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Reviews Testes

Sonus faber Concertino G4 — Alma Portuguesa em Corpo Italiano

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Em setembro de 1995, estive no HiFi Show TOP-Milão, onde Franco Serblin, ele próprio, apresentou as colunas monitoras de suporte Concertino, sob a égide da obra com o mesmo nome, da autoria do pintor Antonio Bueno: duas figuras angelicais tocando instrumentos antigos.

Em março de 1996, publiquei no DN um artigo sobre as Concertino, sob o título ‘O Querubim Italiano’, no qual descrevia as novas colunas assim:

As Concertino são belas e elegantes, como só os anjos podem ser, mas têm voz grossa, o que nos deixa perante a eterna questão sobre o sexo dos anjos. E, afinal, o que é a crítica áudio senão uma discussão sobre o sexo dos anjos?

Franco Serblin apresentou pessoalmente as Concertino no TOP Milan (1995)

Franco Serblin apresentou pessoalmente as Concertino no TOP Milan (1995)

Tenho um par de Sonus faber Concertino originais, assinadas por Franco Serblin. Assim, quando soube que ia ser lançado um modelo G4 comemorativo dos 30 anos das Concertino, solicitei ao Manuel Dias a honra de o poder testar.

Por se tratar de um modelo de produção limitada a 300 exemplares numerados, cuja primeira fornada de 100 exemplares esgotou-se de imediato, foi preciso esperar um ano até ter a oportunidade de as comparar lado a lado, para concluir aquilo que já adivinhava: só partilham o nome.

À esq. as novas Concertino G4; à dir. as Concertino originais de 1995.

À esq. as novas Concertino G4; à dir. as Concertino originais de 1995.

Quase 30 anos depois, as Concertino G4 continuam a ter a beleza dos anjos, mas são agora do sexo feminino: a voz é mais limpa, transparente, clara e informativa; os agudos são mais presentes; e os graves são mais articulados e definidos.

Também perderam aquele sortilégio de produto artesanal, que sempre definiu a obra de Franco Serblin. Livio Cucuzza elevou o artesanato antigo ao estatuto moderno de arte sustentável. Talvez por isso, custem agora 4.700 euros, quando custavam, em 1995, 150 contos (cerca de 750 euros)! E o timbre que as caracterizava também mudou, como quando se compara um violino antigo e um violino moderno.

De facto, as novas Concertino não são somente mais uma atualização de 4.ª geração; são uma declaração de amor à natureza, patente na escolha dos materiais e na naturalidade do som.

Em Arcugnano, os inquilinos são agora outros (e o novo senhorio é a Bose, que comprou o grupo McIntosh), mas as caixas das Sonus faber ainda são construídas como as caixas dos violinos antigos, com uma engenhosa adição: um núcleo interno moldado por injeção de desperdício de cortiça portuguesa.

Sim, é provavelmente o desperdício que sobrou dos milhões de rolhas de garrafas de Vinho do Porto, um produto que melhora com o tempo, como tudo o que tem qualidade, tal como as Concertino.

Miolo interior em cortiça portuguesa das Sonus faber Concertino G4

Miolo interior em cortiça portuguesa das Sonus faber Concertino G4

Ao construir a caixa interior a partir de um bloco de cortiça, moldado por injeção numa fábrica portuguesa, a Sonus faber criou uma estrutura de peça única, a qual é mais leve e rígida que MDF. A cortiça atua como uma ‘esponja’ acústica, absorvendo as ondas estacionárias internas, dispensando o tradicional ‘enchimento’ com espuma que degrada a qualidade do som.

Pele vegan

Por outro lado, a já familiar silhueta de trapézio assimétrico com 314 × 214 × 297 mm e 6,6 kg de peso (cada) mantém nos flancos os painéis, agora mais finos e facetados, em madeira de nogueira natural, para reforçar a rigidez lateral, dispensando assim o travamento interno.

O núcleo de cortiça é depois delicadamente envolto em couro vegetal, fabricado a partir de laranjas e cactos, desenvolvido pela start-up italiana Ohoskin. Trata-se de uma pele macia e ecológica, com o mesmo toque e visual do couro tradicional das Concertino originais, mas agora em versão vegan.

Uma placa de identificação em latão, com o número de série de 1 a 300; os anéis de alumínio para fixação dos altifalantes; a boca do pórtico reflex fabricada também em madeira de nogueira. E, claro, os bornes dourados duplos (bi-amping) de excelente qualidade, que completam o concerto visual das Concertino G4.

Minimalismo naturalista

O painel frontal (baffle), também forrado a couro vegetal, apresenta-se decorado com um tweeter D.A.D, Damped Apex Dome, de cúpula de seda de 25 mm e faseador em forma de bala; e um médio-grave de longo curso com cone de 130 mm em pasta de papel e cesta orgânica.

O filtro divisor é minimalista, com frequência de corte aos 1,7 kHz, e mantém a coerência de fase de ambos os transdutores, complementados pelo tubo laminado de papel e madeira do pórtico reflex, substituindo o tradicional plástico.

A baixa sensibilidade de 85 dB e a impedância, que pode descer abaixo dos 4 ohms, sugerem utilizar um amplificador com algum vigor musical, embora as Concertino G4 tenham tocado bem, mesmo com um brinquedo de Classe D, como o Eversolo Play.

As Sonus faber Concertino G4 tocaram bem com válvulas , estado sólido e até com Classe D. Na foto o Eversolo Play, de Classe D.

As Sonus faber Concertino G4 tocaram bem com válvulas , estado sólido e até com Classe D. Na foto o Eversolo Play, de Classe D.

