A marca Ferrum é relativamente recente. Foi criada na Polónia em 2020, e em apenas dois anos apresentou três novos produtos, todos agora testados pelo Hificlube.net com boa nota e até galardoados com prémios.
A Ferrum não nasceu do nada. É filha da HEM, de Marcin Hamerla, conhecido por ser o verdadeiro pai do famoso conversor digital analógico americano Mytek.
Um streamer na forja?
Primeiro nasceu a fonte de alimentação universal programável HYPSOS (1.195,00), seguiu-se o amplificador de auscultadores OOR (1.195,00 €) e agora temos o ERCO (2.395,00 €), que também é um amplificador de auscultadores (e prévio com saídas XLR e RCA para atacar um par de colunas ativas ou amplificador externo) mas que é, sobretudo, um DAC de grande qualidade.
Para ser um tudo-em-um ao ERCO falta-lhe a função de Streamer, que deve ser o próximo rebento a nascer. Eu sugiro já o nome Byxo, que significa Oor (orelha) em ucraniano, pois Erco é também a palavra 'orelha' em esperanto.
‘Diamonds and rust’
Os Ferrum parecem-se todos: a caixa é a mesma (21 x 20 x 5 cm), o logótipo de diamante iluminado sobre cor de ferrugem idem. Só variam nas funções, logo no layout dos comandos no painel.
Bom, a HYPSOS PSU tem um pequeno mostrador, que podia muito bem ter sido aproveitado também para o ERCO, pois este tem apenas um pequeno led, que muda de cor conforme está a receber sinais analógicos (amarelo), digitais (laranja para PCM e branco para DSD) e MQA ( verde, azul e magenta). Mas não há código de cores para as diferentes frequências de amostragem.
Vermelho é aqui sinal de erro e não indicativo de presença de sinal ‘red book’; e o led branco pisca quando se está a instalar firmware. É tudo quanto a informação.
Prémio EISA
De resto, tem um botão de volume rotativo de razoáveis dimensões e dois seletores: um para o ganho e outro para as fontes; e duas saídas para auscultadores: uma para Jack convencional de 6,3mm e outra balanceada de 4,4 mm, que substitui a XLR profissional do OOR, a minha preferida.
Aliás, não tenho nenhum cabo com ficha balanceada de 4,4mm, pelo que não pude testar a que é alegadamente a melhor saída: a balanceada. Mesmo assim, fiquei fã. Em perspetiva, mais um prémio EISA para a Ferrum. Vai uma aposta?
USB-C
Na traseira (ver foto e legenda), a novidade da entrada USB-C, mais comum em smartphones. Eu preferia uma USB-A ou B que é mais estável. Verifique sempre se a ficha USB-C está bem colocada, se houver alguma falha de sinal (lock).
Outro conselho, não mexa no botão rotativo de bypass atrás. A ideia é permitir controlar o volume num equipamento externo, mas um esquecimento pode ser fatal.
Como sempre, a alta resolução só é possível com USB. As entradas coaxial (24/192 e DSD64 via DoP) e ótica 96/24 estão limitadas.
ERCO=OOR+DAC?
A Ferrum substituiu a topologia discreta do andar de potência do OOR por ICs. Mas o espaço interior é o mesmo, logo para poder meter lá dentro uma secção digital e respetiva alimentação com chip ESS Sabre ES9028PRO (PCM 384/32 e DSD256 + MQA com base num chip ARM STM32H7) foi preciso reduzir o número de componentes do andar analógico.
Amplificador tipo ‘gain-card’
Os andares de saída do ERCO utilizam agora amplificadores operacionais ‘current-feedback´ de banda larga Linear Technologies LT-1210 (dois por canal em modo diferencial). No fundo, são ‘gain-cards’ como os amplificadores Clones e Moonriver 404, conhecidos pelo som limpo e leve.
Contudo, a Ferrum ‘afinou’ os ICs de modo a soarem tão próximo quanto possível do som do OOR. Se eu não soubesse que o ERCO utiliza ICs, era capaz de acreditar que a topologia era a mesma do OOR. Excelente trabalho.
Analógico puro
Ao contrário do que sucede com quase todos os outros concorrentes (estou a lembrar-me do Naim Atom), os sinais analógicos não são (re)digitalizados para processamento ou controlo de volume. Uma boa decisão técnica.
