Se houvesse um concurso de ‘Miss Subwoofer’, o KEF KC62 ganharia o prémio Miss Bum-Bum Jovem: pequeno, roliço, atrevido e divertido. E nem precisava de fazer um discurso a dizer que ia salvar o mundo: é barato (€1500), ocupa pouco espaço, preserva o ambiente musical, e dá às ‘idas’ ao cinema em casa a excitação que faltava – sem excitar os vizinhos…
Subs – um problema grave
‘Os subs só reproduzem baixas frequências, que são omnidirecionais, logo tornam difícil ‘localizar’ de ouvido a fonte do som.
Assim, em teoria, tanto podem ficar ali como acolá. Mas a tendência para fabricar colunas de som cada vez mais pequenas obriga a subir a frequência de corte para compensar, e a maior parte dos subs estão ainda ativos nos registos que correspondem à voz humana.
O nosso ouvido está por natureza ‘afinado’ para a voz e deteta facilmente de onde vem aquele bum-bum…’ JVH in Notícias Magazine 06 Abril 2003.
Este é um pequeno excerto de um artigo intitulado ‘Subs – um problema grave’, que publiquei há quase 20 anos no DN/Magazine.
Os leitores podem ler o texto integral, abrindo o pdf no final deste artigo ou clicando já no título. Escrito numa linguagem bem-humorada e acessível, está lá o essencial sobre o como e o porquê de instalar um subwoofer num sistema de som.
Nesse mesmo artigo, pode ler-se ainda: ‘na minha opinião, para aplicações estritamente musicais, os subs estragam mais do que resolvem’.
Mais recentemente, na análise às KEF LS50 Meta (clicar sobre o título para ler), de que este artigo é um Follow-Up, escrevi:
‘Sinceramente, não vejo (oiço) necessidade de lhe ligar um subwoofer para a maior parte das situações musicais – do rock à música sinfónica. Porque o ‘sub’ só iria afetar a articulação, que mesmo a baixo nível de pressão sonora (audição noturna) mantém o ritmo bem definido.’
…o KEF KC62 é o ‘carregador de piano’ ideal para as LS50 passivas e ativas...
Perante isto, Rui Calado (UAE) desafiou-me a ouvir o KEF KC62, um MiniSub concebido para funcionar como ‘carregador de piano’ das LS50 passivas e ativas. E obrigou-me a engolir um sapo. Agora, sempre que desligo o KC62, sinto que me falta ‘algo’: são as ‘fundações’ do sistema, que dão ao possuidor de umas LS50 a ilusão de ter afinal umas colunas de banda larga.
E não é só na extensão (e poder) do grave; é também na gravitas e autoridade que o KC62 confere às vozes e sons que habitam a gama média baixa…
Mantenho que a definição e articulação do grave não é a mesma. Mas, com alguma paciência e afinação, o aporte acústico do KC62 ao som geral do sistema justifica bem o custo de 1500€.
E não é só na extensão (e poder) do grave, pese embora a especificação otimista de resposta até aos 11Hz (!). É também na gravitas e autoridade que o KC62 confere às vozes masculinas, à maior presença das vozes femininas e a ‘tangibilidade’ de todos sons que habitam na gama média baixa de frequências.
KEF KC62, o segredo do UNI-Core
O KC62 é um cubo de alumínio, de arestas redondas, com 25 cm de lado e o peso substancial de 14Kg, apresentando-se nas cores branco e preto. Tal como sucede com as LS50 Meta e Wireless, é provável que venham a ser lançadas outras cores para casamentos cromáticos felizes.
Nota: Quando utilizado com as Wireless, o KEF KC62 pode ser equipado com um adaptador Wi-Fi (transmissor/recetor 5GHz KW1 ligado ao EXP- expansion port ). Não testado.
Lá dentro tem os circuitos digitais de processamento digital, além do sensor de refluxo eletromecânico (Smart distortion Control Technology), e um amplificador de 1000 watts (1) em Classe D que ataca um par de unidades opostas de 6,5 polegadas, com cone côncavo em alumínio e borda de suspensão ‘plissada’ (P Flex Origami) para suportar a enorme pressão que se forma dentro do invólucro.
A montagem lateral dos altifalantes segue o princípio de estabilidade mecânica (force cancelling) utilizado nas famosas Blade e favorece a omnidirecionalidade a 360º da resposta polar.
Mas para conseguir ‘encaixar’, é o termo, dois altifalantes numa caixa tão pequena, a KEF desenvolveu a tecnologia UNI-Core, que consiste na utilização de um íman central comum e bobinas de diâmetros diferentes para poderem deslizar uma por dentro da outra, com as aranhas a garantir que os mecanismos estão centrados. Vejam vídeo abaixo:
Torre de comando
O KC62 é muito fácil de montar e afinar. Pode ligá-lo à saída de linha do seu prévio com cabos de ligação (RCA) e regular a frequência de corte e o volume nos botões rotativos (Modo Manual); ou diretamente à saída ‘sub’ do seu prévio/Receiver (Modo LFE).
É ainda possível ligá-lo diretamente ao amplificador. Mas a ficha do tipo Molex é muito primitiva e só aceita cabos nus (e finos). Opte por cabos unifilares, sempre evita os curtos circuitos…
Se tem dúvidas quanto à frequência de corte (e volume) ideal, parta da posição de meio-dia (80Hz) e suba ou desça a gosto, enquanto ouve música variada com conteúdo de graves e vozes também (se entra muito nas vozes baixa a frequência, o volume ou ambos).
