Há quem acuse o Hificlube de ser um site comercial (por ter publicidade) e quem ache que não é suficientemente “comercial”, porque nem sequer propõe listas de prendas no Natal e listas de prémios no Fim-do-Ano.
E por que não um autocolante Hificlube – Special One?, arriscam os “marketistas” de serviço.
Não há jornal, revista ou blog que não tenha uma secção de prendas de Natal para ajudar o leitor a gastar o que sobrou do saque fiscal: hifi, video, jogos, fotografia, smartphones, vinhos, viagens, etc.
Qualquer escriba online, que durante o ano se dedica a mandar uns palpites sobre política, futebol ou a puta da vidinha em geral, se torna especialista em múltiplas áreas técnicas: máquina fotográfica tal, imbatível para o preço; auscultadores coisa e tal, qualidade a custo justo; o sistema AV tal é o tal, sem concorrência...
Ou seja, tudo o que os PR das marcas tiveram a amabilidade de lhes colocar na gaveta da secretária ou na mala do carro; enquanto nos fóruns os avatares anónimos se desdobram entre os que têm uma agenda própria e os que têm um sistema próprio que, por definição, é sempre o melhor, até como auto-justificação para o investimento que fizeram...
Nem as revistas especializadas de áudio escapam a esta ditadura do marketing, que hoje é já uma condição sine qua non para a sobrevivência da espécie, leia-se, ter apoio publicitário, porque nenhuma revista vive das vendas, que não cobrem sequer os custos de produção.
O mesmo se passa com os jornais, cuja recente aposta online surge como uma falsa solução para compensar os custos da versão em papel impresso, porque são poucos os que estão dispostos a pagar para ler na rede o que antes era grátis.
Site pago=menos leitores=menos publicidade.
Site grátis=mais leitores=mais publicidade.
Digamos que é o círculo vicioso perfeito. E não deixa de o ser só porque o site pago do New York Times teve algum sucesso. Eu recuso-me a pagar uma mensalidade para ler o site do Público, por exemplo, que me custa tanto como um ano de Stereophile, apesar de saber que a lista de “Produtos Recomendados” da dita revista é o resultado prático de um misto de exercício diplomático e de objectividade técnica e isenção crítica.
Com tanta marca publicitada e produto analisado, o exercício torna-se tão complexo que a única solução é a do proverbial albergue espanhol: deixam-se entrar todos primeiro, e depois logo se vê onde se deitam e com quem...
Se não chegarem as camas, opta-se pelos beliches. Ou seja, criam-se tantas secções quantas as necessárias para ninguém ficar a dormir na rua. Quando a categoria A já estava a rebentar pelas costuras, criou-se A+; e depois virá a A++, ou o triplo A, que as agências de rating atribuiram ao Lehman Brothers, duas semanas antes da bolha rebentar...
Na Europa, onde já havia revistas nacionalistas (o que é britânico é bom) e revistas elitistas (quanto mais caro melhor), depressa se adoptou esta prática com provas dadas, e há também associações que já não seleccionam os produtos para as diferentes categorias, antes criam categorias para os diferentes produtos.
Se há 3 candidatos de 3 poderosas multinacionais ao prémio de “Melhor Sistema AV” , criam-se 3 categorias independentes (apenas a título de caricatura): “sistema AV com Blu-ray”, “AV sem ou com fios” ou “AV verde”. Ficam os 3 satisfeitos. O Blu-ray dá um ar “hitec”; não ter fios tem muito “WAF”; e ser “verde” é politicamente correcto.
Enfim, como escrevi aqui em 2006, os prémios têm a sua utilidade comercial, mas são como a água benta, cada qual toma a que quer, ainda que só não goste deles quem não foi seleccionado para nada, o que, convenhamos, é cada vez mais improvável segundo estes critérios tão...eh...abrangentes...
Num artigo publicado recentemente na Audiophile Review, Why Awards Are Meaningless (Almost), Steven Stone alega que, para a atribuição dos prémios anuais, os PR (Relações Públicas) das marcas são mais importantes que os próprios produtos. Eu que o diga.
O PR então em funções de uma marca famosa, na presença de dois distribuidores portugueses, que não me deixam mentir, confessou-me que um produto seu, que ainda só existia em maquete!, foi nomeado mesmo assim (e acabou por ganhar) um importante prémio europeu, resolvendo-se finalmente o dilema do ovo e da galinha, que já era antes de o ser...
No Hificlube, temo-nos dedicado sobretudo à divulgação do áudio: notícias, reportagens, opiniões. Não temos, hélas, disponibilidade física e psicológica para testar conscientemente um número suficiente de produtos para se poder considerar no final a amostragem como representativa para a atribuição de um galardão qualquer que ele seja.
Em boa verdade, tal como no menu do restaurante para o qual somos amavelmente convidados durante todo o ano, sem termos de nos preocupar com a conta, só escolhemos o melhor para comer e beber, e não aquilo que sabemos de antemão que nos irá provocar azia ou indigestão.
Todos os produtos que constam na nossa secção de Reviews/Testes são assim à partida “Recomendados” pelo Hificlube. Até porque, quando provamos e não gostamos, mandamos para trás e escolhemos outro prato melhor e mais saboroso ou 'sonboroso'...
A vida é demasiado curta para perdermos tempo com pessoas e coisas – sobretudo com pessoas - que nos incomodam e que não temos prazer em ouvir.
No Hificlube, não se vende hifi, vende-se escrita “de borla”, com recheio de leitura técnica e cobertura fina de poesia doce, que pretende suscitar no leitor, não o desejo de comprar, mas o desejo de saber mais sobre o fenómeno áudio, e de ir ouvir para eventualmente comprar.
Porque é ao leitor - e só a ele - que compete essa decisão.
E contudo, ter-nos-ia sido muito fácil publicar aqui e agora com pompa e circunstância “The Best of Hificlube 2013”, apenas com base nos produtos testados em 2013. And everybody would be happy, até porque a lista é genuinamente audiófila, e está de acordo com os princípios de qualidade highend que nos regem.
A verdade é que, em muitos casos, o Hificlube só testou um produto de cada categoria, portanto: branco é, galinha o põe. Quanto aos outros, cai no chão fica amarelo: “subdividem-se”, seguindo-se as melhores “práticas” institucionais, hoje internacionalmente aceites como norma, para distribuir o bem pelas aldeias de aquém e além-mar.
Eis a lista que enviámos para o Pai Natal dos leitores:
Melhor preamplificador
Melhor amplificador stereo
Melhor amplificador integrado
Transístores (5 mil euros)
Transístores (10 mil euros)
Válvulas
Melhor coluna de som
Dinâmica
Electrostática
Melhor DAC
c/ amplificador digital integrado
c/ server integrado
DSD compatible
de mesa
portátil
portátil (de bolso)
Melhor Auscultador
Dinâmico (convencional)
Isodinâmico (planar)
Melhor Produto Lifestyle
O Hificlube deseja a todos os leitores e anunciantes um Bom e Santo Natal.
E espera que em 2013 tenha contribuído para promover o gosto pelo áudio de qualidade junto da comunidade audiófila.
Esta foi a lista de prendas para os leitores que enviámos ao Pai Natal. Pode ser que lhe caiba alguma no sapatinho...
Quanto a 2014, a Deus pertence e ao Tribunal Constitucional.