanto à pergunta inicial sobre se deve apostar-se no SACD ou no DVD-Audio, a resposta já foi dada pela indústria: aposte nos dois. De facto, depois da Pioneer, foi a vez da Onkyo, Teac e Yamaha anunciarem os novos modelos «Universais» DVD-Audio/SACD. Seguem-se todos os outros, incluindo a Denon, e até a Krell, a acreditar nas declarações de Rondi d'Agostino à revista Stereophile.
Tal como na política, o que está a dar são as coligações.
Distribuidor: Videoacústica