A Monitor Audio Silver 100 7G Limited Edition é a última monitora que testo este ano. Ora, como os últimos são os primeiros, vai assim receber o galardão de Bookshelf Speaker 2022 do Hificlube.net.
A Monitor Audio comemorou os 50 anos com a dupla apresentação no HighEnd 2022 do protótipo do modelo ‘Concept 50’ e uma Edição Limitada (999 unidades) das Silver 100 7G.
Pedro Henriques esteve presente na apresentação, em Munique, e os leitores podem (re)ler aqui a reportagem completa que inclui um vídeo do acontecimento.
As ‘Concept 50’ ainda não estão disponíveis (nem sei se algum dia vão estar), pois não são um produto comercial. Com as ‘Concept 50’, Michael Hedges, o diretor técnico da Monitor Audio, e Charles Minnet quiseram provar até onde era possível ir com a atual tecnologia ao dispor da marca. E a avaliar pela boa impressão auditiva que deixou em Pedro Henriques, a Monitor Audio foi muito longe no caminho da perfeição (ver vídeo).
…a Silver 100 7G Limited Edition é a versão ‘Verde-e-Ouro’ da versão comercial clássica…
As mais mundanas (e acessíveis) Silver 100 7G Limited Edition são a versão em ‘Verde-e-Ouro’ da clássica Silver 100. Vai ter de pagar mais cerca de 200 euros (€1300) pela alteração cosmética, que consiste na lacagem em verde-militar e na anodização dourada do cone do altifalante de médio-graves.
O tweeter de cúpula dourada é o mesmo em ambas as versões. A versão standard tem a unidade de médio-graves anodizada a prata e oferece uma gama mais ampla de acabamentos, incluindo nogueira natural, carvalho preto, carvalho natural, rosenut, preto alto brilho e branco acetinado.
Se optar pela versão normal, poupa 200 biscas (€ 1.115), e a qualidade de som é exatamente a mesma, em princípio, pois não as comparei lado a lado. Portanto, tudo o que ler aqui sobre a Limited Edition aplica-se também à Silver 100 7G clássica.
Mo Iqbal
Lembro-me bem do entusiasmo de Mo Iqbal, quando me mostrou em Londres os primeiros cones de alumínio com e sem banho cerâmico. Mo deixava cair ambos os cones sobre uma superfície dura e o primeiro tinha um som ‘abafado’, ao contrário do cone sem banho, que tinha um som de lata.
Ao eliminar o efeito de ‘ringing’, um dos maiores óbices à utilização de ligas de metal no fabrico de cones de altifalantes, foi finalmente possível aproveitar a sua leveza e rigidez estrutural.
Covinhas no rosto
O tweeter é um CCAM de 25mm e cúpula dourada e a unidade de médio-graves é um avantajado CCAM RST (Rigid Surface Technology) de 20 cm, de cone integral sem tapa-poeira, ambos ligados por um filtro de 3ª ordem com frequência de corte aos 2,8kHz. A impedância nominal declarada é de 8 Ohm e a sensibilidade de 87dB, fácil de alimentar, portanto.
Os atuais cones CCAM (Ceramic-Coated Aluminium/Magnesium) de 7.ªC geração têm ainda um padrão de ‘covinhas’ que aumenta a rigidez e facilita o fluxo do ar na superfície.
O tweeter tem um anel de compressão montado entre o enrolamento ventilado e o cone para melhorar a resposta das frequências acima de 10kHz com dispersão uniforme garantida por uma lente côncava (UD), estando todo o conjunto protegido por uma rede de metal de padrão hexagonal.
Desde que a série Platinum II foi lançada, todos os altifalantes de médios e graves têm o engenhoso "Dynamic Coupling Filter": um anel de nylon perfurado que se mantém rígido até à frequência de corte; e atua depois como uma mola a partir daí. Isto amortece ainda mais o excesso de energia espúria de alta-frequência gerada pelo altifalante.
A Silver 100 é uma monitora de 2-vias, relativamente larga (375x230x300 mm) e com quase 10 quilos de peso. O ‘design’ é do tipo ‘caixote’, de linhas direitas e arestas afiadas, com acabamentos impecáveis, como é apanágio da MA.
Surpreendentemente, as caixas não são escoradas internamente e podem soar vagamente ocas quando se bate nos painéis de madeira com os dedos. Contudo, durante a reprodução de música, não vai ouvir ressonâncias indesejadas, mesmo a níveis de volume elevados, porque as paredes interiores são forradas com espuma; e dois parafusos longos ligam o painel posterior à cesta dos altifalantes para limitar as vibrações. Nota: verifique se estão bem apertados e não ficaram soltos durante o transporte.
Atrás, a Silver apresenta um pórtico reflex cilíndrico com estrias verticais para facilitar o fluxo de ar; e dois pares de bornes dourados montados numa placa também dourada para bi-cablagem e/ou bi-amplificação (retire os shunts primeiro).
LE. É muito Ouro para quem se chama Silver…
Palminho de cara
As Silver 100 vêm acompanhadas pelas respetivas grelhas. Mas com este palminho de caras, montar as grelhas (suporte magnético) seria como vestir uma burka a uma jovem bonita. Além disso, as grelhas afetam o som. Dispense-as.
…colocar as grelhas seria como vestir uma burka a uma jovem bonita…
Trazem ainda dois pequenos rolos de espuma para obstruir parcialmente o fluxo de ar na boca do pórtico e domar assim o eventual excesso de graves, quando as colunas são colocadas muito perto da parede, ou estão a tocar muito alto.
