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O Phantom é o amplificador de auscultadores analógico (sem DAC incorporado) mais avançado e inclusivo do mercado. É também um dos mais potentes e versáteis. O preço de 3.749,00 euros pode parecer elevado, mas é consentâneo com a tecnologia sofisticada e as especificações imbatíveis. É um verdadeiro poço de energia para auscultadores de todos os tipos.
A dupla personalidade do Phantom é evidente tanto a nível estético como acústico. Quando o vi pela primeira vez no HighEnd 2023, em Munique, fiquei surpreendido com o design tipo ‘bolo de baunilha e chocolate’.
Segundo a iFI Audio, foi inspirado nos dois tons do Rolls Royce Phantom, daí o nome.
A dupla personalidade do Phantom é visível tanto a nível estético como acústico.
Bolo de dois andares
À primeira vista, parece até ser composto por duas caixas diferentes empilhadas, uma sobre a outra. Mas afinal é uma peça única, composta por uma parte superior em cor de alumínio, que assenta sobre uma base preta (256 x 120 x 185 mm), com aletas de arrefecimento, que recebe todas as ligações, tanto na parte frontal como na traseira.
O andar superior exibe um ecrã TFT circular e dois grandes botões rotativos, com uma tampa de vidro fumado transparente, que deixa ver as válvulas e os circuitos no seu interior. No meio, pontifica uma chaminé de ventilação, também em alumínio.
Na parte frontal-direita da base, o iCAN Phantom assegura as ligações com uma vasta gama de auscultadores e fontes de áudio: 4 pinos balanceados, 3 pinos balanceados, 4,4 mm balanceados (Pentacon), 6,3 mm fase positiva, 6,3 mm fase invertida e o clássico mini jack 3,5 mm.
No lado esquerdo da base, encontram-se as saídas exclusivas para auscultadores eletrostáticos: uma saída com polarização normal de 6 pinos (230 V); e outra de polarização personalizada de 5 pinos, cuja tensão pode ser selecionada por meio de um dos cartões guardados na placa destacável na parte traseira, que imita um dissipador (já lá vamos).
Finalmente, na secção inferior-traseira da base, vai encontrar também as habituais ligações analógicas: uma entrada XLR e três entradas RCA, bem como uma saída XLR balanceada e uma saída RCA.
O Phantom tem dois grandes botões rotativos no andar superior. Um dos botões controla um potenciómetro de volume ALPS Alpine motorizado de 6 vias: 4 das vias são utilizadas para ajustar o volume do sinal balanceado e as outras duas são utilizadas para monitorizar o funcionamento do controlo de volume.
É necessário premir primeiro o botão do lado esquerdo para ligar/desligar o dispositivo; depois rodá-lo para selecionar a fonte. O dispositivo desliga-se automaticamente (predefinição de 30 minutos a 3 horas).
Os dois pequenos interruptores de alternância que ladeiam o ecrã TFT selecionam o ganho (0dB, 9dB, 18dB) e os modos de estado sólido/válvulas. Quando se comuta o modo ‘Tube+’, há por vezes um estalido audível.
Tem ainda um teclado preto com teclas de seleção para ajuste de AC e Impedância (para eletrostáticos), IEMatch (para IEMs), e ainda XSpace e XBass, a que voltaremos mais abaixo.
Em alternativa, é possível utilizar o controlo remoto. Existe também uma aplicação iFI Nexis que funciona com o módulo integrado no iCAN Phantom via Bluetooth, embora eu não tenha conseguido iniciar a app com o meu telemóvel Android. No entanto, funcionou muito bem com o iPad (iOS).
A placa preta, magnética e amovível, que contém os seis cartões de polarização de tensão predefinidos, também pode servir para tapar as ligações para auscultadores, na parte da frente do módulo inferior, quando se está a utilizar o Phantom apenas como pré-amplificador, e já sabemos que não vamos precisar de ligar auscultadores. Caso contrário, repousa na sua cama secreta, na parte de trás do módulo superior, como acima referido, imitando um dissipador.
