JVH mantém-se na senda dos equipamentos áudio ‘utilitários’ e faz um ‘test-drive’ ao Denon PMA900HNE Network Amplifier, que custa pouco menos de 1000 euros.
Há por aí marcas chinesas anónimas de amplificadores que custam metade ou menos e apresentam atestados laboratoriais irrepreensíveis.
Portanto, o leitor está à vontade para seguir o seu próprio caminho e até casar com quem lhe apresentar o melhor atestado de saúde, ainda que as hipóteses de divórcio sejam iguais às do casamento por amor. Diz-se que o amor é cego – mas não tem de ser surdo!
Do mesmo modo, antes de começar a época, todos os jogadores de futebol são sujeitos a testes rigorosos para avaliar da sua saúde física. O que fazem depois dentro do campo já é outra conversa. E há ainda que ter em conta a genética, o treino e a habilidade natural.
…diz-se que o amor é cego – mas não tem de ser surdo!...
Na eletrónica, não há genética: ou funciona bem ou não. Mas há uma ‘genética’ das marcas, fundada na história e no saber de experiências feito.
A Denon nasceu quando D.Carlos morreu
A Denon anda nisto desde 1910, ainda Portugal era uma Monarquia, ou talvez já fosse República. Portanto, quando lança um produto, tem dois objetivos:
- que justifique o preço
- que seja melhor que a concorrência
Ainda que a concorrência seja cada vez mais uma quimera. Por exemplo, o principal concorrente da Denon é a Marantz. Acontece que ambas as marcas pertencem agora ao grupo Sound United.
Assim, não se admire quando verificar que as características e especificações de modelos de ambas as marcas, dentro da mesma categoria de preços, são muito idênticas.
HDAM VS AHCS
Mas não muda só a embalagem: ambas as marcas utilizam módulos de amplificação exclusivos.
A Marantz utiliza no primeiro andar de ganho módulos HDAM, Hyper Dynamic Amplifier Module, que são versões discretas de amplificadores operacionais. Ou, em alguns casos, módulos Hypex e NCore (Classe D) no andar de saída;
A Denon utiliza circuitos AHCS- Advance High Current Single push-pull de classe A/B com um par de transístores bipolares numa configuração Darlington de elevado ganho de corrente. E optou por transformadores laminados (EI), no lugar do toroidal mais propenso ao hum e sensível a vibrações.
Nota: na secção Artigos Relacionados (em baixo) pode ler vários testes a modelos Marantz.
Novidade no High End 2002
O PMA-900HNE foi apresentado no High End 2022 como o primeiro amplificador de rede Denon com streaming integrado e HEOS multiroom.
De facto, o amplificador de rede PMA-150H já oferecia streaming, assim como o 800NE, mas apenas via Bluetooth e Wifi, sem entrada DLNA (Ethernet). Mas o 150H não tinha o tamanho standard, pelo que se pode afirmar que o 900HNE é o primeiro do género.
A secção de leitor-de-rede (streaming) do PMA900 HNE é controlada pela aplicação HEOS, disponível para Android e iOS, e é compatível com Wifi, Bluetooth, AirPlay2; e, claro, todos os fornecedores de streaming conhecidos: Amazon Music (HD), Spotify, Tidal, Deezer, Music, napster, soundcloud e TuneIn. A Qobuz não consta da lista.
Tidal+Qobuz
Mas eu descobri que é possível ouvir a Qobuz via media players (UPnP) gratuitos, como o mConnect Lite.
Eu utilizo Tidal e Qobuz, mas é bom saber que há outras alternativas. A cereja no topo é a compatibilidade Roon (via Air Play apenas), que eu considero muito útil e prática, quando se utiliza um PC, embora o HEOS (com aplicação multiroom) instalado no celular seja suficiente para a utilização diária normal.
HEOS
A configuração da aplicação HEOS é intuitiva. Funcionou muito melhor, quando ligado à Ethernet, claro. Depende muito da qualidade da sua rede doméstica. O mesmo se passa em relação ao Bluetooth, que tem um alcance de apenas alguns metros.
USB A sim, USB B não
O DAC Sabre ESS ES9018K2M tem especificação PCM 24-bit/192kHz e DSD 5.6 MHz (DSD128) o que é suficiente para a reprodução da maior parte dos ficheiros áudio disponíveis atualmente, que podem ser reproduzidos a partir de uma pen (flash drive), basta inseri-la na entrada USB A no painel traseiro.
Nota: Não é possível ligar o 900HNE ao PC via USB B. Portanto, esqueça os Media Player JRiver e Foobar.
Phono MM/MC
Mas a Denon não se esqueceu que há cada vez mais adeptos do LP, e integrou uma etapa de Phono MM e MC também, o que é raro a este nível.
Depois de terem sido vilipendiados, sobretudo pela imprensa britânica, os controlos de tonalidade estão agora presentes na maior parte dos amplificadores integrados. O 900HNE não é exceção, pois pode ajustar o grave e o agudo – e ainda o equilíbrio entre canais.
