Eis um dos poucos casos em que a sequela é melhor que o original.
Em Julho de 2008, publiquei no Hificlube uma extensa narrativa audiófila sobre a visita da velha senhora aristocrata ao meu humilde tugúrio, que podem ler na integra nos Artigos Relacionados. Podia ficar já por aqui, porque pouco mais há a acrescentar ao muito que então escrevi, sob pena de me repetir, tanto no plano objectivo como no subjectivo. Portanto, não vou voltar a descrever a tecnologia de transdução electrostática que faz parte do seu código genético.
A nobre herança de Peter Walker foi parar a mãos chinesas, que têm, honra lhes seja feita, tomado bem conta de tão rico património audiófilo. Pelo menos na tentativa bem conseguida até agora de tornar melhor o que já era (quase) perfeito, com pequenas alterações na estrutura da moldura, tornando-a mais rígida e sólida e, admito, menos artesanal no aspecto.
Quanto à receita tecnológica original, tiveram o bom senso de alterar o menos possível. Aliás, a ideia de acrescentar dois painéis para reforçar os graves foi originalmente proposta por Stan Curtis, o pai da Cambridge, e o primeiro proponente da sobreamostragem radical na reprodução de CD (lembram-se do CD1?), na sua breve passagem pela Quad, já numa fase de alguma decadência económica.
Se já teve a curiosidade de ir ler a minha análise das 2905, sabe que o segredo da linearidade das Quad ESL reside no engenhoso sistema de anéis concêntricos e o respectivo circuito “temporizador”, criado por Peter Walker, que, para simplificar, envia o sinal primeiro para o centro, e daí para a periferia, de forma a produzir uma frente de onda esférica com origem num ponto virtual, situado 30 a 40 cm atrás do painel, irradiando como a ondulação provocada por um seixo lançado para as águas calmas de um lago.
Como são dipolos, irradiam som para a frente e também para trás, num padrão polar em forma de oito (o número da sorte dos chineses...), com a vantagem da emissão lateral ser quase nula. Deste modo, devem ser colocadas a um mínimo de 1 metro da parede de fundo, mas são pouco sensíveis à proximidade das paredes laterais, uma vantagem quando a sala é estreita.
Até aqui tudo bem. Nada mudou. A nova versão ESL 2912 (o 12 refere-se ao ano de lançamento) não é muito diferente da anterior 2905. Houve melhorias ao nível dos componentes utilizados (resistências Vishay e condensadores Murata, por exemplo), do isolamento dos separadores que protegem o diafragama do contacto com a grelha e evitam o efeito de “arcing” (que produz ionização); reforçou-se ainda mais a estrutura e a burka é agora, digamos, mais “transparente” acusticamente.
Há quem entenda que as Quad só tocam bem em salas grandes, colocadas a grande distância uma da outra e apontadas directamente para o ponto de escuta. Nada de mais errado. O meu auditório é pequeno e estreito, pelo que tive de as colocar próximas uma da outra e com um ligeiro toe-in.
Não me parece que se tenha perdido nada no processo, em termos de imagem e qualidade de som. Até porque elas só não desaparecem, porque é impossível abstrairmo-nos daqueles monolitos pretos especados ali mesmo à nossa frente.
Mas basta fechar os olhos para sermos transportados para um espaço que é a réplica exacta do espaço real ou virtual (recriado em estúdio) do registo original.
As imagens são de um realismo impressionante e a ausência de distorção leva-nos a ter a tentação gostosa de subir o som.
Daí que as 2912 tenham actuado muito bem, sobretudo a níveis baixos de late night listening para não esforçar o delicioso amplificador a válvulas Unison Research Simply Italy de apenas 12W (ver Artigo Relacionado), mas já tenham exigido o poder dos 300W de Classe D do surpreendente Wadia Intuition 01 (ver Artigo Relacionado), quando as condenei a trabalhos forçados, que elas cumpriram sempre com um sorriso nos lábios e sem um queixume.
Foi, aliás, esta a melhor supresa que podia ter tido. Os poucos “defeitos” que apontei aqui e ali às 2905: uma ligeira vibração mecânica, um fru-fru eléctrico, o facto de o sistema de protecção ter actuado quando estava a ouvir Van Morrison a níveis moderados, desligando durante alguns segundos uma das colunas, tudo isso foi corrigido.
O som é amplo, majestoso mesmo na sua volumetria, o grave tem inusitado ataque e controlo e, sobretudo, uma definição e resolução que falta à maior parte dos altifalantes convencionais, embora não se possa exigir a mesma capacidade de movimentar ar só possível com um “alguidar” de 15 polegadas; e as vozes e pianos (a verdadeira prova dos nove) continuam a soar tão naturais que assustam.
As Quad ESL 2912 tocam todos os géneros musicais, incluindo rock, pop, jazz e grandes orquestras, a níveis de pressão sonora credíveis e realistas, dentro dos limites do bom senso, tudo características que faltam aos nossos políticos. Quanto aos solistas são todos virtuosi, qualquer que seja o instrumento.
É certo que as Quad ESL 2912 foram muito favorecidas, em relação às 2905, pelo facto de eu dispor agora de ficheiros áudio de muito alta resolução (DSD e DXD até 352,8kHz!), e ter tido a oportunidade de os reproduzir integralmente com o Wadia Intuition 01 (ver videos do teste do Intuition 01).
Eis uma tecnologia do “passado” (a transdução electrostática foi utilizada com sucesso em 1954) que consegue aproveitar ao máximo o progresso do novo mundo maravilhoso do áudio, que Peter Walker não podia imaginar sequer quando as concebeu.
Tivesse eu o espaço, a disponibilidade e a estabilidade (todos os meses me entram “coisas” novas pela casa dentro) para as poder adoptar como uma das minhas referências, e as Quad ESL 2912 já não saíam daqui.
Até porque embalá-las naqueles caixotes de papelão desengonçados é uma verdadeira chatice. E vê-las partir, uma dor de alma...
Nota: as Quad 2912 vêm acompanhadas pelo livro de Ken Kessler sobre a história deste ícone da indústria britânica: the closest aproach. Ken já publicou livros sobre a McIntosh, Kef (ver Artigo Relacionado) e Quad e prepara a edição da história da Wilson Audio.
Quad ESL 2912
Preço: 9 600 euros
Distribuidor: Esotérico