Adam Shaw-Cotterill, da Audioquest, veio a Portugal fazer uma palestra sobre o poder de Niagara.
‘O que é que faz um inglês, em Portugal, a falar sobre cabos americanos?’. Foi assim que o simpático e entusiástico Adam abriu a sua palestra sobre a Audioquest, um dos maiores fabricantes de cabos dos EUA, num inglês irrepreensível.
Sempre animado e bem-disposto, foi num estilo também bem-humorado que nos levou desde o nascimento da Audioquest, nos anos oitenta, em Irvine, no sul da Califórnia até aos nossos dias, com o lançamento da linha Storm de cabos de corrente e dos condicionadores Niagara de corrente de sector.
Adam é um jovem e, enquanto o ouvia, mergulhei na memória do tempo, quando João Cancela se tornou distribuidor da Audioquest e me apresentou Bill Low, em Las Vegas, que falou comigo duas horas seguidas sobre a ‘ciência dos cabos’, durante um pequeno-almoço bíblico que acabou já depois da hora do almoço. What happens in Vegas...
Provavelmente Adam ainda não teria nascido, ou era demasiado novo para saber o que era a paixão pelo áudio e a obsessão pelos cabos, um ‘campo minado’ de opiniões contraditórias e de polémicas intermináveis. Trinta anos depois, ainda cá andamos todos: o Bill, o Cancela e eu, pelo que talvez os cabos sejam mais importantes para o desempenho de um sistema de som do que a vã filosofia dos ‘não-crentes’ pode alguma vez imaginar.
Na altura, a moda eram os cabos de ligação e de coluna. Falava-se pouco de cabos de potência (sector) ou de condicionadores. Até porque, pensando bem, que importância pode ter um metro de cabo colocado no final dos milhares de quilómetros de fio de cobre manhoso que nos fornecem a electricidade ao domicílio?
Pois é esse exactamente o problema: a rede eléctrica, além de antiga, é colectiva, e chega-nos a casa cheia de ‘lixo’ que foi acumulando a montante, o nosso e o dos outros, a que se junta a contaminação por rádio frequência que os cabos ‘apanham’ como antenas. Assim, um bom cabo de sector pode ter mais influência na qualidade do som que um cabo de ligação ou de coluna, por absurdo que isso possa…eh…soar.
Para resolver parte deste problema, Adam apresentou a linha Audioquest Storm, de cabos de potência, composta pelos modelos: Thunder High Current, Tornado High Current, Hurricane High Current, Dragon Source/High Current. Como o nome indica, os ‘high current’ podem ser utilizados com fontes ou amplificadores de potência e o ‘source’ apenas com fontes.
Para eliminar os problemas associados aos cabos que transportam corrente alterna, a Audioquest utiliza materiais de qualidade como cobre de elevada pureza, banhado a prata no caso dos Dragon, e tecnologia complexa de enrolamento que ajuda a eliminar o ruído de modo comum, além de polarização activa do dieléctrico para garantir capacidade constante a todas as frequências.
Contudo, nas grandes cidades o ‘lixo’ no sistema eléctrico é de tal ordem, a que se acrescenta o ‘lixo’ doméstico que o frigorífico, a televisão, o router, etc. introduzem no sistema que, por vezes, é preciso uma solução de limpeza radical. É aqui que entram em acção os condicionadores/filtros de corrente Niagara concebidos pelo génio de Garth ‘Power’, perdão Powell, que foram apresentados e demonstrados nas versões 1000, 5000 e 7000, sendo este último um ‘tour-de-force’ tecnológico (o preço de cerca de 10 mil euros fala por si) que além de ‘filtrar e linearizar a corrente de sector’ tem capacidade para alimentar os amplificadores com picos de corrente de até 90 amperes!
Os leitores interessados em compreender melhor com funcionam os Niagara têm aqui toda a informação técnica necessária. Claro que a teoria pode ser muito interessante e bem fundamentada, mas não serve de nada se não for possível obter resultados práticos audíveis. Pelo que se passou à audição de alguns excertos musicais, com e sem a inclusão dos filtros/condicionadores Niagara nos sistemas.
Primeiro, no auditório dois, com um excerto de ‘Angel’, do álbum ‘Surfacing’ de Sarah McLachlan, com um sistema NAD com colunas Dynaudio 40 Anniversary, o primeiro par chegado a Portugal, depois da apresentação oficial no Highend 2017;
e depois no auditório principal com electrónica Electrocompaniet e colunas Focal Sopra, com um excerto de ‘Hanging Tree’, de L.E.J., do álbum ‘En attendant’.
A título de curiosidade, o som das gravações em vídeo foi captado em directo com o microfone interno da própria câmara (de muito má qualidade). Fica, pois, a ressalva de que aquilo que se ouve aqui não é mais que uma má ilustração do que se ouviu lá, pelo que fica o convite a todos os leitores para uma audição pessoal e ‘in loco’, ou em casa se possível.
Mesmo assim, ouvem-se algumas diferenças, sendo as mais óbvias as seguintes: eliminação da aspereza na voz, que emana de um fundo de silêncio mais negro, logo mais repousante e cativante; melhor controlo e definição do grave; imagem mais sólida e focada, melhor tonalidade, contraste e textura.