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Bluesound Node ICON– O Poder do Tempo

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O tempo avança sempre. E o hi-fi, se quer sobreviver, tem de acompanhar a marcha do progresso. A Bluesound sabe disso e responde com o novo Node ICON, um streamer-DAC que pretende aliar a precisão da engenharia digital à experiência auditiva humana, por 1098,99 €.

Mas no áudio digital é o tempo que manda. E é precisamente no domínio do tempo — mais do que no da frequência — que o Node ICON se propõe revolucionar o áudio digital.

Forma e função

O Node ICON é, desde logo, um passo em frente no ‘design’. Sai o plástico mate, entra o alumínio anodizado. O chassis um pouco maior afirma a sua presença. E, finalmente, a Bluesound ouviu os seus utilizadores e instalou um ecrã a cores de 5 polegadas (aprox. 13 cm) (aprox. 13 cm) na frente: uma janela para o universo musical, com capas de álbuns, metadados e até relógio em modo repouso.

No topo, pontifica o conhecido painel de vidro com controlos táteis retroiluminados (muito suscetível a dedadas) com sensor de proximidade, que sempre evita algumas impressões digitais – de dedo. As funções disponíveis são limitadas. E por que não um verdadeiro touch screen frontal único? Como o do Eversolo Play, por exemplo. E, já agora, um botão de volume físico também dava jeito.

O Bluesound Node ICON (em cima) face à concorrência do Eversolo Play (em baixo). O Play tem touchscreen e amplificação de Classe D integrada; enquanto o ICON oferece  saídas balanceadas e dupla saída para auscultadores.

O Bluesound Node ICON (em cima) face à concorrência do Eversolo Play (em baixo). O Play tem touchscreen e amplificação de Classe D integrada; enquanto o ICON oferece saídas balanceadas e dupla saída para auscultadores.

As ligações traseiras são bastante completas e bem distribuídas: saídas analógicas RCA e XLR balanceadas (estreia na gama), saídas digitais ótica, coaxial e USB-A e C, entrada combinada RCA/óptica, HDMI eARC para conexão à TV, saída dedicada de subwoofer e duas saídas de auscultadores de 6,35 mm com amplificação THX AAA, herdada do Node X, discretamente colocadas de cada lado, embora eu aconselhe a não usar ambas ao mesmo tempo. Um verdadeiro hub digital. A entrada HDMI aceita formatos até Dolby Digital 5.1, fazendo downmix para 2.1, de modo a integrar o Node ICON num sistema AV estéreo.

Node ICON - painel traseiro: as ligações são bastante completas e bem distribuídas

Node ICON - painel traseiro: as ligações são bastante completas e bem distribuídas

Dentro da caixa

O Node ICON incorpora dois DAC ESS Sabre ES9039Q2M, em configuração dual-mono, com processamento 24-bit/192 kHz e suporte para DSD256 (com conversão interna para PCM). Os ficheiros MQA são descodificados integralmente até aos 352,8kHz, conforme tradição na Bluesound, embora estes ficheiros sejam cada vez mais raros, agora que a Tidal abandonou o formato. Mas eu ainda tenho muitos.

Os ficheiros MQA são descodificados integralmente até aos 352,8kHz.

Os ficheiros MQA são descodificados integralmente até aos 352,8kHz.

O coração digital é gerido por um processador quad-core ARM Cortex-A53 e o firmware é, claro, o BluOS, uma plataforma com provas dadas e muito funcional. Compatível com AirPlay 2, Spotify Connect, Tidal Connect, Roon Ready, Bluetooth 5.2 aptX Adaptive, Wi-Fi 5, Dirac Live (licença e micro vendidos à parte), e multiroom. Só falta fazer café.

Nota: Menos invasivos que o Dirac são os controlos de tonalidade: graves e agudos. Mas atenção: quando ativados, mesmo a 0dB o volume é reduzido em 6dB.

