Depois de uma primeira experiência com a série One de auscultadores, a Focal arrasa com os Elear e – diz-se – os Utopia ainda são melhores…
Caramba, Focal, também não era preciso exagerar! Assim, até me sinto mal por ter dito coisas bonitas sobre os Focal Spirit One que, por metade do preço, têm, pronto, confesso, um décimo da qualidade.
E não me refiro apenas à construção, design, conforto e tal, pois os Elear não pretendem concorrer na categoria de acessório de moda.
São auscultadores audiófilos, tout court!
Se não querem perder muito tempo a ler, informo já que não há no mercado, por este preço (apesar de tudo elevado: uma milena!) nenhum auscultador dinâmico-aberto que chegue sequer perto.
Está bem, já sei, os Sennheiser HD800 S têm um ‘palco’ imbatível. Mas o palco dos 800 é de uma ‘grandeza artificial’. A claridade é boa, a transparência também, mas não têm a mesma presença, dinâmica, ataque e, sobretudo, este equilíbrio tonal e entrosamento de gamas. Não sei se me esqueci de alguma coisa…
Então e os planar-magnéticos, como os Audeze e os Hifiman? Bom, aí estamos num patamar diferente, e não se podem comparar alhos com bugalhos.
Nos Audeze, o grave é mais expansivo, os médios cremosos; e nos Hifiman o som é mais etéreo e delicado com extrema naturalidade, como se a reprodução fosse orgânica e não mecânica. Ambos ‘estabelecem’ uma distância de segurança (de respeito?) entre o ouvinte e o acontecimento, que é muito agradável e repousante de ouvir.
Os Elear são mais presentes, e também mais francos e claros. Está tudo ali, ainda que sem ênfase excessivo ou perda de noção de profundidade. As vozes – sobretudo os diálogos dos filmes – são reproduzidas com um presença que assusta e total inteligibilidade. É outra forma de ouvir. Agora escolha. É algo que vai depender mais da sua carteira que dos seus ouvidos, pois o desejo de posse em ambos os casos é imediato.
E o grave dos Elear? Tem poder, ataque, ritmo e notável extensão. Eu diria que o equilíbrio tonal, na tal ‘passagem’ de testemunho entre gamas, é perfeito, ou não utilizasse um único altifalante de banda larga.
Mas, tal como acontece com os Hifiman HE1000, um ‘cheirinho’ de grave dá-lhes ainda mais ‘substância’ e ‘sustância’ sem afectar a gama média. O grave dos planares é menos tenso, mais intenso e igualmente extenso.
Felizmente, o McIntosh MHA100 e o iFI iCAN Pro, que utilizei neste teste, permitem ‘igualizar’ o grave ao gosto do ouvinte sem recurso a DSP, ou seja, por meios analógicos. Nota: podem abrir os respectivos pdf para ler os testes de ambos que publiquei na revista britânica HIFI Critic.
No caso do MHA100, a frequência é fixa e o nível variável; com o iCAN Pro é possível optar por centrar a frequência nos 10, 20 ou 40Hz e o nível é fixo (12dB). Pode parecer muito, mas a distorção do grave dos Elear é tão baixa, que se aguentam bem sem nunca ‘dar de si’. E nada parece afectar a transparência da gama-média.
Consta que os Focal Utopia, o topo de gama, cujo preço ronda os 4000 euros, são ainda melhores, como é natural, atendendo ao preço. Estou empolgado só de pensar o que isso possa significar, depois de experimentar os ‘modestos ‘ Elear, que já são um dos cinco grandes auscultadores da minha short list.
Os outros são todos mais caros: Audeze LCD-3 e LCD-X; Hifiman HE1000 e Edition X; e Stax 009.
Sim, já ouvi os Abyss e não me convenceram. Do mesmo modo que fiquei algo desiludido com os electrostáticos Hifiman Shangri-La e os novos Sennheiser Orpheus, a 50 000 o par! Admito que foi em feiras ou shows e, portanto, não é – nem será nunca - a minha última palavra. Isto só para deixar claro que não é o preço que me convence – é a performance. Faltam os Utopia, que, diz-se, fazem jus ao nome, pois, até hoje, era utópico obter esta qualidade de som de um auscultador dinâmico.
Mas os Elear não têm defeitos? Eu acho que – pelo preço – nem por isso. Mas ficava mal não apontar uma coisa ou outra, nem que seja para mostrar aos leitores que, apesar dos gostos simples, eu só gosto do melhor.
Admito que gosto de um som um tudo nada menos ‘presente’, quiçá com um pouco mais de ‘base de sustentação’. Talvez por isso tenha optado por ‘ perverter’ de alguma forma a pureza geral do som, ao mexer no grave ainda que sem o corromper. Diz-se que os Utopia são perfeitos. Eu diria que, se assim é, então são mais-que-perfeitos.
Olhem, dou-vos um exemplo: Bob Dylan ganhou o Nobel pela qualidade da sua ‘lírica’, leia-se ‘lyrics’. Mas é, de facto, preciso lê-la para a compreender, porque ele come metade das palavras. Ou parece que ‘come’, até se ouvir com um sistema com a resolução dos Elear. Não dá a Dylan a dicção de Sinatra, mas pelo menos percebe-se o que ele diz…
Como é que a Focal sacou este coelho da cartola? Submetendo todos os outros parâmetros técnicos à qualidade do som. Isso torna os Elear num auscultador-mastronço? Bom, são grandes e algo pesados (480 gramas), concede-vos isso. Mas basta colocá-los para sentir o conforto.
A espuma que está em contacto com a cabeça é fofa e macia, do tipo ‘Tempura pillow’. O sistema mecânico articulado de ajuste é simples e funciona bem. E as orelhas – e o som -respiram dentro dos auriculares sem constrangimentos ou desconforto. Os Elear não ‘apertam’, ‘assentam’ e ‘afagam’. Portanto, ‘He ain’t heavy, he's my brother’.
A cúpula do altifalante está montada de forma assimétrica, em suspensão, numa espécie de teia-de-aranha finíssima, que funciona ela própria como diafragma e, ao mesmo tempo, garante que a irradiação frontal e traseira só se possam encontrar ‘fora-da-caixa’. É a isto que eu chamo ‘out-of-the-box thinking and listening’! Curiosamente, os Elear não ‘vertem’ tanto som para o exterior como os Hifiman HE1000, por exemplo, que se ouvem pela casa toda.
Pronto, talvez tenham exagerado no cabo, que é demasiado longo (4 metros!) e pesado. E nem sequer é balanceado. É óbvio que não foram feitos para passear no parque e atender o smartphone on-the-go. Mas para os Elear, tocar todo o tipo de música, isso sim, é um verdadeiro ‘passeio no parque’: dos grandes clássicos ao rock, do jazz ao fado e aos blues, da pop ao funk.
Elear é o melhor ‘dinâmico-aberto’ que eu já ouvi a qualquer preço em qualquer lugar. It’s a (E)clear winner.
Fico à espera do Utopia.
Eu sei que estamos no Natal, e que os leitores têm pouco tempo para ler e ainda menos dinheiro para gastar. São poucos, muito poucos, os que podem investir mil euros num par de auscultadores, por muito bons que sejam. Mas, olhem, quem sabe se o Pai Natal não vai perder a cabeça este ano…
Feliz Natal audiófilo!
Para mais informações: Esotérico, Consultores de Som