Prévio de referência
O Phantom é simultaneamente um amplificador de auscultadores analógico de referência e um pré-amplificador versátil. Pode ser ligado a um amplificador de potência, tornando assim os modos de processamento analógico XBass e XSpace extensivos também às colunas ativas a que esteja ligado, corrigindo a distorção espacial e melhorando a imagem, para uma experiência de audição holográfica, sem o eco e a reverberação associados a soluções baseadas em DSP.
Aproveite para dar ambém uma olhadela no interior do Phantom, e maravilhe-se com a organização dos circuitos e as duas válvulas a brilhar no lado direito.
Válvulas ou transístores?
A unidade possui dois andares de entrada independentes que lhe permitem alternar instantaneamente entre estado sólido e válvulas de vácuo GE5670 para personalizar o som nos modos "Tube" e "Tube+" (este com menos realimentação negativa) e permitir assim um tempero ao gosto pessoal.
O andar de entrada duplo não é novidade para a iFI Audio. Foi desenvolvido a partir do anterior iCAN Pro. O circuito do amplificador é totalmente discreto, integralmente balanceado, com o primeiro andar a válvulas ou JFET comutável. O segundo andar de ganho é a transístores bipolares, assim como o andar de potência em Classe A (com buffer a MOSFET), que passa a classe AB para auscultadores de baixa impedância a níveis muito elevados.
Segundo a iFI Audio, as válvulas têm uma vida útil de 100 000 horas, o que é muito mais do que eu vou poder ouvir no tempo que me resta de vida.
Tecnologias inovadoras
Mas há outras tecnologias inovadoras patenteadas da iFI Audio incorporadas no Phantom:
- A tecnologia de energização Pro iES, com seis definições de tensão para auscultadores eletrostáticos. O iESL Energizer nasceu como um componente separado que fornecia tensões de sinal elevadas para uma vasta gama de auscultadores eletrostáticos. Foi integrado no iCAN Phantom, agora com cartões de polarização, uma novidade mundial em termos de versatilidade.
- Este é o único amplificador que conheço que pode lidar com auscultadores dinâmicos, isodinâmicos e eletrostáticos ao mesmo tempo. Inclui ganho ajustável (0dB, 9dB e 18dB), ajuste de impedância de carga (16 ohms a 96 ohms) e atenuação de saída IEMatch para auscultadores intra-auriculares altamente sensíveis.
- O design do amplificador True Differential Balanced é uma evolução do conceito de circuito PureWave da iFi Audio. A potência impressionante e a distorção ultrabaixa contribuem para proporcionar um som tão próximo quanto possível da gravação original, segundo o fabricante.
- O conjunto de baterias capacitivas e a fonte de alimentação iPower Elite também foram recuperadas de modelos anteriores para eliminar o ruído da rede elétrica do sinal de áudio.
Nota: O Phantom é analógico-puro, de tal forma que até o processamento de crosstalk (XSpace) é efetuado no domínio analógico, por isso não vai encontrar a incorporação das tecnologias digitais de modelos anteriores como o iDSD.
Cartas na manga
O Phantom pode ser um verdadeiro camaleão, mas são os espantosos 15 W de potência nas saídas balanceadas (6 W em single-ended) que o elevam acima da concorrência, pois alimenta facilmente mesmo os auscultadores mais exigentes.