O efeito dos controlos é um pouco excessivo se exagerar no ganho, mas pode sempre optar por Source Direct que faz bypass a tudo, incluindo o equilíbrio entre canais.
Amostra de mostrador
Ao contrário do PMA-800NE que tinha o rosto limpo, o 900HNE tem um pequeno mostrador OLED (do tamanho de um selo) que lhe fornece alguma informação suplementar – não muita, sobre fontes e streaming, por exemplo, mas não esteja à espera que lhe indique o título do disco ou o nome do artista.
… o Denon 900HNE por 998€ é concorrente direto do Marantz PM7000N, que custa mais 300 euros…
HDAM ou AHCS?
Compete ao leitor avaliar se os módulos de amplificação Hyper Dynamic (HDAM) da Marantz justificam a diferença de preço sobre a tecnologia Advanced High Current Single da Denon.
Todos estes nomes “tecnicistas” são criados pelos departamentos de marketing. O melhor mesmo é ouvir ambos a alimentar um par de colunas idênticas à suas para aferir qual deles lhe dá mais sensação de potência, controlo sobre as colunas, sobretudo o grave, palco sonoro e prazer de audição – chame-lhe musicalidade, se preferir.
Os watts não são todos iguais
A diferença de watts de potência declarados por ambos (50 vs 60W/8, respetivamente) não significa nada – são como os cavalos de potência de um carro. Nem sempre o mais potente é o mais rápido…
Embora os 50W da Denon sejam robustos, eu aconselho umas colunas com boa sensibilidade, algo acima dos 89dB/1m, pelo sim, pelo não, ou o controlo de volume pode parecer lento na subida.
Não teste o 9ooHNE apenas com Bluetooth ou TuneIn (internet radio). É prático, dá para ouvir música mas a qualidade do som deixa algo a desejar se comparado com as outras fontes digitais: CD, USB e streaming, sobretudo com Roon.
Comece pelo leitor de CD via ligação analógica (RCA) ou digital (coaxial) para comparar os respetivos DACs. A não ser que tenha um leitor-CD topo de gama, vai optar pela DAC interno do Denon.
Aliás, portou-se muito bem também na entrada USB, onde liguei um disco rígido portátil com centenas de faixas em alta resolução PCM e DSD até 192/24 e DSD128 como prometido no catálogo. E não só do disco rígido, também do meu NAS que tem milhares de faixas em ficheiros digitais, embora o Denon falhe no capítulo da catalogação.
HEOS – MQA - ROON
HEOS e MQA não têm relações diplomáticas. MQA só via Roon ao qual consegui aceder apenas via Air Play. Reproduz todo o tipo de ficheiros, incluindo MQA.
Os amplificadores Denon não são Roon Ready, apenas Roon Tested. Acedem ao Roon via AirPlay, logo estão limitados a 44,1kHz/16 bit, fazendo downsampling de todas as amostragens superiores, incluindo MQA (ver foto nr.).
Quem tem gira-discos não deve deixar de experimentar ouvir alguns LP. Não foi o meu caso, pelo que fica esta lacuna no relatório.
Truques e atalhos
A este nível prefiro debruçar-me sobre as funcionalidades, muitas das quais não constam sequer do manual. Por exemplo, não há qualquer referência a Roon, MQA ou Qobuz e, no entanto, há truques e atalhos para aceder e reproduzir, como vimos acima. Eu não me limito a repetir o que vem na brochura, vou lá confirmar se é verdade (ver foto em baixo).
O Denon 900HNE é um integrado barato. Mas tem todas as características e especificações típicas dos atuais integrados de entrada superior com funções digitais, o que significa que o leitor poupa algum dinheiro sem perder funções e qualidade de som em relação à concorrência (incluindo Phono MM/MC).
…o 900HNE é concorrente direto do Marantz PM7000N e faz tudo o que o Marantz 40n faz…
Denon vs Marantz
Por 998€, o Denon 900HNE é concorrente direto do Marantz PM7000N, que custa mais 300 euros. E, por menos 1500 euros, faz tudo o que o Marantz 40n faz – talvez com menos classe e poder mas também menos despesa! Será suficiente para justificar a diferença de preço? Eu acho que sim, mas o dinheiro é seu…
Uma boa aposta, portanto, depois da indispensável comparação com os seus pares (Advance, Audiolab, Marantz, NAD, Rotel…) até mil e quinhentos euros.
Aposto que vai acabar por escolher o Denon tendo em conta a relação qualidade/preço.
Conclusão
Não vou fazer uma lista de toda a música que ouvi – e foi muita. A análise do som é subjetiva e a escolha de música ainda mais. O som é limpo, claro e com boa transparência. E isso basta-me.
O Denon 900HNE cumpriu todas as expectativas para um produto dentro da sua categoria – e mais além, sobretudo com música clássica e jazz. Para a música moderna não se perdia nada um pouco mais de potência apesar dos razoáveis 85W/4. Digamos que é um amplificador integrado moderno – e civilizado. Ao qual até se pode dar ordens via Alexa. O que mais se pode pedir por mil euros?
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