Válvulas e estado sólido

De uma maneira geral, as Concertino tocaram bem com todos os amplificadores com os quais as acasalei: HiFi Rose RS520, Eversolo Play, Bluesound Node Icon/Lab 12 Mighty, Marantz 60n, Rotel A8 e Musical Fidelity B1xi.

Alimente-as com um amplificador mais poderoso e elas deixam-se ir sem queixumes até níveis de festa. Mas, se exagerar, pode instalar-se alguma dureza mesmo a pedir o auxílio de um subwoofer: as leis da física não perdoam!

Música Maestro!

O meu pequeno estúdio encheu-se de música, enquanto as notas do piano de Emanuel Ax floresciam sobre uma camada de substrato vegetal do violoncelo de Yo-Yo Ma, iluminadas pelo violino de Leonidas Kavakos, interpretando o Trio para Piano no.7 ‘Archduke’, de Beethoven.

Abaixo dos 60Hz, as leis da física impõem-se e ao violoncelo parecia faltar um pouco de corpo, mas não à custa da definição das linhas de baixo. A pasta de papel do cone de médio-graves, a nogueira dos painéis laterais e o contributo do pórtico reflex em papel laminado conferem ‘organicidade’ e ‘elasticidade’ ao som de tonalidades quentes, enquanto o timbre dos instrumentos mantém a verosimilhança, mesmo a níveis de audição noturna e civilizada.

Os quartetos de cordas de Mozart dedicados a Haydn, pelo quarteto Casals (dois violinos, viola e violoncelo), revelaram a subtileza cromática e o dom das Concertino para a verdade harmónica. Cada instrumento ocupa o seu próprio espaço, enquanto os arcos desenham emoções, com travo de resina, e a madeira dá aos sons as ressonâncias próprias da natureza.

O trio de Bill Evans está agora a tocar Waltz for Debby, no Village Vanguard, de Nova Iorque, em 1961, e eu pergunto-me:

Como é possível que colunas tão pequenas possam reproduzir de forma tão realista o piano de Evans, o contrabaixo de LaFaro (faleceu pouco depois desta gravação), ou os pratos e a técnica de vassouras de Paul Motian? Até nos fazem esquecer que não são de banda larga, ao permitir-nos concentrar na intensidade romântica e rítmica do corpus musical.

Em Private Investigations, pelos Dire Straits, a voz murmurada de Mark Knopfler surge iluminada no centro de um palco negro de breu. Uma guitarra dedilhada com subtil mestria anuncia a bonança que precede a tempestade de sintetizadores, de teclas e percussão eletrónica pulsante. Por fim, a guitarra elétrica impõe a sua presença com o trovejar de riffs breves e cortantes.

Não é o mesmo que ouvir isto num sistema de banda larga, admito. Mas os ingredientes estão lá todos e, dentro da sua largura de banda limitada, as Concertino oferecem impacto e ritmo suficientes para uma sala de estar de média dimensão.

Os suportes em metal e madeira são muito altos (   ), e pesados, e não permitem ajustes em altura. Preço: 1.400 €.

Os suportes em metal e madeira são muito altos ( ), e pesados, e não permitem ajustes em altura. Preço: 1.400 €.

Coloque-as num pedestal

Ao contrário dos suportes das Concertino originais, os pesados suportes das G4, também em metal e madeira, não permitem ajustes em altura; e são, talvez, demasiado altos. A ideia é colocar o tweeter à altura dos ouvidos de uma pessoa sentada, mas isso depende muito do tipo de cadeira ou sofá.

As Concertino G4 são uma pequena obra-prima, um instrumento musical italiano com alma portuguesa

No meu caso, utilizei uma cadeira de escritório com elevador hidráulico, que permitiu o ajuste em altura.  Notei mais diferenças com um ligeiro toe-in do que com bi-cablagem. E os melhores resultados tonais foram obtidos com amplificação a válvulas. Por outro lado, as Concertino G4 só revelaram a sua faceta dinâmica total, com o apoio de amplificação de estado sólido.

Finale con brio

As Sonus Faber Concertino 4G são a prova de que a sustentabilidade também pode servir à arte sem a comprometer. O núcleo de cortiça portuguesa é mais do que um selo ecológico — é arte e engenho acústico que conferem a estas ‘sopranos’  italianas uma pureza de timbre surpreendente, eliminando à nascença as ondas estacionárias internas e deixando Cecilia Bartoli respirar. Junte isso à nogueira, ao couro vegan e à tradição da geometria assimétrica da caixa e terá umas colunas que cantam com calor mediterrâneo e a precisão de uma monitora de estúdio nórdica.

Para salas de tamanho médio e para ouvintes que valorizam o tom, a textura e a ligação emocional acima dos decibéis, as Concertino G4 são uma pequena obra-prima, um instrumento musical italiano com alma portuguesa: elegante, natural e cativante, talvez porque soam tão profundamente humanas.

Para mais informações, contacte: IMACUSTICA

Concertino cover

Franco Serblin apresentou pessoalmente as Concertino no TOP Milan (1995)

À esq. as novas Concertino G4; à dir. as Concertino originais de 1995.

Miolo interior em cortiça portuguesa das Sonus faber Concertino G4

As Sonus faber Concertino G4 tocaram bem com válvulas , estado sólido e até com Classe D. Na foto o Eversolo Play, de Classe D.

Os suportes em metal e madeira são muito altos ( ), e pesados, e não permitem ajustes em altura. Preço: 1.400 €.


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