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Os auscultadores dinâmicos-abertos ‘The Composer’, da Austrian Audio, foram galardoados em 2024 com os Prémios Hificlube e EISA.
A Austrian Audio enviou-me, em agosto, um par para teste (ler aqui Tributo de Amor à Música), acompanhado pelo amplificador Full Score One. Na altura, eu tinha à minha disposição vários amplificadores de auscultadores e, admito, não dei ao Full Score One a devida atenção e importância.
No final do ano, e após a quadra festiva, há sempre alguma acalmia na vertigem das novidades e, tendo o Full Score One ainda comigo, resolvi dar-lhe, finalmente, a atenção devida. Até porque é um dos poucos amplificadores concebidos com base científica, mas afinados com a base estatística de um painel-cego de 40 ouvintes (que passou a 22, numa segunda fase) devido às restrições impostas pela Covid 19.)
Ouvido humano bate o princípio da incerteza
Recentemente, li um artigo sobre a incrível capacidade da audição humana: Human Hearing beats the Fourier uncertainty principle, no qual investigadores da Rockefeller University, de Nova Iorque, relatam estudos que provam uma capacidade de os humanos discriminarem sons no domínio da frequência e, sobretudo, no domínio do tempo, 10 vezes superior ao limite imposto pelo princípio da incerteza de Fourier.
Os resultados foram tanto melhores, quanto mais treinados estavam os ouvidos dos indivíduos testados, sendo que um músico profissional atingiu um patamar de acuidade auditiva 13 vezes superior; e um produtor de música eletrónica revelou ter uma acuidade temporal de 3 milisegundos!
Segundo os investigadores, esta capacidade parece estar relacionada com o padrão interno da espiral coclear (caracol) do ouvido humano.
Permitam-me transcrever as conclusões, embora os leitores possam ler o artigo integral aqui:
‘Ficámos extremamente surpreendidos com o desempenho dos nossos sujeitos, e particularmente surpreendidos com o facto de os maiores ganhos terem sido, de modo geral, no domínio temporal.
Os físicos tendem a pensar que a audição é só o espectro (de frequências). Mas o espectro é independente do tempo, e a audição tem a ver com transitórios muito rápidos. Os dados acabaram de nos dizer que o nosso cérebro se preocupa muito mais com o tempo.’
O homem por trás do Full Score One
Paul Weinreich, o engenheiro responsável pelo Full Score One, já tinha chegado a uma conclusão semelhante, durante as investigações para o desenvolvimento deste excelente amplificador de auscultadores, num estudo técnico com o título: Behind the Full Score One, que podem ler na íntegra aqui.
Nesse estudo, com base num painel de 40 ouvintes, Weinreich concluiu que as especificações do domínio do tempo, como a taxa de variação (slew rate) e o tempo de subida (rise time), contribuem muito mais para a transparência de um amplificador que a THD (Distorção Harmónica Total).
O estudo explica em detalhe como e porquê o Full Score One foi concebido, por isso dispenso-me de transcrever toda a descrição técnica. Quem melhor para descrever a criatura do que o criador?
Fonte de alimentação linear
O Full Score One é um amplificador de auscultadores analógico puro. Tem uma fonte de alimentação linear, um estágio de pré-amplificação a Mosfet, um amplificador de potência a transístores bipolares de Classe B pura, com volume regulado por um potenciómetro Alps. Mais nada. Nem botão de ‘Bass’, nem ‘Crosstalk’, nem ‘Gain’. Tem três saídas para auscultadores: duas de 6,3 mm e uma XLR de 4-pinos, que podem ser ligadas simultaneamente.
True Transient Technology
Mas tem um botão misterioso designado por TTT que, quando ativado, faz subir a taxa de variação para 300V/us e a banda passante para -3dB aos 2Mhz (o tempo de subida é fixo)! No modo Off, as especificações aproximam-se dos amplificadores convencionais: 5V/us e 75kHz respetivamente, com variação do tempo de subida.
É aqui que o Full Score One se distingue dos amplificadores com base em Op-amps, cujas taxas de variação são limitadas, assim como a largura de banda. Já os amplificadores de Classe D têm de limitar a largura de banda para evitar a interferência do ruído de comutação. Por outro lado, os amplificadores a válvulas soam doces e quentes à custa de suavizar os transitórios.
Numa palavra: a TTT é uma janela aberta para tudo o que a música tem para nos oferecer!
E a TTT ouve-se?
Tal como nos testes a que aludimos na abertura deste artigo, é preciso ter o ouvido muito treinado para ouvir a diferença, porque esta se regista sobretudo em frequências que, em teoria, estão muito além da capacidade de audição humana. Mas a taxa de variação atua no domínio do tempo, e é aí que os humanos dão cartas, como se provou.
Ouvi o Full Score One com os auscultadores Hifiman HE1000 (planar-magnéticos abertos) e, noblesse oblige, com os Austrian Audio The Composer (dinâmicos-abertos). Ambos com a ligação XLR de 4-pinos balanceada para garantir uma maior separação estéreo (90dB). Na ligação por Jack de 6,3mm, a terra é comum a ambos os canais, pelo que a separação desce para os 40dB.
Audições com e sem TTT
Sou sincero, a diferença está lá — e ouve-se! — mas eu não punha a cabeça no cepo num teste cego. Contudo, com o treino, comecei a aperceber-me de pormenores mínimos que só são possíveis de ouvir com a TTT ativada, sobretudo com transitórios rápidos de instrumentos de percussão.
E detetei também algo que me levou a manter a TTT sempre ativada: a expressividade nas vozes. A que se seguiu a clara perceção do movimento do ar nas salas de concerto. E a pureza dos timbres dos instrumentos de sopro. A vibração das cordas das guitarras e a resina nas cordas dos violinos, violoncelos e contrabaixos.
Numa palavra: a TTT é uma janela aberta para tudo o que a música tem para nos oferecer!
Vai haver sempre quem prefira ouvir sem TTT: um som menos rápido e mais redondo e convencional. O Full Score One oferece-lhe ambas as perspetivas. A escolha é sua.
Conclusão: o amplificador de auscultadores Austrian Audio Full Score One dá-lhe a música toda por um preço de 1499 €, respeitando a objetividade científica e a subjetividade humana. E por isso se recomenda entusiasticamente.
Para mais informações, por favor contacte: Sound & Pixel