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Para batizar os Bathys, a Focal inspirou-se no batiscafo Trieste, o submergível com o qual Jacques Piccard bateu, em 1960, o recorde de mergulho de 10.911 metros. A esta profundidade, dizem, o silêncio é absoluto.
Trata-se dos primeiros auscultadores sem-fios da famosa marca francesa (se excetuarmos os Listen, claro) agora com cancelamento de ruído.
O nome Bathys está assim associado ao silêncio e ao isolamento do fundo do mar, o que, em termos de ‘marketing’, é uma ideia genial para uns auscultadores ANC - Active Noise Cancelling.
Os Bose, por exemplo, são considerados os recordistas do cancelamento de ruído. Mas eu estou mais interessado na qualidade de som que na qualidade do silêncio.
Tonalmente, o som dos Bathys é tão equilibrado, aproximando-se da curva ideal de Harman, que são dos poucos que ouvi que não precisam de ‘ajuda’ no grave, nem de contenção no agudo.
Está disposto a gastar 800 euros nuns auscultadores portáteis circum-auriculares, com DAC, amplificação integrada e cancelamento de ruído eficaz, que podem funcionar com e sem fios durante mais de 30 horas?
Então, não precisa de ler mais nada e pode ir já comprá-los. Funcionam bem, soam bem e, ainda por cima, são bonitos! São tão bons quanto isso…
Mergulho acústico
Mas se é dos que gostam de saber tudo antes de comprar, faça-me companhia durante mais uns minutos e não se vai arrepender, pois eu vou escrever sobre a minha experiência de ‘mergulho acústico’ com os Bathys.
Aposto que, quando os ouvir (e deve ouvi-los antes), vai querer comprá-los. É só colocar na cabeça e mergulhar no trânsito da cidade, como se caminhasse no fundo do mar, com o silêncio à sua volta e a música dentro da cabeça.
Alta pastelaria acústica
Os Focal Bathys apresentam-se numa caixa de papelão branco, com fecho magnético, que me fez logo lembrar uma embalagem de deliciosos Macarons, comprados na Ladurée, uma famosa pastelaria junto à Madeleine, em Paris.
Design Focal
Os Bathys são auscultadores portáteis de tamanho e peso médio (350 gramas) de design Focal inconfundível, com a grelha de proteção exterior perfurada com orifícios ovais em espiral regressiva, inspirada nos Stellia, Clear MG e nos mais recentes Celestee.
Mas agora, no vórtex da espiral, o logótipo é iluminado. Nota: se não quer parecer o ET no escuro, pode reduzir (ou apagar) a luminosidade.
A mola única de aperto lateral, com extremidades extensíveis, está escondida dentro da cabeceira de alumínio, forrada na zona inferior de contacto com tecido de microfibra absorvente, a imitar camurça; e, na parte superior, com pele natural.
As cápsulas são de plástico rígido, mas os suportes e articulações são em magnésio. As almofadas utilizam espuma com memória sendo forradas a pele artificial, que são muito agradáveis ao tato, mas começam a pelar com a utilização intensiva. Ainda bem que são fáceis de substituir.
O ponto único de apoio vertical na cabeça e o aperto lateral moderado da mola, aliados ao peso de apenas 350 gramas, proporcionam excelente conforto por períodos de utilização prolongados.
O conjunto está muito bem equilibrado, tanto em termos mecânicos: extensão e rotação silenciosas; como estéticos: beleza, leveza e robustez. J’adore.
Controlos manuais
No auricular direito (e eu sou canhoto…), estão incrustados os principais controlos manuais, ligeiramente salientes para fácil leitura por tato, sem precisar de os tirar da cabeça: volume, emparelhamento, On/Off/DAC e Voice Assistant; além das entradas para os cabos de Jack e USB-C.
No auricular esquerdo, apenas o controlo ANC: com toques rápidos percorre os 3 modos em sequência: Transparency, Soft e Silent; e com um toque mais prolongado de 2 segundos, ativa diretamente o modo Silent.
Escondidos, dentro dos auriculares, estão o amplificador, o processador DSP e o DAC. O altifalante full-range com diafragma de alumínio/magnésio de 40mm, em forma de M, está protegido por uma rede em tecido e montado com uma ligeira inclinação para favorecer a imagem acústica. Esta unidade foi originalmente criada para o modelo aberto Elear, que me deixou encantado em 2016 (ler teste aqui),
Focal&Naim Control App
O manual é minimalista, mas vem com código QR para aceder à versão ‘online’ mais completa. Aproveite para descarregar a aplicação Focal&Naim, que controla os modos da função de cancelamento de ruído e a luminosidade do LED/Logo.
A ‘app’ também oferece um igualizador de cinco bandas, com apenas dois presets: Home (redução de grave) e Loudness (reforço de grave).
Ligação sem e com fios
Os Focal Bathys são auscultadores fechados, do tipo circumaural, isto se você não for “orelhudo”, caso em que passam a ser parcialmente on-ear, assentando sobre parte do pavilhão auricular, prejudicando a função de cancelamento de ruído e a qualidade do grave. No meu caso, a orelha cabe toda dentro do auricular, ainda que um pouco à justa, e o isolamento é perfeito.
