JVH foi aos concertos do palácio para ouvir e depois contar tudo em vídeo 4K. Depois das 'Cavalariças', seria de pensar que se 'ía de cavalo para burro'. Olhem que não, olhem que não...
Abrimos com a Delaudio, segue-se a OnOff, Smartstores, Imacústica II, My HIFI HOUSE e o que mais se verá e ouvirá.
Palácio – Edifício principal
Sala Independência - Delaudio
O nome da sala não podia ser mais apropriado. Há uma certa ‘independência’ em relação ao ‘mainstream’, na forma como Delfim Yanez se relaciona com o hifi e a música.
Poucos teriam a coragem de, num show audiófilo, tocar CDs de todos os géneros musicais, muitos comprados a €1 na feira da Ladra e no mercado de usados. É preciso ter muita confiança no sistema. Por outro lado, Delfim não mexeu em equipa que ganha. As Monitor Audio PL500 não são uma novidade, já tinham sido apresentadas no Audioshow 2016. E que bem que estavam a tocar alimentadas por um integrado Pass Labs INT-250 (ler aqui teste do Pass INT-150). Digamos que dos ‘grandes sistemas’ apresentados no Audioshow 2018 este é o mais acessível. E nem por isso é o menos apetecível.
...registos médios são claros, muito transparentes, favorecendo a envolvência do ouvinte no processo musical em curso...
A imagem estereofónica revelou-se ampla em todos os planos, incluindo a altura, com todos os intervenientes em palco muito bem focados. O tweeter de fita é explícito e informativo sem nunca roçar a vulgaridade da sibilância. Os registos médios são claros, muito transparentes, favorecendo a envolvência do ouvinte no processo musical em curso. E o grave (com um ‘cheirinho’ de um sub da REL) nunca se incompatibilizou com os maus modos da sala.
Direi sem pudor que este foi o melhor som que já ouvi de umas Monitor Audio PL500, a que não é alheio o contributo do V-Acoustics Master Clock, que confere coerência temporal – e musical – a todos os discos, mesmo aqueles que há algumas décadas nos soavam cheios de ‘digitalite’.
...este foi o melhor som que já ouvi de umas Monitor Audio PL500, a que não é alheio o contributo do V-Acoustics Master Clock...
Como diz Delfim Yanez, a culpa não é dos discos, é do equipamento que utilizamos para os tocar. O que nos remete para a actual possibilidade de apreciar a história da música sem receio de ferir ouvidos mais sensíveis…
Ou para parafrasear o slogan da Delaudio: primeiro a música, depois os sons…
A pequena amostra musical que vos oferecemos em vídeo é sintomática: quem se lembraria de tocar Les Paul e Mary Ford num hifishow?! Ou ‘O Trovador’, de Verdi, que pode criar muitas dificuldades a um sistema menos capaz? Listen and enjoy!
Sala Galveias - OnOff
Numa sala que parecia a Assembleia Geral da ONU do áudio, onde tinham assento equipamentos de muitos dos principais distribuidores de áudio em Portugal, a OnOff colaborou com a SupportView para nos apresentar um clássico dos anos 70: as Tannoy Arden.
As Arden são o modelo maior da colecção Legacy, apresentada no Highend Show, de Munique, e composta ainda pelos modelos Eaton e Cheviot. Pelos padrões actuais de design, trata-se de um ‘caixote’ com um único altifalante dual-concêntrico, o ex-libris da Tannoy. Não se pode dizer que são bonitas, mas com as grelhas colocadas passam bem por uma peça de mobiliário artesanal, fabricada manualmente, como o mesmo carinho, talento e paciência que os escoceses dedicam ao uísque. E com um som que 'embeda'. Eu sei, porque já visitei a fábrica e vi com os meus próprios olhos que nada é deixado ao acaso.