O Phantom pode fornecer 27 volts (sobre 600 ohms) em modo balanceado (14 V em single-ended ) e oferece saídas normais (230 V) ou Pro-Bias para os auscultadores eletrostáticos por meio da inserção de cartões correspondentes às especificações dos seus auscultadores, de acordo com esta tabela:
- 500V Sennheiser Orpheus HE-90, Monoprice Monolith Electrostatic
- 540V Sennheiser HE-60, King Sound KS-H2/3/4
- 580V Stax Pro Bias ESHP, Audeze cran, Nectar HiveX, Muamp, VOCE 15 / 41
- 600V Koss ESP/950 & DROP Koss ESP/95X, HIFIMAN Jade
- 620V HIFIMAN Shangri-La/La jr/Jade 2
- 640V Sennheiser HE 1, HIFIMAN Shangri-La/La jr/Jade 2, Phenomenon Libratum/Canorum
Esta é uma solução muito mais segura para os seus preciosos eletrostáticos do que um botão de controlo para alterar a tensão. Neste caso, vem escrita no cartão, com a marca dos auscultadores que a utilizam, sendo assim à prova de erro.
Comecei por ligar os meus Hifiman HE1000 planarmagnéticos com cabo balanceado e experimentei todos os brinquedos disponíveis até me fartar: XBass II, XSpace, e ainda os modos Gain, Tube e Tube+.
XSpace alarga horizontes
Apesar de poderoso, o Phantom sentiu-se ainda mais confortável a alimentar o Hifiman HE1000 com 9dB de ganho. Também experimentei 18dB, o que era claramente excessivo. Mas o HE1000 beneficia, sem dúvida, de um boost no baixo de 10dB aos 10Hz. O reforço aos 20Hz e 40Hz pareceu-me um exagero, especialmente o último, porque começa a fazer efeito logo abaixo dos 200Hz, e isso já é entrar no território da voz masculina.
Também gostei de brincar com o modo XSpace a 30, 60 e 90 graus. O som abre como se eu estivesse a ouvir colunas muito afastadas entre si. Embora não seja uma boa solução em todas as circunstâncias, os 90º a última fizeram magia com o vibrafone de Lars Erstrand em I'm Confessing, do álbum Jazz At the Pawnshop, aumentando incrivelmente a separação estéreo. Experimente com gravações de concertos ao vivo: melhora a atmosfera e alarga o palco sonoro.
A melhor analogia que me ocorre é a de uma lente zoom: quanto mais aberto é o ângulo, maior é também a profundidade de campo e mais pequena e menos sólida se torna a imagem central. Com colunas, o feito XSpace reproduz sons que se ouvem bem para fora dos limites das colunas.
Baunilha ou chocolate?
Os modos de estado sólido vs. válvulas e Tube ou Tube+ souberam-me todos a 'baunilha' no início, tal como no meu teste do iCAN Pro. Com o tempo, torna-se evidente que o modo estado-sólido soa mais neutro, vivo e dinâmico, mas nunca áspero; o modo "Tube" soa mais macio, sem aparente perda de transparência, com uma gama média mais recuada e agudos e graves mais redondos; o modo "Tube+" soa morno, com uma agradável sensação de presença humana nas vozes, e tem graves surpreendentemente cheios, apesar do volume descer um pouco (suba para compensar). No entanto, com o "Tube+" julguei ouvir a distorção harmónica a imiscuir-se no sinal devido à menor compensação por realimentação negativa, afetando o grau último de transparência.
Se o estado sólido é ‘baunilha’, o modo ‘Tube’ acrescenta um pouco de ‘chocolate quente’ e o ‘Tube+’ sabe a delicioso "creme brulée". Talvez por isso, quando ouço por puro prazer, o comutador permaneça normalmente no modo ‘Tube’, porque me afeiçoei ao som mais eufónico das válvulas. Sim, eu sei, que tem mais distorção, mas tudo o que é bom ou é pecado, ou faz mal à saúde, como o colesterol e a distorção de segunda harmónica.
Para o teste, no entanto, usei principalmente o modo de estado sólido porque soa mais neutro, e o meu gosto pessoal não deve nunca interferir no resultado da análise.
Se o estado sólido é ‘baunilha’, o modo ‘Tube’ acrescenta um pouco de ‘chocolate quente’ e o ‘Tube+’ sabe a delicioso "creme brulée".
