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Quem Me Dera Saber
Adotei este título quando ouvi o pequeno Eversolo Play tocar como gente grande ‘I Wish I Knew’, do álbum ‘Play For Love’, de Wes Montgomery.
Muitos leitores vão sentir o mesmo, quando ouvirem o Eversolo Play, que custa 699 €. Sobretudo, se tiverem já investido o dobro do dinheiro em qualquer outro ‘Streaming Amplifier’ da moda.
É verdade que o saxofone é talvez um dos instrumentos mais fáceis de reproduzir com realismo, porque a gama-média é o seu habitat natural e os problemas tonais surgem normalmente nos extremos de frequência.
Contudo, a qualidade do que eu ouvia não deixava margem para dúvidas: o Play toca muito bem para o preço! Eu até podia ter afinado o som ao meu gosto, porque ele oferece equalizador gráfico de 15-bandas e paramétrico de 10-bandas (e correção automática de salas), mas nem isso foi necessário.

Eversolo Play e Sonus faber Concertino G4
Liguei-o a um par de pequenas, mas requintadas, Sonus faber Concertino G4; depois à Ethernet, quando podia tê-lo feito também por Wi-Fi e Bluetooth; e, finalmente, à corrente de setor.
Play At Will
E pronto, tinha ali milhões de faixas de música à minha disposição, com busca facilitada pela navegação no ecrã tátil, que podia ser mais sensível ao tato, diga-se; ou com base num algoritmo (função Play At Will). Inicialmente, a seleção do Play era demasiado hip-pop para o meu gosto, pois prefiro clássica, ‘jazz’ e 'folk'. Mas ele aprendeu depressa aquilo que eu queria ouvir.
Desculpem, deixei-me levar pelo entusiasmo, vamos começar pelo princípio.
O Eversolo Play é mais uma das muitas soluções all-in-one, integrando streamer, DAC e amplificador de Classe D. Com preços de 699 € para esta edição ‘standard’ e €799 para a Edição CD (com leitor de CD integrado). Foi apresentado no High End 2025, de Munique. Do evento, demos notícia aos leitores, depois de, em 2024, eu ter vaticinado que o próximo streamer da Eversolo teria amplificador integrado. Ei-lo!
O Play funciona com uma variante melhorada do sistema operacional Android, suportando streaming de alta resolução, incluindo Apple Music e outros protocolos como UPnP, Tidal Connect, Spotify Connect, Qobuz Connect e Roon Ready.

Eversolo Play - painel traseiro
O DAC utiliza o chip DAC AKM AK4493, com máxima resolução de PCM768kHz e DSD512 nativo, sendo a relação sinal-ruído de ≥109dB e distorção harmónica total (THD) ultrabaixa de 0.0037%. O amplificador produz 60W por canal sobre 8 ohms e 110W sobre 4 ohms. As ligações incluem coaxial, Toslink, HDMI ARC e entrada phono (MM e MC), com saídas para subwoofer e USB para armazenamento.
Nota: Não soa tão potente como os números indicam, tendo sido preciso rodar bastante o botão de volume para o 'acordar'. Depende muito da sensibilidade e impedância das colunas, claro.
Não tem saída de prévio, o que é pena. Porque eu queria ligá-lo ao meu amplificador a válvulas Lab12 Mighty, nem que fosse para experimentar a fusão do antigo e do moderno. Mas essa ausência também mostra a confiança da Eversolo no desempenho do amplificador integrado de Classe D. E com boas razões para isso, pois soa como um bom amplificador analógico de Classe A/B.
O chassis do Eversolo Play é construído a partir de uma peça única de alumínio, com pregas na base que funcionam como dissipador de calor. O Play fica morno ao tacto ao fim de algum tempo, apesar da topologia de Classe D do amplificador.
Por fora, o ‘design’ confunde-se com o do novo Wiim Amp Ultra e também com o Bluesound Icon, que não oferece amplificação integrada e é mais caro (cerca de 1.000 €). Em breve, iremos analisar o Icon para tentar perceber como justifica o preço.