A grande vantagem das Arden, que são do tipo reflex (ducted triple port) – e bem assim de todas as Tannoy que associam uma unidade dual-concêntrica a uma corneta interior simplificada – é a sensibilidade ou eficiência: 93dB! O que significa que colocam o ar em movimento dentro de uma sala ampla com apenas meia-dúzia de watts. Daí que seja comum associá-las a amplificadores a válvulas, como foi o caso aqui, com o Unison Research. Um excelente casamento.
...as vozes soam limpas e inteligíveis, os pianos sonoros e ´percutivos´, como é da sua natureza, com excelente reprodução dos transitórios...
Outra grande vantagem reside no facto de o altifalante dual-concêntrico favorecer a audição em campo próximo. Ou seja, ao contrário de outras colunas com muitos altifalantes que exigem ‘distância’ para soarem integradas, as Tannoy Arden soam bem a qualquer distância.
O enorme cone do médio-grave é fabricado em polpa de papel e não é isento de alguma coloração, apesar de tudo benigna, pois confere calor ao som. Contudo, a coerência de fase e a forma como projectam as vozes e instrumentos, recriando uma imagem estereofónica muito estável e sólida, compensam bem algum eventual desvio tímbrico. As vozes soam limpas e inteligíveis, os pianos sonoros e ´percutivos´, como é da sua natureza, com excelente reprodução dos transitórios; e as grandes orquestras são acomodadas confortavelmente no enorme palco sem atropelos ou confusões.
A saída e a pendente dos ‘agudos’ pode ser afinada a gosto, no painel, bastando para isso mudar a posição de um parafuso dourado. A qualidade do grave é muito influenciada pela proximidade do soalho que, neste caso, vibrava e ressoava, afectando a definição. No tempo do Marquês, não havia hifi, a orquestra ía lá tocar a casa...
O resultado final, contudo, é muito melhor que a soma das partes. Gostei. E fiquei a conhecer Helder Bruno, um intérprete de música portuguesa muito interessante. E só incluí um curto excerto de 'I've got you under my skin', com a orquestra Chris Potti, para poder terminar com palmas...
Aqui fica um pequeno aperitivo em vídeo:
Foyer Beau-Séjour - Smartstores
Fazendo jus ao nome, a SmartStores (em associação com a Esotérico) optou por criar um espaço aberto, aproveitando o facto de a sala Beau-Séjour se poder transformar em área de passagem, que permitia o fluxo contínuo de pessoas.
...após anos a lutar contra a má acústica daquela que é mais bonita sala do audioshow, Alberto Silva atirou a toalha ao chão e acabou por ganhar o combate...
As pessoas gostam desta liberdade de circulação, de poder ‘dar uma volta’ sem compromisso, ouvir um sistema aqui, um par de auscultadores acolá, em vez de se sentarem a ouvir um programa pré-determinado e olhar para o vazio, numa sala escura. Se tem dúvidas ou questões, pergunta; se não tem circula, dando espaço a outros.
Ao mesmo tempo, a SmartStores pode expor toda a sua vasta gama de produtos das dezenas de marcas que distribui, apostando sobretudo no áudio acessível, sem esquecer a televisão e, claro, o highend.
A dar música ao espaço – e que bem que estava a soar! – um par de Focal Kanta, alimentadas por um Naim Uniti Nova, que analisamos recentemente para o Hificlube aqui. A versão mais simples, o Uniti, foi também testado aqui.
Gostei do ambiente de passeio dominical, do interesse demonstrado por muitos casais e até crianças. Embora, quer queiramos, quer não, o futuro vai ser a mobilidade digital e o streaming.
Estamos a assistir às últimas manifestações do culto audiófilo, porque o mundo pula e avança nas mãos de uma criança. Como o adorável Miguel, que surge na parte final do vídeo, bem mais interessado no telemóvel da mãe, que no áudio que o rodeava…
Nota: Hificlube agradece a autorização da mãe do Miguel para o captar em vídeo, e deseja-lhe um futuro risonho e cheio de música, mesmo que seja via smartphone...
