O NAD M10 segue o lema dos Mosqueteiros do Rei: um-por-todos, todos-por-um, enquanto intérprete principal de um sistema BluOS, ao qual basta juntar um par de colunas.
O NAD M10 só agora me chegou às mãos, porque o fabricante entendeu por bem que ele devia primeiro fazer a via sacra das revistas associadas da EISA. Isto normalmente significa que já era Prémio EISA 2019/2020 antes de o ser, o que sempre ajuda a vender, pois o preço de 2499€ coloca-o num patamar elevado, a par de concorrentes igualmente prendados como o Naim Uniti Atom (2449,99€), ou muito acima de outros tudo-em-um como o Marantz Melody (800€).
A NAD sempre foi acessível mas nunca foi ‘barata’, o que nunca a impediu de ser uma das marcas mais vendidas e galardoadas do mercado de áudio mundial e de se tornar icónica, junto de jovens (e menos jovens) aspirantes a audiófilos
Companheiro de viagem
A NAD esteve sempre presente ao longo de toda a minha carreira de crítico de áudio. Aliás, o primeiro artigo que publiquei na imprensa nacional generalista, em 1983 (!), tinha o título ‘Um Som DaNADo’ e era sobre os amplificadores NAD e a sua filosofia, do qual transcrevo alguns excertos:
‘A NAD foi a primeira marca europeia a tentar fazer frente aos japoneses no seu próprio terreno: o hifi acessível, com uma filosofia muito especial de “despojamento material”, dir-se-ia quase mística.
Os NAD nunca foram bonitos, sempre tiveram um ar vagamente militar, do tipo forte e feio - uma ideia que a opção pela cor verde-azeitona só vinha reforçar. O NAD é um Jeep Willy, da Segunda Guerra Mundial, e não um daqueles jeeps maricas de agora com pintura metalizada, jantes de alumínio e estofos de pele, que nunca se viram com lama pelos joelhos.’
O segredo da NAD reside no “motor” preparado para resistir às duras batalhas do dia-a-dia com uns “cavalos” extra, leia-se, “watts”, sempre que o terreno musical se mostra mais difícil.
Para controlar os jovens “condutores”, que gostam de ouvir a música a abrir e queimam os
tweeters das colunas como quem come pipocas no cinema, foi integrado um sistema de defesa comutável (pode desligá-lo), designado por soft clipping ‘
NAD continua a ser sinónimo de amplificador macho e, dizem elas, os homens não se querem bonitos. Felizmente, digo eu...’.
Evolução na continuidade
Passados quase 40 anos, a NAD tem a mesma filosofia de base. Mas evoluiu no design: a caixa do M10 é em alumínio e acrílico; e, claro, acompanhou a enorme evolução tecnológica, sobretudo na área digital, que responde agora a todas as solicitações dos tempos modernos: extrema conectividade, streaming, controlo total por touchscreen ou App via telemóvel e até comando por voz (Alexa, Siri, não testado).
…o mito NAD de ‘a força esteja contigo’ continua lá, e o M10 é o tudo-em-um com mais potência disponível por euro gasto…
O mito NAD de ‘a força esteja contigo’ continua lá, e o M10 é o tudo-em-um com mais potência disponível por euro gasto, assente na utilização de módulos Hypex NCore de amplificação em Classe D, actualmente a mais eficaz do mercado.
Nota: no final do artigo pode abrir o pdf NCore Technology White Paper by Bruno Putzeys sobre a tecnologia de amplificação NCore.
E não me refiro à potência declarada de 100W/8/4 ohms. O M10 ‘dobra’ sobre 4 ohms e na prática a sensação que temos é a de um amplificador ‘sem limite de potência’, embora a PSU esteja regulada para impor um ‘limite electrónico de bom senso’, como todos os equipamentos que utilizam módulos nCore, a título de exemplo: as colunas activas Kii Three. Nota: e aquece como elas.
Se precisar ainda de mais potência, pode ligá-lo ‘em ponte’, e juntar outro M10, numa configuração duplo-mono. Não vejo (oiço) necessidade e o custo da ‘ponte’ iria colocar o sistema a par de concorrentes muito fortes na gama de preços de €5000.