Aplicação BluOS

A aplicação BluOS é das melhores do mercado. Completa, fiável, intuitiva e com uma curva de aprendizagem suave. Permite tudo: desde criar grupos multiroom a definir crossovers para subwoofers e emparelhar auscultadores Bluetooth ou controlar a luminosidade do ecrã. A navegação entre entradas poderia ser mais user-friendly, mas não compromete. E, quando ligo um disco rígido externo, nem sempre tenho acesso à Library.

O Bluetooth, com aptX Adaptive e função two-way (bidirecional), permite receber e transmitir áudio sem fios com qualidade muito aceitável. Não é lossless, mas anda lá perto. Ideal para ouvir com auscultadores sem fios ao final do dia, ou partilhar uma faixa rápida com um amigo, ou familiar.

O filtro da discórdia

Aqui reside a alma do Node ICON.  Mas é também o seu ponto mais polémico.

A Bluesound integrou um novo filtro digital MQA Qrono d2a, otimizado para o DAC Sabre ESS utilizado. Trata-se de um filtro de pendente lenta, com um mínimo de ringing prévio, otimizado para preservar a coerência temporal, em detrimento da supressão total de ruído ultrasónico. A Lenbrook, que detém tanto a Bluesound como a NAD, comprou a MQA em 2023, e este Node ICON é um dos primeiros produtos a pôr essa ideia em prática. Nota: ler em baixo em pdf: ‘Digital With an Analogue soul’

Nas medições laboratoriais, o Node ICON apresenta ruído ultrasónico acima da banda áudio, porque o filtro MQA não é do tipo brickwall ou fast linear phase de pendente rápida. O ruído não se ouve, mas é possível medi-lo. Contudo, o filtro tem a vantagem de ser temporalmente mais coerente e agradável ao ouvido. E há quem diga que soa melhor. Eu digo. E esse é o cerne da questão: engenharia versus emoção; medidas versus música.

Os analistas ditos objetivistas insurgem-se — e com alguma razão — contra a escolha de um filtro que pode teoricamente causar problemas em amplificadores (e colunas) sensíveis a ultrassons. Mas há também críticos e utilizadores (sou um deles) que ouvem melhor foco, mais palco, mais presença. O som ganha fluidez, perde aspereza. E nenhum amplificador ou coluna que testei com o ICON sofreu com o ruído ultrasónico de quantificação. Zero.

A escolha da Bluesound é intencional e não reversível, pois não se pode comutar para um de sete filtros digitais diferentes como a concorrência, pelo menos até haver uma atualização de firmware. O ICON e o filtro MQA são indissociáveis. Ou será que não?

O Node ICON oferece uma experiência auditiva rica, emocionalmente satisfatória, temporalmente coerente, com funcionalidades raras num só aparelho.

Uma porta de saída

Para quem não concorda com a filosofia do filtro MQA Qrono, ou simplesmente prefere confiar a conversão digital-analógica a um DAC externo da sua preferência, eu descobri uma solução simples e eficaz: ativar o modo Digital Passthrough nas definições do Node ICON.

Este modo envia o sinal digital original sem qualquer processamento adicional — incluindo sem a aplicação do filtro Qrono — através das saídas coaxial, ótica ou USB. Ao escolher essa via, primeiro vai ter de optar pela saída fixa do volume digital e pela desativação dos controlos de tonalidade, que funcionam no domínio digital.

Streamer de alta-qualidade

Assim, o Node ICON funciona como transporte puro, limitando-se a fazer o que muitos streamers não conseguem fazer com igual eficiência: entregar um fluxo digital limpo e estável, com excelente compatibilidade e sincronização, à altura de DACs high-end externos. Ou seja, pode funcionar apenas como streamer de elevada qualidade.

Bluesound Node ICON+LAB12 Mighty, um casamento exótico, com vasta prole musical.

Bluesound Node ICON+LAB12 Mighty, um casamento exótico, com vasta prole musical.

No meu caso, liguei o ICON a um Luxsin X9 (prévio/headamp/DAC) e este a um amplificador LAB12 Mighty ou a um par de auscultadores Austrian Audio The Composer. Depois só precisei de ativar/desativar o modo ‘Passthrough’ na App para fazer uma comparação A/B.

