Delaudio950x225
Publicidade


Reviews Testes

dCS Lina System: recondita armonia

TRIO FRONT-Lina-System-Gallery-4 copy 3.jpg

Read full article in English

Nota: Devido a atrasos na alfândega, não me foi possível ouvir o sistema Lina durante tanto tempo quanto gostaria antes da publicação. Esta é uma avaliação preliminar e não uma análise aprofundada. No entanto, dada a óbvia excelência do produto, estou confiante nas minhas conclusões.

Três peças de função diversa, em perfeita harmonia, só possível pelo mistério da simbiose da arte e tecnologia.

O que pode levar um audiófilo a investir mais de 30 mil euros num sistema dCS Lina dedicado exclusivamente para audição com auscultadores, composto por um Network DAC (€14.750), Master Clock (€8.750) e Headphone Amplifier (€10.750)?

O design?

O sistema vem montado em três ‘caixas de sapatos’ negro mate, robustas, sem dúvida, mas sem graça. Não estamos a falar sequer de um arremedo do estilo Vivaldi ou Rossini, com o painel frontal projetando-se em ondas estilizadas, estamos a falar de três caixas negras de linhas direitas, com 121.5mm (H) x 220mm (W) x 356mm (D).

A ergonomia?

Da mesma forma que a dCS colaborou com a empresa StreamUnlimited, sediada em Viena, ao utilizar a sua plataforma de streaming S800, podia muito bem ter trabalhado com a HiFi Rose ou a Zidoo para nos oferecer um grande ecrã tátil. O ecrã do Lina Network DAC é pequeno, embora maior que o do Bartok, tem funcionalidades limitadas e é um pouco confuso de utilizar no início, embora possa ser substituído com vantagem pela aplicação Mosaic.

As ligações?

O Lina DAC não tem saída HDMI nem I2S; e o amplificador não tem saída balanceada do tipo Pentacon 4,4mm; nem tem saídas analógicas.

As especificações?

Hoje em dia, qualquer DAC de qualidade baseado num chipset Sabre oferece compatibilidade PCM786kHz e DSD512. O dCS Lina não vai além de PCM384 e DSD128. É verdade que a maioria das pessoas não precisa sequer disso, e em qualquer momento a dCS pode fazer updates via Internet, sem custos para o comprador.

Os filtros digitais?

O mesmo se pode dizer dos filtros digitais: apenas dois para PCM, quando qualquer chipset ESS Sabre oferece sete; e quatro para DSD, que mesmo assim obrigam o sinal a passar por PCM primeiro.

A tecnologia de conversão, talvez?

Bom, aqui, sim, já começa a fazer algum sentido, porque, ao contrário da maior parte dos DACs baseados em chipsets avulsos, o Lina utiliza tecnologia R2R discreta no Ring DAC.

O circuito de conversão Ring DAC da dCS é único. Trata-se de uma tentativa bem sucedida de combinar a conversão monotónica de 'bit único' com 'bitstream', obtendo-se assim uma conversão do tipo DSD de 4,6 bits cujos 24 valores variáveis possíveis são combinados empregando um algoritmo complexo com os 48 níveis fixos do circuito Ring DAC, superando assim as limitações do típico bit único da DSD e a modulação de largura de impulso do bitstream. O Lina utiliza o mesmo circuito digital do Bartók, embora sem o mais recente módulo Apex e o novo algoritmo de mapeamento.

A qualidade de som, então?

Aqui chegados, sim, o investimento justifica-se plenamente. Não há nada que se compare. Este é o melhor sistema de amplificação de auscultadores que já ouvi, e passa a ser a minha referência absoluta, ainda que o PVP seja inatingível. Isto mesmo não comprando o Master Clock, pois não é obrigatório. Quero eu dizer, até ao dia em que experimentar ouvir o sistema com o relógio instalado. A partir daí, já não há volta a dar.

Não há nada que se compare. Este é o melhor sistema de amplificação de auscultadores que já ouvi.

Cada um dos componentes do sistema pode ser inserido num sistema já existente, contudo é em conjunto que a sua utilização faz mais sentido. Mas vamos descrevê-los separadamente primeiro:

 1. dCS Lina Headphone Amplifier

Trata-se de um amplificador analógico puro de Classe A/B dedicado em exclusivo para auscultadores, ao contrário do Bartók, que pode funcionar também como pré-amplificador.