As Silver 100 devem ser colocadas sobre suportes e afastadas das paredes para evitar que os graves contaminem os registos médios-graves, conferindo mais peito às vozes do que seria desejável.
A verdade é que obtive resultados surpreendentes, quando as utilizei como ‘desktop monitor’, pois integram bem mesmo ouvidas no campo próximo. E nem precisei de ‘obstruir’ os pórticos com os ‘chouriços’ de espuma. Também é verdade que não tentei explorar os 106dB de pressão sonora máxima possível.
No entanto, não espere que desçam muito fundo (medi -6dB aos 45Hz relativo aos 200Hz e não aos -35Hz). Ainda assim o grave tem muito músculo, além de boa articulação (não é um baixo de uma-nota-só).
Excelente relação qualidade/preço
O ângulo de dispersão da enorme unidade de médio-graves de 20 cm de diâmetro baixa à medida que a frequência sobe. A resposta polar é assim afetada, pelo que o som pode perder alguma integração fora-do-eixo (off-axis). Para ouvir no campo próximo, aconselho a apontá-las na sua direção (toe-in).
O tweeter está montado no mesmo painel frontal (baffle), que tem de ser muito largo para acomodar a outra unidade de 20 cm; por isso, é inevitável algum efeito de difração. Isto pode originar uma sensação de menor focagem (som mais difuso), que pode afetar a especificidade da imagem (foco) e a ilusão de profundidade. Mas o resultado é excecional para uma coluna deste tamanho e preço, o que só atesta a qualidade do crossover e da afinação (voicing).
Medi uma ligeira ‘depressão’ à volta da frequência de corte, que deve ser propositada, pois reduz alguma frontalidade (efeito de projeção) sem, contudo, afetar a sensação de presença. Dá-lhes até um notável equilíbrio e requinte tonal.
Não são tão sensíveis como a MA apregoa e devem ser tratadas como colunas com impedância nominal de 4 Ohm. Por isso, quanto mais potente for o amplificador, melhores serão os resultados.
No meu caso, ataquei-as com um Rose RS520 de 250W em Classe AD, ligadas por cabos Inakustik baratos, e elas gostaram e pediram mais. E eu também.
…as vozes soam inteligíveis e humanas, nunca analíticas…
Let’s roll
O som é carnudo, mas refinado, claro e bastante transparente; as vozes soam inteligíveis e humanas, nunca analíticas, e com um agradável toque de calor tonal, que é ainda mais surpreendente numa coluna que utiliza cones de alumínio; são também rápidas e dinâmicas, sem nunca soarem bruscas; são ainda coesas e estáveis, com uma imagem verosímil e ampla; e tocam alto sem nunca endurecer, mesmo a níveis elevados.
Abri com Let’s Roll, de George Duke e as Silver agarraram desde o início o ritmo impressionante do jogo entre o baterista e o baixista, o substrato sobre o qual o órgão Hammond desenvolve a melodia. Fui subindo o volume até sentir o pedal da bateria na boca do estômago. Temos coluna, pensei.
A inteligência artificial da Tidal levou-me depois por maus caminhos e acabei a ouvir TikTok Freak, por Akon, algo que eu nunca escolheria voluntariamente, ainda que a batida da linha de baixo sintetizado fosse impressionante; a que se seguiu Miami, por Wisin&Yandel, com Jennifer Lopez, que transformou o meu escritório numa discoteca de Ibiza à pinha.
Foi quando a Tidal resolveu chamar ao palco os Mettalica e o vocalista entrou aos gritos com Lux Aeterna, que a minha mulher gritou também do andar de baixo: o que é que se passa contigo hoje? E não é que eu até estava a gostar!...
I’m confessing that I love the Silver
Por precaução, resolvi pôr água na fervura com ‘I’m Confessing that I Love You’ pela voz romântica de Dean Martin, que eu utilizo sempre para avaliar o ‘peito’ natural da voz masculina; a que se seguiu do álbum Turn Up the Quiet a voz sensual de Diana Krall em L.O.V.E. do saudoso Nat King Cole, com acompanhamento de vassouras varrendo a pele da bateria, contrabaixo e piano bem temperado.
Do vasto repertório clássico que se seguiu, selecionei o Concerto para Violino nr.1 de Haydn, pela Münchener Kammerorchester. O timbre único do Stradivarius ‘Sleeping Beauty’ de Isabelle Faust foi reproduzido com a perfeição antes só possível por colunas muito mais caras.
Também toda a ambiência intimista da Sala de Concertos Schloss Elmau, onde o disco foi gravado, com o seu teto de vigas de madeira, foi tele transportada magicamente da Baviera, na fronteira austríaca, para a minha sala de audição. Bravo, Monitor Audio!
Bookshelf Speaker 2022
Por vezes, tive até a sensação de estar a ouvir as Magico A1, que custam dez vezes mais, sobretudo quando puxei por elas, com os pórticos tapados para imitar uma coluna de caixa fechada.
Pelo que fica exposto, é óbvio que as Monitor Audio Silver 100 7G Limited Edition me deixaram rendido aos seus encantos. Por este preço (€1300), não conheço nada que se lhes compare, daí que vão ser galardoadas já hoje com o Bookshelf Speaker 2022 Award.
E mais não digo. Agora vá ouvi-las à Delaudio, e depois mande uma carta ao Pai Natal.