Vale a pena tanto trabalho? Num teste cego, se tivesse que colocar a cabeça no cepo, eu diria que não ouvi nenhuma diferença substancial, por precaução. A haver diferenças audíveis, nesta comparação A/B empírica, elas até são a favor do filtro MQA do ICON. Portanto, deixe estar como está e aproveite o ICON tal como ele é à saída da caixa.

Conclusão

A Bluesound quis mostrar que sabe fazer um Node melhor que os anteriores. Que pode competir com os grandes. E acho que conseguiu. Não é perfeito. Nem é barato. E pode não agradar aos objetivistas mais ortodoxos. Mas oferece uma experiência auditiva rica, emocionalmente satisfatória, temporalmente coerente, com funcionalidades raras num só aparelho.

É um streamer, um DAC, um pré-amplificador digital, um receptor Bluetooth, uma extensão de TV, um centro multiroom. Tudo isto num só chassis elegante e discreto. E soa... bem. Muito bem! Até porque também posso ligá-lo a um amplificador da minha preferência, ao contrário do Eversolo Play, com amplificação, mas sem saída de prévio, ou de auscultadores.

Se acredita que ouvir música é mais do que analisar gráficos e que, na reprodução de música, o tempo é tão ou mais importante que a frequência, o Node ICON pode ser a peça que faltava no seu sistema. É um vencedor!

Ora oiçam:

“Don’t Know Why” – Norah Jones (24-bit/96kHz)

A voz de Norah Jones surge no centro do palco com uma presença quase tátil, como se o Node ICON a resgatasse de um poço fundo de silêncio. A respiração, as pausas, os acordes suaves da guitarra — tudo parece desenhado com clareza, mas sem excessos analíticos. O timing é natural, orgânico, com o filtro Qrono a revelar-se um aliado da emoção proporcionada pelas válvulas do LAB12 Mighty, ao preservar o calor da interpretação. O grave do contrabaixo tem corpo, sem se sobrepor, e as notas do piano pairam no ar como bolas de sabão coloridas.

“So What” – Miles Davis (Kind of Blue, 24-bit/192kHz MQA)

Aqui, a magia está nos espaços entre as notas. O Node ICON desenha na sala o estúdio de gravação com o traço de um arquiteto do som: a distância entre os músicos, o eco dos sopros, o murmúrio discreto da secção rítmica. O ataque do trompete de Miles é ágil e límpido, sem agressividade; o som dos pratos dissolve-se no ar como vapor de água e as notas prolongam-se com elegância. A separação instrumental não afeta a coesão tímbrica, impedindo que cada elemento soe isolado do contexto. Aqui, o filtro MQA parece aproximar-nos mais da sessão original de 1959, como se fosse um filtro cinematográfico.

“Everything In Its Right Place” — Radiohead (16-bit/44.1kHz, FLAC)

Mesmo com um ficheiro de resolução “normal”, o Node ICON mostra do que é capaz, revelando os sucessivos véus que compõem a mistura: sintetizadores, vozes distorcidas, quase diabólicas, graves pulsantes. Tudo surge tonalmente equilibrado. E, sobretudo, há ritmo: a batida eletrónica vibra com tensão controlada. Aqui preferi ligá-lo a um Musical Fidelity B1 xi, que é mais cru e tem mais energia e dinâmica que o Mighty e levou as pequenas colunas Radiant Accoustics Clarity 4.2 ao colo até ao altar da música.

 

Informe-se sobre a possibilidade de ouvir o Node ICON integrado no seu sistema na:

Esotérico

Smarstores

Node Icon Cover

O Bluesound Node ICON (em cima) face à concorrência do Eversolo Play (em baixo). O Play tem touchscreen e amplificação de Classe D integrada; enquanto o ICON oferece saídas balanceadas e dupla saída para auscultadores.

Node ICON - painel traseiro: as ligações são bastante completas e bem distribuídas

Os ficheiros MQA são descodificados integralmente até aos 352,8kHz.

Bluesound Node ICON+LAB12 Mighty, um casamento exótico, com vasta prole musical.

‘Digital With An Analogue Soul’

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