A dCS optou pela Classe A/B de amplificação por várias razões de ordem técnica: menor distorção, menor dissipação de calor e gasto de energia e mais potência. Um sistema servo DC garante a eliminação de distorção no ponto de passagem entre ciclos, desafiando a principal vantagem da Classe A do Bartók.

Em tudo o resto, o Lina é superior ao Bartók. Embora tenha sido otimizado para cargas de 60 ohms, o Lina tem quase o dobro da potência (2W) sobre uma carga de 30 ohms (4,5W balanceado!), e isso ouve-se imediatamente, quando lhe ligamos um par de auscultadores planar magnéticos difíceis de alimentar, como os Hifiman 1000E, e a potência parece ser ilimitada.

A impedância de saída é extremamente baixa (0,090 ohms)e, por isso, é praticamente imune à impedância dos auscultadores, sendo a resposta muito linear. Nunca senti necessidade de ajustar a resposta dos Hifiman com o igualizador paramétrico da Roon.

Para além do controlo de volume, o amplificador Lina não tem qualquer outro tipo de controlo ou ajuste digital ou analógico. Aliás, não tem sequer um controlo remoto.

O painel frontal não podia assim ser mais simples: quatro saídas para auscultadores, sendo uma XLR de 4-pinos balanceada; duas de 3-pinos (balanceadas) e o vulgar jack SE de 6,35mm sem qualquer identificação. A Pentacon balanceada de 4,4mm, agora tão na moda, não consta do menu.

Além das fichas, só assim temos o enorme botão rotativo de volume que aciona internamente um potenciómetro Alps. O botão de standby está escondido por baixo do painel ao centro e o led piloto branco é muito discreto.

Nota: quando ligado ao DAC via cabos/fichas RJ45, o sistema power-link ativa simultaneamente todos os componentes (cabos fornecidos).

O painel traseiro segue a mesma linha de simplicidade utilitária: tem um par de entradas RCA e balanceadas (XLR) para receber o sinal analógico do Lina DAC (cabos XLR fornecidos); e um outro par balanceado/buffered (XLR) para um DAC externo de outra marca; além, claro, da entrada de corrente de setor e o botão on/off.

Não há saídas analógicas pois, ao contrário do Bartók, o Lina não é também um prévio para poder atacar um amplificador externo ou um par de colunas ativas – é um amplificador de auscultadores analógico puro.

2. dCS Lina Network DAC

O DAC apresenta-se montado numa caixa idêntica à do amplificador (e do Clock), tanto nas dimensões como no peso (7,5 Kg) para facilitar a colocação sobreposta, distinguindo-se pelo mostrador LCD montado no meio do painel frontal em vidro acrílico.

O mostrador é um pouco maior que o do Bartók, mas a dCS podia ter sido mais generosa aqui, atendendo ao preço elevado do produto. E, já vimos, nem sequer é do tipo tátil, apenas o são os quatro pequenos botões luminosos de navegação, que se faz por meio de ícones. Acaba por se aprender a navegar ao fim de algumas tentativas, mas pode sempre utilizar a App dCS Mosaic no seu telemóvel ou iPad.

As opções são variadas, nomeadamente a de regular o nível de saída de 0,2 V a 6V (eu preferi sempre os 2V) e ativar/desativar o Master Clock. Quando experimentar, vai mantê-lo ligado – sempre – foi o que eu fiz!

E há também opções de ‘formatação’ do som, por meio de opções de crossfeed e/ou expansão do palco sonoro (dispenso); por seleção de filtros já referida ou a escolha de upsampling em DSD ou DXD (preferi sempre esta última). Até tem um gerador de ruído rosa para ‘queimar’ o sistema…

Como o nome indica Lina Network DAC é também um streamer e dá-lhe acesso direto aos principais serviços de música online: Tidal, Qobuz, Deezer e Spotify Connect, sendo ainda compatível com Roon e Apple AirPlay.

O painel traseiro apresenta-se mais composto que o do amplificador: saídas analógicas RCA e XLR (balanceadas); e todas as entradas e saídas digitais clássica (menos I2S e HDMI): 3 SPDIF (coaxial, BNC, ótica), 2 AES, USB-B, USB-A e BNC duplas (para o Master Clock) e uma ficha RJ45 para ligação à rede (Ethernet).

