De todos os grandes criadores audiófilos que conheci, ao longo da minha carreira de trinta anos, Franco Serblin terá sido aquele com quem estabeleci uma maior empatia, que se tornou com o tempo numa relação de amizade fraterna, alicerçada no respeito mútuo e, sobretudo, na minha admiração pela sua genialidade e personalidade cativante.
Os contactos pessoais eram raros, porque Franco não gostava de voar, embora a sua imaginação tivesse asas de anjo. Mas das poucas vezes que estivemos juntos era como se nunca nos tivéssemos separado por muito tempo. A conversa fluia ilustrada pelo sorriso tímido e beatífico de Franco. Via-o como um cardeal da religião audiófila, da qual eu era apenas um fiel servidor, e estou certo que Deus terá em conta a bondade da sua alma.
Recordo dois momentos altos do meu relacionamento profissional e pessoal com Franco: a visita à nova fábrica da Sonus Faber em Arcugnano, por ocasião da apresentação à imprensa das Stradivari (ver Artigos Relacionados); e a sua, creio que primeira e única, visita a Portugal, por ocasião do Audioshow. Lembro-me que fomos jantar um robalo ao sal, no Guincho, com as respectivas esposas, que ele considerou “uma obra de arte gastronómica”, e do seu olhar maravilhado quando, tendo parado o carro em cima da ponte, ele viu pela primeira vez o Palácio dos Conde de Castro de Guimarães, iluminado como num conto de fadas, com o mar a beijar-lhe os pés.
Quando, finalmente, chegámos aos Jerónimos e à Torre de Belém, as lágrimas corriam-lhe pela face. Virou-se para mim, abraçou-me e beijou-me na face sem dizer uma palavra. É esta a imagem de Franco que, ainda hoje, guardo no coração.
Deviam tê-lo sepultado num caixão com a forma de uma Stradivari, a sua obra máxima.
Caro Franco è stato per me un onore conoscerti. Riposa in pace.