O Fantasma da Ópera
Tentei ser o mais abrangente possível, tendo ouvido todos os tipos de auscultadores com destaque para os meus Hifiman HE1000 (isodinâmicos), Stax 9000 (electrostáticos), Sf Pryma (dinâmicos) e um par dos já descontinuados ML MiKros 70 (IEM). Também experimentei um par de Raal Requisite SR-1B para tirar as coisas a limpo: será que também consegue alimentar a carga punitiva de 0,2 ohm do Raal? Para estar mais seguro, contactei o suporte técnico da iFI Audio e recebi a seguinte resposta de Jon:
'Tem de utilizar os Raal com o adaptador TL1b porque, sem ele, os auscultadores desligam o iCAN Phantom'.
Era o que eu pensava, por isso utilizei o transformador de impedância e também os compensadores open-back (ler teste dos Raal aqui) e obtive excelentes resultados: dinâmicos e detalhados, mas suaves, com graves firmes e articulados.
Fiquei espantado com a eficácia do Phantom a alimentar os eletrostáticos SR-X9000.
Dos ribbons aos eletrostáticos
Apesar de ambos terem um design pouco ortodoxo, ou talvez por isso, o duo Phantom/Raal Requisite continua a ser a minha primeira escolha para proporcionar um som natural e sedutor. Ou era o que eu pensava, até que ouvi a soberba combinação Phantom/Stax SR-X9000, e o meu coração ficou dividido entre os dois. A gama média dos Stax é mais fina, menos encorpada que a do Raal, mas o grau de transparência é superlativo. E fiquei espantado com a eficácia do Phantom a alimentar os eletrostáticos SR-X9000.
Utilizei o cartão de polarização Stax 580V para selecionar a tensão correta e obtive os melhores resultados com 18dB de ganho e 16 ohms de impedância (soa mais alto). Com o XSpace ligado a 30º, gosto de ouvir com a terminação AC no modo Pro ou Full.
Aceite o desafio
É difícil determinar qual a tecnologia de transdutores que produz melhor som, uma vez que o Phantom proporciona um bom desempenho com todos os auscultadores que testei. Varre o chão com planar magnéticos alegadamente difíceis de alimentar; acalma os excessos de sensibilidade dos IEM; e dá aos eletrostáticos os nutrientes de que precisam com precisão e carinho.
Para me ajudar a analisar o pré-amplificador, tive a sorte de ter ainda comigo um par de colunas ativas Sonus faber Duetto. Com o modo XSpace ativado, fazem a combinação perfeita para ouvir gravações ao vivo. Diria que este é o melhor som que ouvi com as Duetto até à data.
Nota importante: A ligação de um par de auscultadores não desliga a saída para um amplificador externo ou altifalantes ativos.
O iFI ICAN Phantom é o canivete suíço de que tem andado à procura, até agora.
Conclusão
Se comprou o iFi iCAN Pro ou um dos outros produtos com vocação digital da iFi, como o iDSD Pro, já está bem equipado.
Mas, se aspira a ser crítico de áudio amador ou colecionador de auscultadores com diferentes tecnologias de transdução - dinâmicas, isodinâmicas e eletrostáticas ou de fita - e pretende extrair o máximo de qualidade de som possível de cada um deles, o iFI ICAN Phantom é o canivete suíço de que tem andado à procura, até agora.
O excelente pré-amplificador é apenas a cereja no topo do bolo. Se, tal como eu, quer ter o bolo e comê-lo também, encomende já um, porque o Phantom não tem concorrência à altura, e é o mais forte candidato ao prémio Hificlube de Amplificador de Auscultadores Analógico do Ano 2023.
Nota: Esta opinião baseia-se na minha análise auditiva e não dispensa a avaliação pessoal dos potenciais compradores, que se devem informar e marcar uma audição no distribuidor Smartaudio, para poderem decidir em consciência.
Official Quick Set-Up Guide video
Para mais informações: Smartaudio