Sendo classificados como “wireless” (Bluetooth 5.1 aptX Adaptive), os Bathys podem funcionar também com-fios, sendo fornecidos dois pares de cabos de 1,2 m para o ligar diretamente ao telefone ou portátil: um cabo simples com terminação por Jack único de 3,5 mm; e um cabo USB-C para Android, por exemplo. É possível ainda utilizar adaptadores USB-C/USB-A para o ligar ao PC e USB-C/Firewire para iPhone (não fornecidos).
DAC interno
Com USB-C, no modo DAC, o Bathys usa o DAC e amplificador internos. Mas, mesmo com o cabo de Jack, o circuito de amplificação continua ativo, o que significa que não é possível ligá-lo a um amplificador externo no modo passivo (Off).
Creio que a Focal pretendeu garantir assim uma qualidade de som homogénea, independentemente do modo de utilização.
Além de lhe permitir atender chamadas telefónicas com muito boa qualidade de voz, o Bathys é também compatível com a Amazon Alexa e a Google Assistant.
O silêncio dos inocentes
A função ANC-Active Noise Cancelling é a cereja no topo deste produto de alta ''pastelaria' acústica francesa: no modo Transparency, deixa passar o ruído ambiente; no modo Soft, há um equilíbrio entre música e ambiente: e, no modo, Silent, tem uma atenuação de 30dB de ruído, com excelente eficácia nos graves (sons constantes de baixa frequência, como motores), mas menos eficaz acima dos 2kHz (vozes e sons agudos).
Não será o silêncio do fundo do mar, mas garante o isolamento suficiente para o ruído à superfície da terra não nos incomodar, enquanto ouvimos música, desde que as almofadas se acomodem bem à sua cabeça em redor das orelhas.
Autonomia de 30 horas
Eu não posso garantir que a bateria dura mais de 30 horas seguidas (ANC ativado), 40 horas com ligação USB-C e 35 horas com a ligação por Jack. Mas já tenho aqui os Bathys há uns dez dias, e ainda não os carreguei. E tenho ouvido duas a três horas de música por dia!
Mas há mais: ando com os Bathys pela casa toda e a única vez que a ligação começou a falhar eu estava a mais de 10 metros do telefone e tinha três portas e outras tantas paredes (de pedra) pelo meio! Nunca um equipamento portátil conseguiu isto aqui em casa via Bluetooth.
E o som?
Bom, sejamos honestos: os Bathys não são os Utopia ou os Stellia. Até porque estes, ao contrário dos Bathys, podem ser ligados a amplificadores dedicados de qualidade high-end, e não estão limitados pela performance do Bluetooth 5.1 Adaptive.
Nota: o circuito de amplificação interna do Bathys está sempre ativo, mesmo com ligação por Jack. E com ligação USB-C, também não é possível fazer bypass ao DAC interno.
O texto e o contexto
Portanto, quando eu digo que são os melhores auscultadores portáteis que já ouvi, refiro-me aos Bathys no contexto de audição sem-fios e cancelamento de ruído.
Via Bluetooth, o som é carnudo; o grave tem boa textura e é informativo; médios presentes e bem projetados e um agudo doce com um piquinho na oitava final, que só lhe dá mais vida. Ora isto é muito raro ouvir via Bluetooth e com ANC ativado.
Há, contudo, uma clara diferença entre o som sem-fios via Bluetooth (24-bit/48kHz) e o som com-fios (ligação USB-C) através do DAC/amplificador interno (24 bit/192kHz). O grave perde expansão (bloom) mas ganha mais tensão e definição; e os médios revelam mais claridade.
Os Focal Bathys são os melhores auscultadores sem fios que já ouvi.
Bluetooth vs USB-C / DAC
Com a ligação USB-C, os melhores resultados obtêm-se utilizando uma aplicação que faça bypass ao processador do seu telefone; ou, então, faça como eu que os alimentei com o sinal digital bit-perfect do Rose RS520 via cabo USB-A/C (reconheceu os Bathys imediatamente).
Já o som da ligação de cabo com jack é muito semelhante ao da ligação Bluetooth, uma vez que ambos utilizam o mesmo circuito de amplificação.
Os Bathys não oferecem a imagem ampla e transparente dos melhores exemplares abertos, mas a função deles é isolar e não integrar o ouvinte no espaço envolvente.
Mar chão
São dos poucos auscultadores que eu não me senti tentado a ‘igualizar’. Embora o habitual pico aos 8kHz esteja lá, é compensado pelo judicioso 'enchimento”'centrado nos 50Hz, e acabei por gostar mais de os ouvir 'flat' com todos os géneros musicais. Os Focal Bathys são os melhores auscultadores sem fios que já ouvi.
É verdade que não ouvi muitos, confesso, pois prefiro os planar-magnéticos abertos com-fios. Mas esses são para ouvir no silêncio solitário da noite, não no bulício social do dia-a-dia.
De ‘Feel’, por Jacob Collier e Lianne Las Havas, aos concertos de violino de Haydn, por Isabelle Faust, passando por ‘Paixão’, cantada ao vivo por Simone (a brasileira) e pelo saxofone soprado de Archie Shepp, tudo me soou agradável e equilibrado, sentado e de pé; parado ou a andar, e até a correr na passadeira do ginásio.
Recomendados sem reservas.
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