O seletor de ganho também só funciona quando se está a utilizar auscultadores. Quando é utilizado apenas como prévio, o sinal passa diretamente pelo potenciómetro quadruplo Alps Blue (2 por canal em modo balanceado).
HYPSOS + ERCO
O Ferrum ERCO é fornecido com uma fonte de alimentação do tipo transformador de ligar à tomada. Mas eu tinha ainda aqui comigo a HYPSOS PSU e os cabos Power Link (99€), e nem hesitei em ligá-la com o cordão umbilical.
Contudo, a diferença não é tão óbvia como com o OOR (ver em Artigos Relacionados no final). De tal modo, que eu mantive a tensão de 24V recomendada, embora o ERCO aguente até 35V! Já com o OOR, eu fui até aos 30V.
Isto porque quanto mais elevada é a tensão menor é a corrente e o ERCO gosta mais de corrente que de tensão – pelo menos foi o que me pareceu ouvir. Continua a soar melhor com a HYPSOS, mas já não é tão imprescindível como com o OOR. Poupa muito e sacrifica pouco.
Potência de sobra
Seja como for, potência é o que não lhe falta, não sei mesmo se não é ainda mais potente que o OOR. Liguei-lhe os meus Hifiman HE1000 com o Jack de 6,3mm e mesmo com o seletor na posição de ganho unitário tinha potência de sobra. Ora a saída balanceada é ainda mais potente - dizem.
Aliás, a qualidade de som do ERCO na saída não-balanceada é muito semelhante à da saída balanceada do OOR. Eu disse semelhante, não igual.
O som do OOR é mais escuro e cheio – mais, não sei se arrisque dizê-lo: ‘analógico’. Não que o ERCO soe ‘digital’, o que quer que isso queira dizer, longe disso. O som do ERCO é apenas mais vivo, ágil, eu diria até mais rápido e focado, mas é também menos encorpado e, talvez por isso, ainda mais informativo.
A comparação não é justa, porque o OOR precisa de um DAC externo (utilizei um Hugo 2) e o ERCO é autossuficiente.
De DSD256 a full MQA
Uma vez instalada a driver imprescindível para quem utiliza um PC pode utilizar o JRiver para ouvir ficheiros de alta resolução ou correr o Roon. O ERCO cumpriu todas as minhas expectativas, tanto no que diz respeito à conversão de PCM384 como de DSD256 nativo e, claro, MQA até 352,8kHz.
…o nível de jitter é tão baixo que até o YouTube soa bem!...
Mas foi a reproduzir o som de vídeos dos concertos Tiny Desk no YouTube, que me deixou completamente rendido. Atenção que o ERCO não faz upsampling – é um DAC bit-perfect. Mas o nível de jitter é tão baixo que até o YouTube soa bem!, juro...
Um ‘dilema’ que não nos sai da cabeça
Instale um ERCO no seu sistema doméstico e ouça, por exemplo, o concerto de ‘Lous and the Yakuza’.
Lous (Marie-Pierre Kakoma) é uma jovem belga de origem congolesa, que vai deixá-lo rendido aos seus encantos - e não só vocais - a que a rouquidão confere ainda mais sensualidade.
A canção de abertura ‘Dilemme’ não lhe vai sair da cabeça o dia todo:
Si je pouvais je vivrais seule
Loin des problèmes e des dilemmes
Na na na na
Preste atenção à harmonia dos sublinhados das duas jovens do coro Yakuza ao fraseado da exótica voz de Lous; e também ao jogo entre o pedal da bateria, o baixo elétrico e o sintetizador com perfeita destrinça tímbrica entre diferentes formas de ‘baixo’. Quanto à técnica do baterista, só ouvindo se acredita…
Famous last words
Suponha agora que tem um bom DAC e aceitou a minha sugestão anterior para comprar o OOR. Não precisa de o trocar agora pelo ERCO. Contudo, se precisa de um DAC novo e de um amplificador de auscultadores, não procure mais: compre o ERCO. Pelo menos, deve fazer parte da sua lista restrita.
Visite a AJASOM para ouvir o ERCO e traga os seus auscultadores preferidos consigo. Vai ficar tão surpreendido quanto eu fiquei. Ou mais ainda.