Há momentos assim. Vejo-me colocado perante uma tarefa que tenho dificuldade em iniciar. Como abordar este novo ‘streaming amplifier’ da Roksan?
A solução mais simples seria a vulgar ‘análise horoscópica’, cheia de lugares comuns sobre o desempenho acústico, depois de uma descrição mais ou menos detalhada sobre as especificações e as funcionalidades com base no catálogo; e uma ou outra curiosidade sobre como obter o melhor resultado, seguidas por uma lista de discos mais ou menos consensuais, ou raros, e uma conclusão bem intencionada.
Mas isso já eu fiz, quando publiquei o teste do Roksan Atessa, que peço para voltarem a ler, pois é uma boa introdução para o Caspian G4. Digamos que é um ‘manual’ imprescindível para obter o máximo de certas funções digitais, pois a lógica de funcionamento é a mesma. É como tirar a carta com um carro barato para depois conduzir um carro desportivo.
Nota: Não por acaso, o Atessa ganhou o ‘Streaming Amplifier’ EISA Award 2022-23.
Isto não é um teste
Delfin Yanez enviou-me amavelmente o Caspian G4 com uma condição: não é para testar, é para ouvir. Prometi cumprir. Portanto, isto não é um teste; é, quanto muito, uma carta de recomendação.
Até que comecei a ouvi-lo, e não resisti a partilhar convosco ao menos a minha experiência e algumas das minhas descobertas, sem as habituais veleidades críticas.
A ‘Mensagem’, de Delfin Yanez
Tal como Pessoa, Delfin tem uma 'Mensagem'. Para ele, o som é apenas um veículo para a mensagem musical que o intérprete nos quer transmitir. E essa mensagem tem de passar incólume, independentemente do equilíbrio entre graves, médios e agudos, que não passam de figuras de estilo que vertemos no papel com um aparo mais fino ou mais grosso, na tentativa inglória de abarcar a tridimensionalidade da realidade na bidimensionalidade da escrita.
Quem, ao ler um livro, não pensou já: está bem encadernado, muito bem escrito, mas não me diz nada. Um amplificador é como um livro: tem de transmitir a mensagem, ou não serve para nada, mesmo que seja escrito a letras de ouro.
Música é tempo
Para isso, mais do que a tonalidade, que é uma questão de gosto pessoal, a textura, a dinâmica, tem de preservar o equilíbrio temporal da mensagem, aquilo a que, em termos técnicos, nos referimos como ‘linearidade’. A narrativa tem de ter um fio condutor.
Quando assim é, tudo começa a fazer sentido, e a mensagem passa. A das vozes e a dos instrumentos. A dos intérpretes e a dos engenheiros de som. A dos autores das canções e das sinfonias. A dos géneros musicais: rock, jazz, blues, pop, rock, clássica. A dos discos e dos formatos digitais. A das colunas e, sim, até a dos cabos! O Caspian G4 é apenas o mensageiro.
O Atessa é um Toyota; o Caspian G4 é um Lexus
Eu tinha gostado (muito) do Atessa, mas não senti por ele a mesma empatia que me liga ao Caspian G4. O que os distingue?
No fundo, o Caspian G4 está para o Atessa como a Lexus está para a Toyota. Digamos que é a versão de luxo do mesmo modelo, com algumas diferenças importantes: construção mais robusta e cuidada (made in UK), mais potência e ligações balanceadas. E a ausência, que lamento, de uma saída para auscultadores. É também mais caro, claro.
‘Euphoria’ e ‘Rapture’
Estas são as designações mais ou menos poéticas criadas pelos departamentos de marketing da Roksan para as tecnologias de amplificação e conversão digital utilizadas pelos Caspian 4G que, juntas, contribuem para a superior qualidade do som.
Euphoria é uma arquitetura de amplificação composta por:
Estágios duplos de amplificação – pares complementares push-pull, que cancelam a distorção e melhoram a linearidade em toda a banda áudio;
Classe A/B – equilíbrio otimizado entre potência e qualidade de som;
Corrente elevada de saída – o amplificador é projetado para disponibilizar corrente elevada sobre qualquer impedância, facilitando a correta alimentação das colunas de som;
Baixa realimentação negativa – preserva o caráter natural do som e a sua natureza orgânica.
Rapture é uma tecnologia de conversão digital/analógica baseada na topologia ‘current-conveyor’, que se pode traduzir livremente por ‘transmissor-de-corrente’.
É uma tecnologia complexa, que já inspirou teses de doutoramento, mas que se pode resumir em poucas palavras: não utiliza ‘chips’ ou Op-amps, apenas um amplificador composto por componentes discretos.
Nos DACS ‘current-conveyor’, o sinal digital na entrada X é representado por um fluxo de bits, no qual cada bit controla a corrente respetiva do código binário; e não a tensão, como nos DACs convencionais. A réplica do sinal é apresentada no terminal de saída Y. A tensão de referência essencial para o processamento do sinal é fornecida pelo terminal independente Z.
A soma das diferentes correntes é o sinal analógico que corresponde exatamente ao sinal digital e pode alimentar diretamente uma carga para ser convertido em tensão por um amplificador de transimpedância, por exemplo.
Para nós, leigos, o que interessa é o resultado: um som analógico que não sofre dos problemas associados à conversão digital.
Se pretende perceber por que motivo Delfin Yanez considera que o novo amplificador da Roksan respeita os músicos, vá ouvir o Roksan Caspian 4G na Delaudio. Eu já percebi.
Nota: Os leitores que gostam de ir ao fundo da questão podem ler: "Current Controlled Current Conveyors and Their Applications" by Sinem Öztayfun, disponível na Google. Eu prefiro ir ouvir música com o Caspian G4.
Especificações:
- BluOS
- HDMI/ARC
- MQA
- Bluetooth aptX AirPlay 2
- Andar de Phono de Magneto Móvel
- Amplificação Dual Mono Euphoria 2 X105W a 8 ohm / 200W a 4 ohm
- Tecnologia DAC Rapture
- Saídas RCA, XLR e Subwoofer Aplicação MaestroUnite para Configuração e Controlo.
- Dimensões (unid.) Larg. (cm) 43, Alt. (cm) 9,3 , Prof. (cm) 37,8
- Peso (kg) 15,
- Acabamentos: PRETO/SILVER
- Preço: €4.490
Distribuidor: DELAUDIO