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ACCENT é um amplificador integrado analógico puro, com 70W/8 ohms em Classe A/B, com os circuitos baseados no prévio e amplificadores monofónicos de Referência da AVID, que custam 200 mil euros. O ACCENT aquece pouco, pelo que a polarização em Classe A é baixa. É, pois, na Classe B que assenta todo o seu poder.
Por uns razoáveis €5200, o ACCENT oferece ainda um andar de Phono Pellar e um amplificador de auscultadores de Classe A discreto (não é apenas um OpAmp). Vem tudo montado numa verdadeira caixa-forte, onde não há um vislumbre de tecnologia digital, como seria de esperar vindo de um famoso fabricante de gira-discos.
Por metade do preço (ou menos), há no mercado amplificadores integrados de Classe D mais potentes e muito mais versáteis, incluindo DAC e Streamer, com ecrã tátil OLED e comando de voz. Assim sendo, o que pode levar alguém a considerar comprar um AVID ACCENT em detrimento de algo mais barato, versátil e ‘modernaço’? Sigam-me até ao fim que tentarei responder.
Entrevista com Conrad Mas
Conrad Mas visitou recentemente Portugal, e tive com ele uma interessante conversa. Veja a entrevista no vídeo em baixo, que já deixa algumas pistas para a compreensão da sua filosofia.
Hi-Fi com rosto
Conrad considera que o potencial consumidor dos seus amplificadores ouve, sobretudo, LP, e por isso gosta de estar perto do sistema, logo não precisa de controlo remoto para nada.
Mas lá cedeu às preferências do mercado e, ao contrário dos modelos Sigsum e o Integra original, o ACCENT (e agora também o Integra) tem a opção de um controlo remoto simples (Volume e Mute) de construção robusta, como tudo o que sai da metalurgia da AVID. Contudo, para selecionar as fontes, continua a ter de utilizar o botão rotativo do amplificador.
Aliás, eu até prefiro utilizar o botão rotativo de volume com design AVID Pattern: é um prazer tocar naquela roda dentada polida. Isto, claro, depois de ter descoberto que o botão para ligar fica por baixo do amplificador…
Conrad Mas considera que os chineses dominam hoje o mundo digital – e, palavras dele, fazem melhor e mais barato. Mas o ACCENT tem a vantagem de nunca ‘envelhecer’, pois não precisa de fazer constantes firmware updates. Os amplificadores AVID são intemporais e nunca perdem o valor, porque não utilizam o último chip da moda que… passa de moda demasiado depressa.
Portanto, ideologias anti-globalistas à parte, há uma boa razão para comprar um amplificador AVID ACCENT: a qualidade do som. E a qualidade da construção. E a garantia de um produto integralmente fabricado no Reino Unido. Além do facto, não despiciendo, de ter um rosto: Conrad Mas.
Pão-pão, queijo-queijo
O ACCENT é do tipo ‘pão-pão, queijo-queijo’, ou aquilo que os americanos designam por: all thrills and no frills. Não tem uma única função 'supérflua', como saída de prévio ou subwoofer, por exemplo.
Limita-se a amplificar sinais analógicos de baixo nível e de os dar a reproduzir às colunas de som. Nem sequer tem entradas balanceadas, apenas quatro entradas de linha (RCA). Podia ter entradas pseudo-balanceadas, todavia Conrad Mas não vende gato por lebre. Mas tem entradas phono (MM/MC), com ajustes de ganho (DIP switches) e impedância (Load plugs), baseados no Pellar.
A saída para auscultadores, só por si, justifica a compra para quem, como eu, não tem gira-discos. Mas estou a adiantar-me.
O potenciómetro de volume é o ALPS RK27 'Blue Velvet', conhecido pela sua suavidade. Uma raridade hoje em dia é um botão de mono, muito útil para a colocação de colunas na sala, ao permitir obter um foco central bem definido, como ponto de partida do posicionamento.
O ACCENT pesa que se farta (14,5kG), porque tem lá dentro um transformador toroidal de 617VA e um banco de condensadores com 40.000uF de capacidade de reserva para garantir amplo fornecimento de energia em todas as circunstâncias de variações de impedância das colunas.
Mas não é só o ‘miolo’ que lhe dá o peso. A caixa metálica é robusta e o painel frontal em alumínio escovado tem 1 cm de espessura com o enorme A de AVID talhado a toda a altura do painel. Os botões de volume e seleção de fontes, também são de alumínio maquinado, tirando proveito das instalações metalúrgicas da AVID.
O ACCENT é simples, sem ser simplório. Tudo tem um aspeto profissional e durável. Se anda à procura de ‘luzes’, esqueça. O ACCENT só lhe dá sons – bons sons, aliás.
Audição crítica
Assim, o ACCENT foi ligado a um leitor-CD universal Oppo e ao streamer/DAC do meu Rose Hifi RS520 com cabos Transparent Valhalla. Na outra ponta, um par de humildes Sonus faber Concertino, que já ouvi tocar assim com um Krell K300i, de 10 mil euros.
Um dos melhores amplificadores de auscultadores de estado sólido single-ended que já ouvi.
