Num curto período de tempo, testei para o Hificlube e para a Hifi News três ‘RipNAS streamers’: o excelente Innuos Zenith II, o luxuoso Metronóme MC1 (teste a publicar na edição de Agosto 2017 da HiFi News) e, agora, o Bluesound Vault 2, que é o mais acessível de todos e cumpre com garbo e competência exactamente as mesmas funcionalidades.
Autosuficiente
Não vou dizer que a qualidade é a mesma, pois tanto o Zenith II como o MC1 são modelos de nível audiófilo, mas para a utilização no dia-a-dia da maior parte dos leitores o Vault 2 é quanto basta. Mais: tem conversão digital integrada, algo que nenhum dos outros tem, o que significa que é autosuficiente. Basta um par de auscultadores e não precisa de mais nada para usufruir de todas as vantagens de um Music Server, embora, claro, o possa ligar ao seu sistema hifi ou a um par de colunas activas pela saída RCA variável ou fixa.
O sistema operativo BluOS do Vault 2 está bem concebido e é razoavelmente intuitivo, depois de um curto período de ‘familiarização’ (depende muito da sua ‘intuição’). Faça como os miúdos: em vez de ler o manual, vá clicando aqui e ali até perceber para que serve cada ícone.
A Bluesound não é mais uma marca anónima caída do céu. Faz parte do grupo canadiano Lenbrook, que engloba também a PSB e a NAD, tudo marcas distribuidas em Portugal pela Esotérico/Smartaudio.
O Vault 2 é um dos seis produtos da linha Generation Two, concebida para o ‘streaming’, que gira à volta do processador Dual-Core ARM® CORTEX™ A9, 1Ghz e do sistema operativo BluOS, composta por: Node 2 ‘wireless music player’, Powernode 2, ‘amplifier and streaming music player’, Pulse 2 e Pulse Mini ‘all-in-one streaming player’ e Pulse Flex ‘all-in-one portable streaming player’.
Nota: o processador é muito poderoso e ‘no silêncio da noite’ deixa-se ouvir como um ruído mecânico de baixo nível.
Diário de um audiófilo
Um ‘music streamer’ é como um diário, no qual vamos registando as experiências musicais passadas e actuais. Assim, em qualquer momento do futuro, podemos abrir uma página e ‘reler’ uma faixa, ou ‘desfolhar’ um disco que nos está mesmo a apetecer recordar, algo que, de outro modo, nos obrigaria a ir vasculhar no caos da nossa ‘biblioteca’ de sons.
Se, como eu, tem a sua música ‘espalhada’ por pilhas de CDs, no seu PC ou em discos rígidos, ‘pens’ e NAS externos, além de ‘playlists’ da Tidal ou da Spotify, o Vault 2 pode ser muito útil.
Com o Vault 2 pode ‘ripar’ toda a sua colecção de CDs (em FLAC, WAV ou MP3 se preferir), juntar toda a outra música ‘desmaterializada’ guardada em ‘memórias’ nos formatos MP3, AAC, WMA, OGG, WMA-L, ALAC, OPUS; ou em alta resolução FLAC, WAV, AIFF e MQA(!) com frequências nativas até 192kHz a 16 ou 24 bit (não é compatível com DSD) e ainda as suas playlists da Tidal e Spotify. Ou seja: o Vault 2 guarda tudo em 2TB de capacidade de armazenamento e organiza os ficheiros de todas as origens para você não perder tempo à procura do que lhe apetece ouvir num dado momento.
Nota: ‘ripar’ um disco é um processo automático e algo lento (entre 6 e 10 minutos). Isso deve-se ao facto de o Vault 2 fazer várias ‘passagens’ para verificação de erros antes de ‘guardar’ o disco. Em WAV, a cópia e o original são idênticas excepto no nível do som.
E se tudo isto já não bastasse, oferece ainda ‘free internet radio’ e ‘cloud services’: WiMP, Slacker Radio, Qobuz, HighResAudio, JUKE, Deezer, Murfie, HDTracks, Spotify, TIDAL, Napster, Microsoft Groove (with OneDrive), Classics Online, KKBox.
Nota: em Portugal, o acesso a alguns deste serviços é limitado ou mesmo interdito.
Pronto, admito que não experimentei esta última vertente, apenas ‘ripei’ alguns discos para avaliar a qualidade da cópia, ouvi dezenas de ficheiros PCM e MQA que tinha guardados no meus NAS Synology, no PC ou em discos rígidos e ‘surfei’ os MQA Masters da Tidal.
Nota: o Vault 2 é compatível com MQA mas não tem nenhum led ‘azul’ para indicar que se está a ouvir um ficheiro ‘Master Authenticated Audio’. Contudo, essa indicação é visível na aplicação.
Para o Synology e a Tidal bastou fazer a ligação via Ethernet ao router comum. O Vault 2 permite ouvir música com ou sem recurso ao PC. Para os discos rígidos e as ‘pens’ utilizei a entrada USB.
O Vault 2 tem conversão D/A própria que soou sempre agradável e fluída. Não terá a resolução dos DACs da iFi Audio, como o excelente iDSD (ver galeria de Artigos Relacionados em baixo), que utilizo como referência quotidiana, mas como ‘bónus’ é excelente.
Aliás, num aparelho que tem tudo-e-mais-alguma-coisa, eu acho que a Bluesound podia ter incluído também uma saída USB para se poder ligar o Vault 2 a um DAC externo como o referido iDSD para quem quer ‘ir um pouco mais longe’.
Na dúvida, opte por Toslink
Mas tem saída digital coaxial para ligação a DACs externos, incluindo o iDSD, embora com a habitual limitação de 192/24.
Depois de comparar, cheguei à conclusão que o DAC do Vault2 chega bem para a encomenda. Tem um carácter próprio que se ‘instala’ no processo musical como um ‘filtro de doçura’ mas o resultado final é muito agradável de ouvir.
Eu aconselho a não pôr de lado a ligação Toslink, apenas porque há quem diga que tem mais ‘jitter’: a redução de ruído de interferência eléctrica compensa bem. Experimente ambas e decida por si. Ou sirva-se do Vault 2 ‘ao natural’...
O Vault 2 é um dos ‘servidores de rede’ do tipo ‘ripNAS’ mais completos e baratos do mercado. Não será um ‘produto audiófilo’ mas para a utilização no dia-a-dia é quanto basta, pois muitas vezes a ‘presunção e água benta audiófila’ custa-nos os olhos da cara e não traz vantagem nenhuma para os ouvidos, apenas para o ego...
Produto: Bluesound Vault 2 Music Server/Streamer
Preço: 1 249 euros