1. dCs Lina Master Clock

O relógio externo não faz falta nenhuma, até fazer. Muita. Como diz a dCS, o ‘clock’ elimina o jitter, isto é, os erros temporais. É como o maestro que controla os tempos da orquestra. E é isso que se ouve: um som mais ‘afinado’, mas também mais pujante e dinâmico. Para garantir precisão absoluta, o Lina Master Clock utiliza osciladores de quartzo separados para os grupos de frequência de amostragem de 44.1 e 48kHz.

Se não pretende comprar o Master Clock, não peça para o ouvir. O som vai enfeitiçá-lo para sempre. Fica o aviso.

Música, maestro!

Depois de muito ‘brincar’ com os filtros, upsampling DSD/DXD e crossfeed, cheguei às seguintes conclusões:

  • O Filtro 1 (PCM) é mais linear, neutro e preciso; o Filtro 2 mais ‘doce’ (-3dB aos 20kHz);
  • Com upsampling DXD o som é mais coeso e orgânico. Se utilizar DSD, utilize o Filtro 3 ou 4 para eliminar mais cedo a distorção acima da banda áudio;
  • Mantenha o crossfeed off, Lina não precisa de ‘alterações climáticas’ que afetam a temperatura e espacialidade natural do som.

Assim, tudo o que se segue foi ouvido com 2V, Master Clock ativado, PCM upsampling, Filtro 1 e M1 com MQA, sem crossfeed ativo.

‘Graceland’

O primeiro álbum que ouvi foi ‘Graceland’, de Paul Simon. O álbum abre com ‘The Boy in the Bubble’ e o ‘mapeamento’ inicial do monumental palco sonoro com pinceladas certeiras de percussão é sempre o que mais impressiona os ouvintes.

Mas, para mim, o que mais impressionou foi a reprodução da sibilância na voz de Paul Simon, que sempre me soou artificial e agora soa natural. Foi preciso a Lina para eu entender o verdadeiro significado de: ‘…these are the days of miracle and wonder…’. É isso mesmo, Lina é um milagre tecnológico!

‘…these are the days of miracle and wonder…’.

Os Ladysmith Black Mambazo nunca me soaram tão presentes e definidos em ‘Diamonds On the Soles of Her Shoes’. O incrível jogo de vocalizações soou como o brilho dos diamantes nas solas dos sapatos dela.

Oiça com o coração

O sistema dCS Lina não reproduz apenas música, transmite sentimentos: de alegria e tristeza, de dor e medo, de amor e ódio.

Oiçam Joyce DiDonato cantar a ária ‘Lascia ch’io pianga’, do Rinaldo, de Handel. O timbre da sua voz de mezzo soprano sabe a caramelo, a sua interpretação é tecnicamente irrepreensível e emotivamente comovente, e muito bem secundada pelo acompanhamento lânguido do ensemble Pomo D’Oro. Até no YouTube soa bem, admito.

Mas só um sistema como o Lina nos dá toda a carga emotiva das pungentes inflexões na sua voz quando canta ‘sospiri’ ou 'libertá', e nos permite seguir os dulcíssimos pianissimi até ao limite do seu fôlego. É a diferença entre uma interpretação sublime e uma execução competente.

Lascia ch’io pianga la cruda sorte,
E che sospiri la libertà!
E che sospiri, e che sospiri la libertà!
Lascia ch’io pianga la cruda sorte,
E che sospiri la libertà!

Por falar em execução, oiçam a grande Monserrat Caballé, em Tosca, dirigida por Sir Colin Davis, quando descobre que o seu amado Mário Cavaradossi tinha afinal sido executado: O Mario, morto? Tu? Cosi? Finire cosi? Cosi!, grita ela em desespero, expressando o choque e negação da notícia da sua morte. O sistema Lina consegue transmitir todo o misto de emoções conflituantes de amor, ódio, desespero e raiva, não apenas as palavras e a majestade dramática da música!

Mas antes, oiçam Carreras, no seu auge, cantar Recondita armonia, L'arte nel suo mistero le diverse bellezze insiem confonde. Esta ária podia ser dedicada a Lina que conjuga em si a mesma misteriosa harmonia de belezas diversas.

Leve os seus auscultadores e uma pen com os discos preferidos, e vá ouvir o sistema dCS Lina na Imacustica. O melhor é levar também a sua mulher, porque Lina não é só um investimento, é uma paixão para a vida.

TRIO FRONT Lina System Gallery 4 copy 3


Delaudio950x225
Publicidade