…o NAD M10 toca BluOs, e a App de controlo é mais user friendly que a de muitos modelos de marcas highend famosas…
Portanto, se quer saber qual a razão de o NAD M10 custar mais caro que os outros concorrentes que fazem exactamente os mesmos ‘truques’ digitais, a potência limpa disponível pode ser uma delas. Mas há mais: o NAD M10 toca BluOs como ninguém, e a App de controlo é mais user friendly que a de muitos modelos de marcas highend famosas, e eu sei do que falo. Ah, e é compatível com Roon e MQA.
Posto isto, o M10 funciona na prática como todos os ‘streaming amplifiers’: liga-se à rede doméstica por cabo (preferencialmente) ou wifi e também AirPlay 2 ou Bluetooth aptX HD para ter acesso a servidores de música pessoais (UPnP/DLNA) ou por subscrição (Tidal, Spotify, Qobuz) e a centenas de estações de rádio via TuneIN, ou fontes externas como um leitor-CD com opção por ligação RCA, coaxial e óptica. Por último, tem entrada HDMI para ligar a uma TV e controlar o som a partir do M10 (não testado).
Pode ainda reproduzir ficheiros guardados numa pen, ligando-a na entrada USB A no painel traseiro (é pena não ser no painel frontal).
Nota: inseri uma pen com várias faixas MQA do disco Undercurrents de Amy Duncan, cedido por Alberto Silva, e funcionou perfeitamente reconhecendo, identificando e reproduzindo a codificação MQA. Mas já não reconheceu ficheiros DSD.
Calibração automática
Mas também aqui há duas funções que distinguem o M10 da concorrência. O sistema de igualização automática Dirac Live e a compatibilidade MQA para quem é subscritor da Tidal Hifi/Master.
Instalei a App da Dirac, montei o microfone e corri o programa. Mas não consegui passar da fase de aferição de ‘Volume Calibration’, seguindo-se a selecção de cadeira ou sofá no ponto de audição, porque o programa não assumiu as medidas do microfone e impediu-me de prosseguir.
Nota: A calibração faz-se apenas abaixo dos 500Hz (software grátis). Se pretender calibração Full Frequency, tem de pagar cerca de 99 euros pelo respectivo software. Peça a um dos especialistas da Smartstores/Esotérico para o aconselhar sobre qual a melhor solução para si.
Enquanto analista, compete-me ‘analisar’ tudo, mas não creio que tenha perdido nada, pois este tipo de calibração resulta quase sempre melhor com multicanal (ou num sistema estéreo com subs) e o equilíbrio tonal ideal já tinha sido obtido com o correcto posicionamento das colunas, em configuração desktop com audição no campo próximo. Admito que talvez tenha sido por isso que o microfone não funcionou, pois a esta distância a ‘sala’ fica fora da equação. Aliás, também utilizei os controlos de tonalidade (agudos e graves), que não aconselho, pois a correcção é algo grosseira.
Duelo caseiro
Estava muito curioso para testar o M10, pois pensei que tinha chegado a altura de trocar o meu Naim Unit Atom (não resisti a comprá-lo depois de o testar), também vendido nas lojas Smartstores. Mas continuo a achar que o Atom bate o M10 aos pontos, nos capítulos da construção, design e ergonomia (ah, aquela roda de volume!...), embora o painel frontal não seja do tipo touchscreen.
E até o facto de o M10 reconhecer o MQA da Tidal Masters se torna redundante, pois tanto um como outro processam todos os sinais para uma frequência de trabalho interna de 96kHz/24bit, ainda que sejam também compatíveis com 192/24 (só disponível na saída PreOut).
É no capítulo da potência que o M10 se sobrepõe à concorrência interna e externa e revela o ADN da NAD.
O M10 dá primazia ao corpo do grave, o Atom ao corpo da gama média, mas tocam igualmente bem, apenas com temperos diferentes, e tanto o jitter digital como a distorção harmónica analógica são mínimos e residuais em ambos e por isso são recomendados pelo Hificlube.
É no capítulo da potência que o M10 se sobrepõe à concorrência interna e externa e revela o ADN da NAD.
Se, além disso, pretende integrá-lo num sistema doméstico geral com colunas Bluesound e um Vault 2, então, o M10 é um ‘no brainer’, que é como quem diz: não pense duas vezes!
Nota: para mais informações visite os sites dos distribuidores em baixo e informe-se sobre moradas e contactos.