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LAB12 “Mighty” MK2 – uma odisseia grega

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Na terra de Homero, onde nasceram os mitos, um pequeno fabricante ateniense insiste em mantê-los vivos. Stratos Vichos apresenta o “Mighty”, um pequeno amplificador a válvulas de Classe A, de apenas 10W, que me inspirou, qual musa grega.

Embarquei, pois, nesta Odisseia, na boa rota para os braços musicais de Penélope, guiado pela deusa Athena.

Com um preço de €2.310, o “Mighty” não é propriamente um raio lançado dos céus por Zeus para nos destruir as finanças. E convenhamos que chamar ‘Mighty’ (poderoso) a um amplificador a válvulas de 10W pode até parecer irónico, se não mesmo paradoxal. Mas, antes de opinar, é preciso ouvir, porque, tal como os automóveis a gasóleo, a tecnologia de vácuo tem mais “torque”, o que significa que estes 10W pedem meças a muitos amplificadores de estado sólido mais musculados.

Isto para não dizer que já ouvi muitos amplificadores de 100W cuja potência declarada não se traduzia em potência de saída: aceleramos, e aquilo não anda! Já sentiu isso? O “Mighty” responde sempre, mesmo que sofra para lhe agradar. Mas não exagere.

Atenção: apesar disso, Lab12 Mighty MK2 continua a ser um amplificador a válvulas de baixa potência, que utiliza tríodos duplos 6N1P, no andar de ganho e um par de pentôdos EL34 no andar de potência. Portanto, quando puxa pelo volume no prévio, o que aumenta é a sua percepção de potência, logo o seu nível de satisfação, mas não necessariamente a potência elétrica cujo pico é de apenas 150VA.

A dança das válvulas

Quando passei do modo tríodo para o modo ultra linear, mudando apenas a posição de dois pequenos comutadores, ganhei mais músculo, mas não necessariamente maior prazer auditivo. Mais ataque, mais claridade, mais ritmo, mais foco; mas também menos envolvência, menos intimismo e calor humano.

Eu podia ter substituído as válvulas EL34 por KT88 ou 6550 para sacar 15 ou 20W, mas nem me dei ao trabalho de experimentar. As EL34, em modo tríodo, já me enchiam as medidas acústicas, numa sala pequena, com um par das novas colunas Sonus faber Concertino 4G, a 4ª geração de uma lenda.

Artesanato grego

A construção do “Mighty” é artesanal, no bom sentido: cuidada e sólida, com transformadores de saída fabricados por medida em Atenas por Stratos Vichos, com tecnologia FSD – Fine Symmetry Design, que garante que ambos os canais funcionam em harmonia. Dois vuímetros Nissei reforçam o conceito retro, ao mesmo tempo que contrariam a imagem espartana e nua. De facto, o Mighty não tem 'gaiola de proteção das válvulas' que se deve vender à parte, pois os orifícios para acoplação estão lá no chassis.

A passagem do “Mighty” pela minha casa coincidiu com o IMACShow25, onde ouvi um par de amplificadores monofónicos Dan D’Agostino Relentless 800, que debitam 1600W sobre 4 ohms, a atacar um par de colunas Wilson Audio XVX. Assim, quando me sento agora para ouvir um amplificador de 10W cortejando um par de colunas miniatura, tenho que mudar de “chip”, porque são duas realidades diferentes. Mas o cérebro cedo se concentra naquilo que interessa: a música.

Os 12 trabalhos de Hércules

Numa época em que dominam os amplificadores hercúleos e os titãs digitais de centenas de watts, esta criação grega soa quase a anacronismo. Mas o “Mighty” desfaz alguns mitos modernos de que as válvulas estão ultrapassadas (o LP também estava, lembram-se?) ou de que são precisos muitos watts para reproduzir música com qualidade.

O “Mighty” é para quem busca a revelação na música, não apenas o som.

À medida que os amplificadores a válvulas soam também cada vez mais neutros e lineares, o LAB12 “Mighty”MK2 não renega as suas origens e soa como mel escorrendo sobre as notas musicais, sem contudo lhes alterar demasiado o sabor. O “Mighty” é para quem busca a revelação na música, não apenas o som.

Breve relato da audição

A voz de barítono de Fischer-Dieskau surgiu poderosa e como um bafo quente e húmido no negrume do palco, deixando-me inquieto e, ao mesmo tempo, confortável.

Foi aqui que resolvi fazer uma estranha experiência musical: comparar a rebeldia de Bob Dylan com a melancolia de Amália Rodrigues, como sendo duas faces da mesma moeda.

Amália e Dylan

No SACD de Blonde On Blonde, a liquidez morna dos registos médios reproduz a nasalidade arrastada de Dylan, com tal intimismo e realidade, que se ouve na sua voz o resultado dos caracóis de fumo dos cigarros que fumava: Visions of Johanna evolui como um sonho febril, a harmónica rasgando o ar com cristalina precisão, mas com o abraço aveludado das válvulas.

Cada corda da guitarra percutida, cada sílaba sardónica, que sai da boca de Dylan, soa envolta num halo de luz, sem a esterilidade do estado sólido, antes moldada pela alquimia que ocorre nos filamentos incandescentes no interior os tubos de vidro.

E o ritmo de bate-pé da bateria não parece ser perturbado pela ausência expectável de controlo rígido do baixo, conferindo ao som um ritmo dançante, quase de desafio para o baile.

A voz de Amália é como uma relíquia sagrada, embalada num berço de saudade que nos apazigua o coração.

Em Com Que Voz, a voz de Amália é como uma relíquia sagrada, embalada num berço de saudade que nos apazigua o coração.

O tremolo choroso das cordas da guitarra portuguesa é reproduzido em holográfico bouquet, iluminando a sua angústia divina com o reflexo suave das válvulas, que revestem os lamentos do canto com uma dor que ela finge sofrer com arte, mas que deveras sente, como o poeta.

Esqueça o streaming e o Bluetooth

Não, aqui não há streaming, nem Bluetooth, ou sequer controlo de volume. O “Mighty” amplifica sinais analógicos. Só isso. E, mesmo assim, não muito. O suficiente para deixar ouvir a sua voz. E ouvi-lo cantar é um deleite para os ouvidos!…

Quando Alberto Silva insiste que tem um novo produto que eu devia ouvir, já sei que tem de ser algo de muito especial. Quem diria que uma tecnologia antiga ainda tem o poder de me surpreender?...

Últimas palavras

Recomendo o LAB12 “Mighty”MK2 para complementar um bom DAC com controle de volume e saídas RCA, ou alimentado por um streamer Eversolo, sem outra pretensão que não seja ouvir música com prazer pessoal e espírito cívico, isto é, sem gastar muito e sem incomodar os vizinhos. Mas opte por colunas de elevada sensibilidade, se não tem vizinhos e gosta de ouvir música muito alto.

 

Para mais informações:

ESOTERICO

LAB 12 AUDIO

LAB12 Mighty Cover


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