Ecrã tátil enorme e muito informativo. Uma janela aberta para o coração do Play.
O fabricante alega que a qualidade do DAC/Streamer do Icon é muito superior. Vamos ouvir e comparar, embora o Icon tenha de ser acolitado por um amplificador externo, o que pode ser uma vantagem em termos de som e uma desvantagem em termos de preço e integração.
'Smooth Operator'
O Play parece ter sido afinado para contrariar as ideias feitas sobre o som analítico e frio dos amplificadores de Classe D. O som do Play é quente e macio, sem arestas vivas, por vezes talvez até demasiado polido para assim poder soar sempre agradável, independentemente do tipo de música. Mas a separação instrumental e o palco sonoro são amplos, com boa reprodução da profundidade.
Dou como exemplo ‘Money For Nothing’, dos Dire Straits, com a bateria a mostrar notável impacto e o baixo bem definido e controlado, mas com os riffs de guitarra a soarem polidos em vez de acutilantes;
Em ‘Night Train’, de Christian McBride, o dedilhar e o arco são reproduzidos com a crispação correta, mas algo suavizados nos detalhes, em vez de soarem nus e crus. A mesma ‘doçura’ é também aplicada aos metais, trocando brilho por riqueza tonal. Mas a orquestra continua a soar coesa, dinâmica e envolvente, mantendo-se o desempenho geral coeso e vivo.
Isto torna o exercício auditivo mais relaxante que estimulante, logo a convidar à audição ininterrupta de música, que, hélas, não se pode prolongar noite dentro, porque também não tem saída para auscultadores - o WiiM Amp Ultra tem. E o Icon também tem — não uma, mas duas saídas, uma de cada lado!
Claro que pode sempre afinar o som ao seu gosto, recorrendo às funções de EQ. A mim, compete analisá-lo em modo flat. A partir daí, a escolha é sua.
A ‘interface’ do utilizador do Eversolo Play, tanto no dispositivo como através da aplicação, é intuitiva, com o ecrã tátil a oferecer acesso rápido às funções e a aplicação a ampliar o controlo mediante uma pesquisa global que extrai rapidamente informações de fontes ‘online’.

Ecrã tátil ou telemóvel : a escolha é sua
Esta facilidade de utilização, combinada com o conjunto abrangente de funcionalidades, torna o Play uma opção irrecusável para quem procura um sistema de som simples, barato e eficaz, ou como sistema secundário, no quarto ou no escritório.
Assim, não admira que haja tantas ‘reviews’ do Play no YouTube. Não tenho dúvidas de que o jovem potencial comprador do Play prefere ver a ter de ler tudo sobre as múltiplas funções, pois já nasceu com um telemóvel nas mãos. Talvez por isso, esta análise seja tão breve e despida de jargão audiófilo, ou questões demasiado técnicas. Basta ligar e ir pelos seus dedos.
Eversolo Play: múltiplas funções na ponta dos dedos
O Play justifica todos os 699 euros que custa e ainda mais uns trocos, se compararmos com a concorrência, sendo um forte candidato a amplificador/streamer acessível do ano de 2025.
Como solução tudo-em-um, o Eversolo Play aproxima-se perigosamente da perfeição tout-court. Mas não totalmente, pois isso tornaria redundante a minha tarefa de analista. Contudo, a relação qualidade-preço, essa, é perfeita.
O Play oferece tudo aquilo que promete por um preço muito acessível, num mercado onde impera a lei do valor decrescente; e onde, demasiadas vezes, o custo elevado de um produto não justifica a pretensa melhoria na qualidade.
O Play justifica todos os 699 euros que custa e ainda mais uns trocos, se compararmos com a concorrência, sendo um forte candidato a amplificador/streamer/DAC acessível do ano de 2025.
Nota: o exemplar em teste foi enviado ao Hificlube pela Eversolo através da Delaudio. O Hificlube agradece o apoio e a colaboração.
Para mais informações, por favor, contacte: DELAUDIO