Sala St. Catarina – my HIFI HOUSE
Carlos Moreira, da my HIFI HOUSE, apresentou no Audioshow 2018 algumas das marcas de que é revendedor, em colaboração com a Sound Pixel Planet, de Espanha: Moon, by Simaudio, Dali, Audeze, Grado, entre outras de grande prestígio audiófilo.
No corredor de acesso à Capela, expôs e demonstrou sobretudo auscultadores, com amplificação Moon Neo Ace, Emotiva A-100 e Keces S3, explorando o som do silêncio, não apenas por respeito religioso, mas como forma de propor o respeito pelo próximo, ou seja: os vizinhos, que são os que mais sofrem com os excessos audiófilos.
…os auscultadores são uma forma de propor o respeito pelo próximo, ou seja: os vizinhos, que são os que mais sofrem com os excessos audiófilos…
Dentro da sala, Carlos Moreira provou que não perdeu a mão para afinar um bom sistema. Em poucos metros quadrados, conseguiu montar um sistema de base Moon/Dali, com as excelentes Epicon a demonstrar à saciedade que o som nórdico não tem de ser frio e/ou analítico. João Gilberto, Stan Getz e Astrid Gilberto também ajudariam a derreter o gelo - se gelo houvesse. Tudo o que ouvi soou musical, sem perda de detalhe, sentido rítmico e com boa riqueza harmónica. Ouvi, claro, muito mais do que ficou registado, devido a uma arreliadora falha das baterias do meu gravador digital. A primeira faixa do vídeo tem som directo; a segunda foi dobrada com som captado directamente na sala, sem qualquer processamento posterior.
Mesmo assim, creio que, pela amostra junta, este é um sistema a ouvir com urgência na my HIFI HOUSE (clique para visitar).
Sala Correio-Mor - Imacústica
As colunas Magico e os amplificadores Constellation Audio nasceram um para o outro: as Magico são jovens, rebeldes, efusivas e alegres e têm um corpo atlético, rápido e elástico, adaptando-se a todos os géneros musicais; os Constellation são poderosos mas diplomáticos, só gostam de usar a força quando ela é realmente necessária, gostam dos jogos harmónicos da retórica e da nuance, e deixam brilhar as colunas, mantendo-se imperturbáveis independentemente das dificuldades do percurso musical e das negociações rítmicas (oiça-se Marcus Miller).
Não é por acaso que, nos shows, por esse mundo fora se apresentam quase sempre juntos e felizes. Com as Wilson Audio, por exemplo, já gosto mais de Dan D’Agostino. São gostos, dizem…
A Constellation é relativamente recente, mas já é uma estrela em ascensão no universo do highend. Também é verdade que aqui, a Imacústica utilizou o mais poderoso dos novos Centaur, de 500 W, que já pede meças ao magnífico Hercules.
Claro que os preços da electrónica Constellation são muito elevados, quase inacessíveis. Mas a Constellation tem séries mais ‘económicas', como os Inspiration 1.0, que testei, em 2015, para Hifi News.
A total ausência de colorações, primeiro estranha-se, habituados como estamos ao ‘som da madeira’, depois entranha-se...
Quanto às Magico, são um gosto adquirido. A total ausência de colorações, primeiro estranha-se, habituados como estamos ao ‘som da madeira’, depois entranha-se. Há quem as ache secas e desprovidas de sentimentos. Nada de mais errado. Oiçam Carlos do Carmo cantar ‘Lisboa que Amanhece…’, acompanhado ao piano pelo malogrado Bernardo Sasseti, e vão perceber tudo…
Costuma dizer-se que em equipa que ganha não se mexe. Pois ei-la: dCS/Innuos/Constellation Audio/Magico/Nordost e, claro, Ricardo Polónia, porque uma boa apresentação é como um passe em profundidade para golo certo…Grande som!
Stay tuned (continua)
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