Com as LS50 Meta, é algures entre os 40/60Hz que está o busílis. O filtro tem uma pendente rápida de 24dB/oitava, pelo que o KC62 não ‘entra’ no território proibido da gama média se houver bom senso. O corte a 140Hz, por exemplo, parece-me excessivo com as LS50, mas pode ser útil para outras colunas de pequeno porte.
…No modo Apartment o KC62 não vai tão abaixo para poupar os vizinhos...
O KC62 oferece ainda um igualizador com modos pré-programados, de acordo com a localização na sala: Room (junto ao sistema em campo aberto), Wall (encostado a uma parede), Corner (no canto), Cabinet (numa estante ou armário) e Apartment (não deixa o KC62 ir tão abaixo para poupar os vizinhos…).
O comutador de fase só tem as posições 0º e 180º. Faça experiências. Dei comigo a ouvir a 180º a maior parte das vezes. Em inversão de fase, o grave é mais seco, sem perder extensão. Depende muito do disco, claro.
Quem liga um, liga dois
É possível montar 2 x KC62 ligados entre si em paralelo, com o comutador DIP em modo Bypass/Mono (1/1/1/1), ligando o primeiro apenas no canal esquerdo (LFE) à saída Sub Out do seu Receiver. Depois liga o canal esquerdo/LFE Line Output ao canal respetivo (LFE) na Line Input do segundo.
Em modo estéreo, liga a entrada/Line Input Left/LFE de ambos, respetivamente ao canal esquerdo e direito (Pre Out) do seu prévio/Receiver, e regula-os de igual forma.
Se pretender libertar as colunas/satélites do esforço de reproduzir graves, liga ambos os canais esq/dir do prévio ao KC62; e este ao amplificador que alimenta os satélites via Line Out esq/dir; depois regula a frequência de corte no comutador DIP/HPF, seguindo a tabela: 0/0/1/1 = 50Hz stereo, por exemplo.
Mas está tudo no manual, com desenhos e diagramas. E, se tiver dúvidas, pergunte a um dos especialistas da UAE.
É claro que um par de Meta ou Wireless II + 2 x KC62 faz disparar o preço para os 5 mil euros, onde a concorrência de colunas full range é forte. A escolha é sua.
Nota: no teste foi utilizado apenas um KC62 com as KEF LS50 Meta a funcionar em full range.
Música maestro!
Liguei um par de Metas a um amplificador Naim Uniti Atom e o KC62 à saída de pré. Acertei os parâmetros: Modo Room, Fase 180º, Manual 50Hz, Ground On, Volume a gosto, ou seja, apoiando as Meta, mas sem se sobrepor a elas.
Ena pá, as Meta parecem outras! Isto sem perderem a sua própria personalidade. Cuidado: se der a mão ao KC62, ele quer o pé! Mantenha-o com a bolinha baixa (não passe dos 80Hz): a vedeta é a Meta, ele é apenas o carregador de piano…
E fomos juntos dar uma volta pela Tidal:
At Last, Lou Rawls
O segredo é conseguir dar ênfase ao baixo e ao pedal da bateria, e baritonizar ainda mais a voz de Lou, sem tocar na voz de Dianne Reeves.
It’s Probably Me, Sting/Clapton
O jogo do baixo de Sting e o pedal da bateria dão propulsão a esta versão, e o KC62 dá-lhe ataque e tensão, e também presença à voz rouca de Sting, sem ofuscar a guitarra de Clapton. Mas é o saxofone que sai a ganhar com o KC62. Quem diria?
Jojo, Jacques Brel
A voz de Brel é ainda mais gravilhenta, soturna, emocional. Baixei um ponto no volume e um milímetro na frequência: de 50Hz para 49, talvez. A morte assim já não assusta tanto:
Six pieds sous terre, Jojo tu frères encore/Six pieds sous terre, tu n’est pas mort.
Cuidado, portanto:
Nous parlons en silence d’une jeunesse vieille/Nous savons tous les deux que le monde sommeille/Par manque d’imprudence.
A Hole in the Bucket, Harry Belafonte/Odetta
A famosa ambiência do Carnegie Hall é ainda mais audível com o KC62. E com ela o puro gozo do público ao ouvir esta canção/anedota circular sobre o balde que tinha um buraco. Impagável momento e também irrepetível, não fora a excelente gravação para a posteridade. O KC62 tapa o ‘buraco’ no balde das baixas frequências.
Bach Toccata and Fugue, Jean Guillou
Quer mesmo saber se o KC62 desce aos 11Hz? Talvez não. Mas aconchega as Meta com um abraço forte de 25/30Hz. Nada mal para o tamanho…
Speechless (Bright Red), Laurie Anderson
Compre o KC62 nem que seja para ouvir a percussão de Cyro Baptista e os efeitos especiais de Brian Eno. Dark and deep. E só toca na voz de Laurie com uma flor de graves perfumados…
E o ‘Dies Irae’, do Requiem de Mozart? A Cavalgada das Valquírias, de Wagner? A Marcha para o Suplício, da Fantástica, de Berlioz? O Coro da Bigorna, do Trovador, de Verdi? E que tal um filme: talvez King Kong - Skull Island...
Produto: KEF KC62 Mini Sub
Preço: 1500€
Distribuidor: Ultimate Audio