Na saída para auscultadores, liguei à vez os meus Hifiman HE1000 (modificados) e os Austrian Audio The Composer e fiquei embasbacado: este é um dos melhores amplificadores de auscultadores de estado sólido single-ended que já ouvi. E não é só a neutralidade do som, é a potência!
Com colunas, o som é igualmente neutro, rico em detalhe fino, muito aberto, com um grave seco e controlado, e uma gama média isenta daquela eufonia artificial de que os audiófilos tanto gostam.
O ACCENT é um puro-sangue árabe: nervoso e rápido, como o vento!
E ainda bem que o ACCENT tem controlo remoto, porque, por vezes nem me deu tempo para correr para o botão de volume para o baixar, tal é a resposta dinâmica. Em termos hípicos, o ACCENT é um puro-sangue árabe: nervoso e rápido, como o vento! E também o pode comprar em preto.
Banda sonora de uma audição
- A voz de Patricia Barber, no álbum ‘Modern Cool’, é um tratado de reprodução de texturas vocais, mantendo todas as micro dinâmicas intactas, assim como as subtis inflexões, apesar da omnipresença da secção rítmica e da percussão;
- Em ‘Goodbye Pork Pie Hat’, por Charles Mingus, do álbum Mingus Ah Um, em homenagem a Lester Young, oiça o excecional controlo e articulação das linhas de baixo, sem perda da autoridade e ‘decay’ natural das notas, que sublinham a traço grosso o saxofone de John Handy. E, já que está a ouvir, deixe o disco tocar até ao fim. A gravação é excecional e o AVID ACCENT gosta de boa música. Eu também.
- A Sinfonia nr.9 de Beethoven, pela Filarmónica de Berlim, dirigida por Karajan, demonstra bem o controlo do ACCENT perante situações complexas, sabendo manter a definição e o ar das cordas, o poder dos metais e a humanidade das vozes, sem desembocar numa confusão tonal e tímbrica;
- Termino com ‘Teardrop’, do álbum Mezzanine, dos Massive Attack, para ouvir um palco holográfico que faz desaparecer as colunas e lhe vai permitir mergulhar na profundidade da imagem estereofónica criada em estúdio, em busca dos efémeros acordes de teclas, enquanto a voz de Elizabeth Fraser parece flutuar sobre a batida sincopada da percussão.
AVID sem LPs é como um jardim sem flores
Um crítico que ‘não tem gira-discos’ em casa não devia ter a lata (mea culpa) de testar um amplificaII como fonte, num sistema composto ainda por colunas TAD ME-1 S.
Mantenho tudo o que disse sobre o desempenho do ACCENT com fontes digitais, não obstante a alegada superioridade do LP. Ouvi de novo Patricia Barber, agora em ‘Blackbird’, do LP ‘Nightclub’; e a profundidade do palco na Marcha Eslava, de Tchaikovsky, pela London Symphony Orchestra, dirigida por André Prévin, deixou-me encantado.
Mas foi só quando Dee Dee Bridgewater entrou em palco com ‘One Fine Thing’ do álbum Dee Dee’s Feathers, acompanhada pela New Orleans Jazz Orchestra, dirigida pelo trompetista Irwin Mayfield, que a superioridade do LP ficou demasiado evidente para poder ser negada.
Aqui fica o registo em vídeo dessa audição, com o som gravado ao vivo pelo meu Nagra SD, como prova circunstancial dessa evidência. Até se ouvem os poucos estalos do vinil. Mas o som é deveras espetacular.
E dou o caso por encerrado.
Argumentos finais:
O AVID ACCENT é um amplificador integrado de estado sólido analógico puro indicado para audiófilos que dão mais valor à satisfação musical de longo prazo que ao prazer imediato do último gadget digital. Não é por acaso que é feito para durar, num mundo feito de constante mudança. ‘Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades'. Estamos de regresso ao LP? Conrad Mas aposta que sim.
- Especificações técnicas
Tipo: Amplificador integrado Classe AB, 2 canais
Entradas analógicas: quatro entradas de linha e uma entrada phono com ganho ajustável para MM ou MC
Entradas digitais: Nenhuma
Potência de saída: 70Wpc @ 8 ohms
Distorção harmónica: 0,03% a 80% de potência, 8 ohms, a 1kHz
Entrada phono: Ganho 48dB, 60dB e 70dB; Resistência de entrada: 47k ohms (pode ser ajustada com plugs de carga)
Capacidade de entrada: 100pF
Distorção: Menos de 0,03%
Ruído: MM -81dB, MC -67dB (configuração alta)
Precisão RIAA: +0,5dB, 5Hz-70kHz (correção HF Neumann)
Entrada de linha:
Impedância de entrada: 82k ohms
Resposta de frequência: 5Hz->80kHz ±1dB
Relação sinal-ruído: 97dB a 50watts, com ponderação A
Gama de carga de auscultadores: 20-600 ohms
Saída máxima para auscultadores: 9V rms em 600 ohms
Dimensões (LxAxP): 470mm x 110mm x 410mm
Peso: 14,5kg
Preço: €5,200
Fabricante: AVID Hi-Fi Ltd
www.AVIDhifi.com
+44 (0)1480 869900
Distribuidor: EXAUDIO