Aquilo parecia uma festa de baptizado. E de facto era uma baptizado. A criança já anda pelo seu próprio pé, mas Manuel Dias aproveitou a presença de Peter Mc Grath, da Wilson Audio, e Ricardo Franassovici, da Absolute Sounds, de Londres, um amigo comum de longa data (30 anos?) para os convidar para padrinhos.
E juntou amigos e clientes, que, diga-se, na Imacustica não se faz distinção entre uns e outros, sobretudo 'wilsonistas', para receber os ilustres visitantes com honras de estado da arte audiófila, porque os 'padrinhos' não tinham vindo só festejar, vinham em trabalho.
Peter e Ricardo passaram horas a 'afinar' a colocação das XLF, das Alexia, das Sophia e das Duette 2, com o imprescindível apoio da equipa da Imacustica, para extrair delas a máxima performance acústica, como teremos ocasião de comprovar na Parte 2 desta reportagem.
No melhor estilo da hospitalidade nortenha, que caracteriza a família Imacustica, havia 'comes e bebes' e aquele ambiente informal e fraternal que promove a conversa generalista e a troca de informação e opinião especializada entre um copo de branco e uma empada de caça.
Peter Mc Grath e Ricardo Franassovici não se limitaram a trocar palavras de circunstância com os presentes: satisfizeram curiosidades várias, tiraram dúvidas, deram opiniões fundamentadas sobre questões simples e complexas.
E 'passaram' muita música, nos diferentes sistemas, com ênfase na colecção de mastertapes digitais de música clássica de Peter e a eclética selecção musical de Ricardo em suporte CD, que ia do canto religioso ao rock electrónico ao sabor do momento.
Peter Mc Grath que não conhecia Lisboa estava encantado com a cidade, com as pessoas, com a gastronomia, com a equipa e a loja da Imacustica e, sobretudo, com a excelência da acústica do auditório principal, que considerou o melhor do mundo ocidental: Europa e EUA! E prometeu voltar com mais tempo e com a esposa, o que revela bem o seu estado de espírito...
Ricardo Franassovici é um amigo de Portugal de longa data. Aliás, Ricardo, que é de origem croata, e encarna o verdadeiro espírito da UE, pois tendo passaporte francês, sendo casado com uma romena e vivendo em Londres, fala português na perfeição e tem Portugal no coração!
Aqui Ricardo sente-se em casa, entre amigos. Cada visita é como regressar à adolescência, quando passava as férias de Verão entre o Estoril e Cascais. Querem vê-lo feliz, levem-no ao Guincho para comer um peixe grelhado no Porto de S.ta Maria, ou ao Santini para provar um gelado e passear junto ao mar salgado pelas lágrimas da sua saudade.
Ricardo é um visionário e, quando pela primeira vez nos encontrámos, eu, ele e o Manuel, em Paris, por ocasião das Journées de la Haute Fidelité (colaborava eu então com a revista Imasom), ele viu em Manuel Dias o parceiro sério, honesto e empreendedor que um dia teria um espaço como este dedicado ao highend em Lisboa (e no Porto).
Conheço Ricardo há 30 anos e a sua paixão pela música só tem paralelo na sua paixão pela família. Não lhe digam é que ficheiros áudio de alta resolução soam melhor que um LP ou um CD reproduzido por um Metronome. Segundo ele, ainda falta muito para um computador ter 'alma musical'.
Aliás, na conversa que teve com vários dos audiófilos presentes, chegou a aconselhá-los a aproveitar os preços de ocasião dos 'clássicos' na Amazon (não só de música clássica). Para quê pagar 2 euros por uma faixa, quando se pode comprar o disco todo por 3 euros?, perguntou.
Manuel Dias era um homem feliz. Ele e a São desdobravam-se em atenções com todos os presentes, incentivando-os a apreciar a comida e o vinho e, claro, dando-lhes plena liberdade de circulação entre 'sistemas' e salas para apreciar a música servida com gosto pelo Peter, pelo Ricardo, o Luís e a restante equipa, enquanto o Guilhermino se debruçava com ciência sobre um giradiscos.
Até que, chamando-me de parte, tendo solicitado a duas amáveis senhoras presentes que posassem com ele, afirmou pretender com isso fazer uma homenagem a todas as esposas de audiófilos, que eu torno extensivo também à minha esposa, pela paciência que têm para nos aturar as 'manias' durante anos a fio, e o carinho com que resolvem dilemas, com que nos dilaceramos, opinando em poucos minutos sobre diferenças no 'som' que os homens demoram semanas a descobrir...
Como compensação conjugal, os audiófilos 'dão' bons maridos e casamentos duradouros: passam a maior parte do tempo em casa a ouvir música, sentados no escuro a olhar para o vazio, para justificar o investimento no equipamento highend, e quando se 'apaixonam' por outras, 'elas' são normalmente... colunas de som!...